Saúde Mental

Efeitos da pandemia podem levar jovens a atitudes extremas, sugere psicólogo

Na opinião dele, se nenhuma providência for tomada em casos como o de Barreiras, isso pode fazer com que outras pessoas se expressem da mesma maneira inadequada.

Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

O assassinato da aluna cadeirante Geane Brito, de 19 anos, durante um ataque armado feito por um adolescente de 14 anos, em uma unidade de ensino de Barreiras, ganhou repercussão nacional. O caso chamou a atenção da sociedade para os crimes praticados por atiradores em série, em sua maioria jovens, tendo como alvo as escolas.

Para o professor de psicologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Gustavo Siquara, diversos elementos podem levar à situação que ocorreu em Barreiras. Sobretudo, porque nos últimos meses, as pessoas têm sofrido com os efeitos deixados pela pandemia de Covid-19, que teve início em 2020 no país.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Eu acho que hoje em dia a gente pode pensar em vários elementos, de uma situação que é complexa. A gente ainda vive um efeito da pandemia, em que muitas pessoas, por conta do isolamento social, problemas financeiros, mortes de parentes ou pessoas tão queridas. Isso interferiu diretamente na saúde mental. Muitos jovens, muitos adolescentes ficaram muito tempo isolados dentro de casa, ficaram com incertezas em várias etapas, vivências que eram necessárias. Além disso, muitas vezes neste retorno as escolas que já não tinham uma estrutura tão adequada, não tinham tanto suporte com equipes de saúde, e isso terminou interferindo nas relações. Como consequência, podemos pensar em alguns direcionamentos como este caso de Barreiras”, analisou o professor.

Com base na experiência que possui na área de psicologia, Gustavo Siquara destacou que as pessoas dão sinais ao longo do tempo de que algo não está bem.

“Pessoas que são muito isoladas, muito quietas e não falam, como também há o outro extremo, de pessoas que são muitas impulsivas, que às vezes agem sem pensar. Estes são dois pólos que nos chamam a atenção. Temos que tentar escutar essas pessoas, entender quais são os possíveis motivos dentro daquele contexto para que não consigam se colocar, expressar aquilo que sente, ou no outro extremo, tem aquela pessoa que não pensa nas consequências”, disse.

Um ambiente de acolhimento e cuidado, conforme o especialista, será necessário. Os familiares podem tentar fornecer esse tipo de apoio, mas também pode ser preciso um apoio especializado.

“A pandemia com certeza causou mudanças no comportamento das pessoas, claro que algumas mais vulneráveis provavelmente sentiram mais isso, do ponto de vista psicológico, porque a pandemia mudou todo o nosso arranjo social, as relações, o isolamento social, a incerteza, a insegurança alimentar e financeira, e com certeza as populações mais vulneráveis tiveram uma saúde mental mais afetada. Então a falta de apoio psicológico pode ter contribuído para ações como a praticada pelo jovem em Barreiras. O cuidado com a saúde mental perpassa por diversos elementos, pelo cuidado na questão financeira da família, o acesso à saúde e a tratamentos, a empregos dignos, uma educação de qualidade, há situações de perseguição e bullying na escola, então podemos pensar em um conjunto de coisas, mas sem dúvida o apoio psicológico pode contribuir”, reforçou.

Na opinião dele, se nenhuma providência for tomada em casos como o de Barreiras, isso pode fazer com que outras pessoas se expressem da mesma maneira inadequada.

“Muitas vezes essa atitude de violência é uma forma de expressão, que em alguns casos vai se refletir pelo funcionamento da nossa sociedade, pelo individualismo que está presente em muitos ambientes que a gente vive. Os pais, assim como outros atores sociais, estão tentando fazer da melhor maneira que aprenderam, e influenciam no comportamento dos seus filhos, assim como professores, políticos, diretores, vários atores sociais em diversos níveis. Não podemos responsabilizar somente um desses atores, mas devemos pensar em um aspecto mais sistêmico”, refletiu o professor da Uefs.

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Josie

Vdd!! As pessoas são imprevisíveis!!!