Azaração On-line

Pesquisa sobre paquera em redes sociais revela o que ajuda ou atrapalha

Uma das primeiras conclusões da pesquisa é que pelo menos 48,2% das pessoas usam o Facebook para isso mesmo: azarar

Acorda Cidade

 Inconsolável depois do fim de um namoro, o estudante José Rossoni Rodrigues, de 22 anos e natural de Roraima, foi a uma festa e tomou um porre daqueles. Na volta, sentado no banco do carro do irmão, começou o chororô:

Ninguém me cutuca no Facebook! Ninguém me tucuta nem na internet, nem na vida real – dizia, em referência ao botão "cutucar", uma invenção (muito popular, diga-se) do Facebook.

Sem que ele percebesse, o irmão, Bruno, gravava tudo com a câmera do celular e, depois, mandou o desabafo para o YouTube . Isso foi em agosto e, em uma semana, o vídeo foi visto por mais de dois milhões de pessoas. O "ninguém me tucuta" virou um hit na internet. A página de Rossoni no Facebook, que até então não fazia o menor sucesso, passou a ser procurada por gente de todos os cantos e ele, a ser cutucado por milhares de meninas. Sua história mostra como as redes sociais estão assumindo uma importância fundamental no comportamento afetivo. Este foi o ponto de partida de uma pesquisa chamada Flertebook, feita pelas agências Blue Id e New Vegas, especializadas em tendências de comportamento. Foram ouvidos 905 usuários de redes sociais entre 18 e 35 anos (200 presencialmente, no Rio e em São Paulo, e 705 on-line, em todo o Brasil).

Percebemos que muitas notícias no último ano relacionavam com frequência amor e redes sociais, sem que houvesse qualquer estatística sobre o fenômenodiz Germano Penalva, coordenador da pesquisa, citando uma reportagem que dizia que "internautas encontram par romântico com mais facilidade".

Uma das primeiras conclusões da pesquisa é que pelo menos 48,2% das pessoas usam o Facebook para isso mesmo: azarar. É como passar o olho pelo local de trabalho e imaginar que metade das pessoas com a tela do Facebook aberta está ali paquerando. Mas antes de provocar pânico entre os leitores comprometidos, é bom lembrar que "conversar com os amigos" (88%), "compartilhar novidades" (74,2%) e "manter-se atualizado" (65,5%) são os objetivos mais citados.

Alguns resultados chamam a atenção: o tipo de perfil que faz mais sucesso no mundo azul-lavanda criado por Mark Zuckerberg não é o "sexy", o "popular", ou o "romântico", mas o "bem-humorado". não vale entupir a timeline dos seus amigos de virais e piadas. Segundo os pesquisadores, bem-humorado não quer dizer "engraçadinho".

– O perfil do "bem-humorado" é aquele que faz ironias nas horas certas, tem boas sacadas, mas, sobretudo, reage com leveza em discussões acaloradas. Todos os perfis se mostraram atraídos por essas característicasdiz Germano.

Em relação às ferramentas do site, concluiu-se que a aflição de Rossoni, o abandonado de Porto Velho, não faz muito sentido: 55,3% das pessoas não cutucam com segundas intenções, mas apena para dar "oi". E 24,5% nunca cutucam de volta.

É a função menos compreendida do site, porque ela não foi criada especificamente para o flerteexplica Germano. – O cutucar assumiu esta função aqui no Brasil, mesmo assim, não por todos.

A etiqueta do uso das ferramentas se mostrou uma filha do bom e velho bom-senso. A maior parte dos entrevistados relatou que o botão "curtir", quando usado moderadamente, aproxima, porque marca presença, reforça afinidades e demonstra aproximação. Mas, em excesso, repele a presa, pois conota previsibilidade e uma vontade exagerada de agradar. É o famoso "chiclete", em versão 2.0.

"Cutucar" e "curtir" nem sempre elas são usados para paquerar
De todas as ferramentas, os "comentários" são a porta da esperança de quem está à espreita: em geral elogiosos, são a chance de mostrar o tão caro bom-humor, diz o estudo. Os "chats" e as "mensagens" revelaram-se o espaço privado que muita gente não tem sequer na vida real, e são os preferidos para começar a paquera, usados por 75% dos ouvidos. A produtora cultural Rosa (nome fictício), de 35 anos, moradora do Humaitá, começou a usar a rede social para divulgar os eventos culturais que produz. Até que ficou solteira, dois meses.

– Já paquerei duas pessoas via rede social e com os dois deu certo. O primeiro foi um rapaz que conhecia de uma livraria. Ele está morando na Espanha e, um belo dia, me adicionou. Começamos a trocar mensagens e a coisa foi ficando quente… – conta Rosa. – O segundo foi com um carinha que eu adicionei sei lá por quê. Ele passou a fazer comentários originais sobre minhas postagens, e um dia, no bate-papo, me convidou para um café, e acabou rolando no segundo encontro.

A história ilustra uma das conclusões da antropóloga Claudia Pereira, da PUC-Rio, que acompanhou todo o levantamento:

– O Facebook reforça laços sociais preexistentes. A rede social existe porque está ancorada na vida offline – diz Claudia. – No Facebook, gostamos de nos sentir reconhecidos pelo que somos, por nossas idiossincrasias, gostos e preferências, por nossa autenticidade.

Ainda segundo a pesquisa, a intenção para a paquera começa na análise do perfil: 87,5% dos usuários são atraídos, primeiramente, pela foto principal. Mudar a imagem toda hora, aliás, é um indício de disponibilidade, o novo "passar a mão no cabelo". Cerca de 84% dos usuários acham fundamental que o perfil tenha o status de relacionamento (para saber se o outro é solteiro ou não); 66,6%, os locais que frequenta; e 65,8%, as preferências musicais.

Uma das coisas que mais chamaram a atenção foi a importância que se dá à música e ao gosto musical do outro. Mais do que cinema ou viagens, por exemplo – comenta Germano. – A música, como se vê, é um fator determinante de afinidade.

Quem está azarando costuma desistir nas seguintes circunstâncias: falta de afinidade (28%), postagens de conteúdo considerado inadequado (28,3%) e quebra de expectativa (18%). O uso do mau português, os perfis excessivamente sexualizados, os comentários-clichês ou o excesso de aplicativos na página estão entre os principais fatores de rejeição.

– Não existe um Facebook, mas vários, considerando que diversidades culturais modificam a maneira com que a interação nesta rede social se estabelece – lembra Claudia. – A sociedade brasileira é relacional, brasileiros são conciliadores, afetuosos, generosos, e o compartilhamento de conteúdo nesta rede social é motivado pelo caráter gentil da nossa cultura. Na interação desta rede social, reproduzem-se valores e costumes tradicionais de nossa sociedade. As informações são do O Globo

Uma última dica para manter a etiqueta no Facebook:

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