A divisão de verbas públicas recebidas por partidos na disputa presidencial deste ano coloca o presidente Jair Bolsonaro (PL) em desvantagem em relação ao seu principal candidato, o ex-presidente Lula (PT), que aparece liderando as pesquisas de intenção de voto.
Considerando apenas verbas do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário, Bolsonaro recebeu 5% do valor total destinado pelo seu partido, o PL, até o momento para todos os candidatos. A situação do petista é diferente: Lula recebeu 20% do seu partido. Os dados são do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) de terça-feira (20).
Em valores reais, Lula recebeu mais de R$ 88 milhões do PT para gastar na campanha, enquanto o atual presidente, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, recebeu R$ 15,6 milhões.
Bolsonaro, no entanto, reduz a distância quando consideradas as doações privadas: ele recebeu R$ 10,7 milhões dados por pessoas físicas, enquanto Lula arrecadou R$ 250 mil. No total, considerando outras receitas, como as advindas de financiamentos virtuais ou doações de outras legendas, Bolsonaro tem R$ 27,5 milhões e Lula R$ 89,9 milhões.
Pesquisador do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Arthur Fisch afirma que a diferença de verba disponível para fazer campanha entre os dois principais candidatos representa uma vantagem para Lula.
“Não é possível fazer eleição sem recursos. Precisa de dinheiro para mobilizar, construir palanque e até viajar pelo Brasil”, explica.
“Parece que o Bolsonaro está jogando a campanha de 2018, que ele conseguiu fazer uma campanha muito barata. Essa campanha é diferente. Você vai precisar viajar pelo Brasil, você vai precisar mobilizar campanha e vai precisar de recursos para isso”, afirma.
Ciro recebeu 18% do partido; Tebet tem 9%
Distantes dos dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) também receberam mais dinheiro dos seus partidos do que Bolsonaro. O pedetista, por exemplo, ganhou R$ 32 milhões da sua sigla, enquanto Tebet tem R$ 30 milhões.
Percentualmente, o ex-governador do Ceará recebeu 18% das verbas da legenda, enquanto a senadora de Mato Grosso do Sul é responsável por 9% dos gastos do partido com candidatos até o momento.
Soraya Thronicke, candidata do União Brasil, partido com maior fatia do Fundo Eleitoral, também tem mais dinheiro público para a campanha que o atual presidente: R$ 22,1 milhões. Ela, no entanto, representa um percentual menor dos gastos do partido: 3%.
Fisch explica que antes das eleições os partidos enviam ao TSE um planejamento de como eles planejam dividir os valores recebidos e que cada sigla tem uma estratégia: enquanto algumas apostam em candidaturas ao executivo, outras dão mais verbas para candidatos a deputado federal, por exemplo.
Segundo Fisch, alguns partidos, como o PT e o PDT, pela centralidade que a candidatura presidencial representa na sigla, acabam destinando mais verbas para o presidenciável. “Não que não seja importante fazer deputado, mas [eles] acreditam que a candidatura à Presidência pode ajudar a eleger deputados”, comenta.
“O PL, o MDB e o União, diferente do PT e do PDT, para eles talvez seja tão ou mais importante que a Presidência fazer bancada para deputado federal”, acrescenta.
A situação do PL é diferente da dos demais porque o presidente Jair Bolsonaro é um candidato mais competitivo, ao contrário de Tebet e de Soraya que aparecem distantes dos primeiros colocados.
“O PL é um pouco diferente, era um partido pequeno, ficou grande com a entrada do Bolsonaro e de diversos parlamentares, e de antemão já se sabia que não ia ter recursos para todo mundo”, afirma.
Isso porque o partido elegeu, em 2018, 33 deputados, mas atualmente conta com 77 congressistas na Câmara. Como a divisão do Fundo Eleitoral é baseada no número de deputados e senadores eleitos por cada partido político em 2018 e desconsidera as mudanças nas bancadas ocorridas ao longo dos últimos quatro anos, o PL aumentou de tamanho, mas sem crescer em quantidade de verba disponível.
“O fato de Bolsonaro não receber tantos recursos do partido já era dado antes da sua filiação”, afirma.
Fonte: G1
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