Saúde

Neurologista fala sobre o Alzheimer no Dia Mundial de Conscientização da Doença

A principal causa na doença de Alzheimer é o envelhecimento.

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Foto: Daniel Mello/Agência Brasil

O Dia Mundial de Conscientização da Doença de Alzheimer é comemorado hoje (21). A data foi escolhida pela Associação Internacional do Alzheimer, a fim de fortalecer a divulgação de informações sobre os principais sintomas, formas de tratamento e aconselhamento para os familiares dos pacientes.

“A doença de Alzheimer é progressiva, degenerativa e ocasionada pela agressão a determinados neurônios, principalmente aqueles relacionados à memória, mas ao longo da doença, em casos particulares, tem também aqueles associados à fala, linguagem, gestos e comportamentos. Essa agressão aos neurônios tem relação com a deposição de proteínas. Essas proteínas são normais, todos nós as temos, mas na doença de Alzheimer elas se acumulam e isso acaba agredindo os neurônios, tanto por dentro quanto por fora das células, promovendo a degeneração e a perda desses neurônios ao longo do tempo, de forma progressiva,” conforme informou o neurologista Matheus Alves Gaspar Freitas da Silva ao Acorda Cidade.

neurologista Matheus Alves
Foto: Arquivo Pessoal

Segundo o neurologista, o Alzheimer possui três fases.

“Na fase inicial o paciente tem algumas dificuldades, mas consegue se virar muito bem nas atividades do dia a dia, muitas vezes o paciente pode inclusive manter-se trabalhando, fazendo pequenos ajustes. Na fase intermediária o paciente já tem uma piora nos sintomas e por isso a atividade profissional já é mais comprometida. Porém, em outras atividades, que não demandam tanto do ponto de vista cognitivo e intelectual, o paciente consegue fazer sem maior dificuldade. Na fase avançada, aquilo que é simples para gente é difícil para o paciente, como vestir a roupa correta, tomar banho, ter controle sobre o esfíncter, é a fase na qual o paciente fica mais debilitado, muitas vezes acamado e precisa de assistência de uma forma mais recorrente,” orientou.

Causa

A principal causa na doença de Alzheimer é o envelhecimento.

“Um dos principais fatores de risco é o fato de envelhecer. Todo mundo que viver até os 80, 90 anos, e vai acabar tendo um risco maior de desenvolver. O risco do envelhecimento acaba sendo mais importante do que os fatores genéticos, mas claro que existem pacientes com vários familiares que são acometidos, e o fator de risco para esses pacientes também pode ser maior,” esclareceu

Os principais grupos acometidos, conforme apontou o neurologista, são pessoas a partir dos 70 anos de idade. A doença também pode surgir em pessoas consideradas jovens, que são aquelas que possuem menos de 60 anos, mas não é tão comum.

Fator genético

“O Alzheimer de forma geral é uma doença que se desenvolve de forma esporádica, ou seja, sem uma relação genética direta. Existem alguns casos sim de famílias com diversas pessoas acometidas pela doença, mas esses casos são habitualmente menores que 1% da totalidade dos casos de Alzheimer em todo o mundo. Teoricamente, é possível que a doença seja hereditária, mas na maioria dos casos não é. Ela é uma doença esporádica, que tem outros fatores, principalmente o envelhecimento, como fator de risco,” explicou.

Sintomas

“Dificuldades com a memória de diversos tipos diferentes, esquecer onde se coloca as coisas, esquecer o nome de pessoas que obtém muito contato, esquecer compromissos assumidos, esquecer de eventos acontecidos recentemente, além disso o paciente pode ter problemas de localização espacial, ter dificuldade de lembrar de caminhos e até ter episódios de se perder pela cidade, em regiões que já se tinha o costume de frequentar. O paciente pode ter dificuldade na linguagem, dificuldade para organizar o próprio discurso, de fazer um encadeamento lógico das ideias e expressá-las de forma coerente e clara. Alguns pacientes podem apresentar quadros depressivos inicialmente como marcador do início da doença, mudança no comportamento, dentre outros sintomas que terão relação direta com essa doença,” alertou.

Esquecimentos

O neurologista, esclareceu ao Acorda Cidade, que o esquecimento é um sintoma muito recorrente que muitas pessoas podem ter.

“Todos nós esquecemos alguma coisa no dia a dia, principalmente se a gente tem muitos afazeres ou se estivermos passando por uma fase de mais ansiedade, uma grande demanda pessoal, então, não pode ficar parecendo que qualquer esquecimento tem relação com a doença. Quando acontece de uma forma recorrente, começa a incomodar no dia a dia, esses casos merecem uma avaliação direcionada para entender se esses esquecimentos são banais e não relacionados à doença ou se podem ter alguma relação com doenças neurológicas,” disse.

Diagnóstico

“O diagnóstico da doença de Alzheimer leva em consideração o conjunto de sintomas que são desenvolvidos ao longo do tempo, quais são as dificuldades que esse paciente tem, se há algum tipo de limitação do ponto de vista funcional. Há também testes neuropsicológicos, que é uma forma de nós aferirmos de uma forma mais objetiva, quais são as dificuldades que o paciente enfrenta no dia a dia e há um perfil de exame de sangue, além de um exame de imagem para avaliar se existem alterações da estrutura do cérebro, compatíveis com as queixas do paciente. Em alguns casos específicos, casos mais difíceis, a gente pode pedir exames mais específicos para avaliar o líquido que percorre o cérebro, que dá sustentação ao cérebro que a gente chama de líquor ou até exames de medicina nuclear como um PET Scan cerebral,” descreveu.

Com a junção desses testes e exames complementares é possível chegar a um diagnóstico específico de um tipo de demência, e fazer um tratamento direcionado, como explicou o médico Matheus Alves.

Tratamento

Conforme o neurologista, uma das formas de tratamento inclui medicações e a outra forma não.

“No tratamento que envolve remédio analisaremos aqueles pacientes que podem se beneficiar de uma medicação tomada em forma de comprimido ou adesivo e que têm como objetivo desacelerar a doença. Então é importante que o paciente entenda que esse tratamento de forma alguma vai curar ou fazer a doença parar de forma completa, mas ele pode desacelerar a doença e fazer com que ela progrida de uma forma muito mais lenta, e trazendo menos sintomas ao longo do tempo”, explicou.

Além disso, tem o tratamento por meio da reabilitação.

“A gente encaminha para um neuropsicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, para que a gente possa, a depender do sintoma do paciente, tentar abordar de forma pormenorizada. Aqueles pacientes que têm dificuldades de encontrar as palavras, da linguagem, se beneficiam de uma avaliação com o fonoaudiólogo, aqueles pacientes que têm dificuldade para engolir também precisam passar por um fonoaudiólogo. Os pacientes que têm muita apatia, que não se engajam nas atividades do dia a dia, um neuropsicólogo ou um terapeuta ocupacional podem ajudar neste trabalho de reabilitação. Normalmente esse é um grupo de atividades que a gente costuma sugerir para o tratamento do paciente com a doença de Alzheimer,” relatou.

Até o momento, não há cura para a doença de Alzheimer.

“Existem diversos tratamentos que estão sendo pesquisados em todo o mundo, medicações injetáveis, intravenosas, medicações em forma de comprimido, medicações injetadas via nasal, para se buscar outras medicações que desacelerem a doença, mas ainda não há, pelo menos em um horizonte de curto prazo, a médio prazo, um remédio exclusivamente para curar totalmente a doença. É bom que isso seja frisado, porque existem nas redes sociais e WhatsApp alguns vídeos que mostram pacientes que se curaram ou que melhoraram muito com um tratamento específico. Essas informações devem ser levadas em consideração com bastante cuidado, porque até o momento a gente não tem o tratamento unicamente eficaz para curar a doença,” salientou.

Prevenção

Conforme abordou o neurologista, existem formas de prevenção bem estabelecidas, que podem fazer com que a doença apareça de forma tardia e mais leve.

“Uma delas é criar reservas cognitivas, que é fortalecer o cérebro durante a vida, estar intelectualmente ativo, aprender idiomas, aprender a tocar instrumentos, realizar leituras, para que o cérebro esteja sempre ativo e isso acaba protegendo. Outra coisa que acaba protegendo é atividade física regular, fazer aeróbica acaba promovendo um risco menor de adoecimento ou de sintomas mais graves, controlar a pressão alta, controlar a diabetes e o colesterol alto, uma vez que esses fatores de risco vasculares aumentam o risco de ter doença de Alzheimer. E também se ter um tipo de estímulo ao convívio social, ter uma rede de apoio social, uma rede de amizades, porque isso comprovadamente ajuda nestes tipos de casos,” orientou.

Com informações da produtora Maylla Nunes do Acorda Cidade

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