Cuidar de uma animal doméstico pode ser uma atividade prazerosa, mas também bastante desafiadora. É preciso dar carinho, atenção, levar para passear, além de ofertar todos os cuidados com a higiene e a segurança do pet. Em sua maioria, as famílias optam por cachorros e gatos em casa. No entanto, uma tendência cada vez maior em Feira de Santana, assim como em outras cidades do país, é a escolha por bichinhos menos convencionais, como coelhos, porquinhos, aves silvestres e serpentes. São os chamados animais exóticos e silvestres.
A veterinária Wanessa Santana recebe uma quantidade diversificada de aves na clínica em que trabalha, como calopsitas, papagaios, papas capim, e outros como porquinhos da índia, coelhos e serpentes.
“Feira como é uma região de passagem, de entroncamento, a gente acaba tendo um acesso muito grande desses animais aqui, tem muitos criadores tanto de animais exóticos quanto de animais silvestres. Nós temos uma rotina muito grande de aves em geral, como calopsitas, papagaio, passeriforme, papa capim, canário. E dos exóticos, coelho, hamster e porquinho da índia são os que mais aparecem”, afirmou a médica veterinária.
Como são animais mais sensíveis, também exigem um cuidado maior no manuseio. Segundo Wanessa Santana, algumas espécies são mais estressadas e se assustam facilmente, por isso é importante a busca pelo atendimento especializado.
“Eles naturalmente nos habitats deles são presas, então são animais que estão sempre sendo atacados por predadores. Quando eles saem do lugarzinho deles, da casa deles e vão para um consultório, isso já se torna um estresse muito grande. Não é como cão e gato que têm costume de ficar sempre com gente pegando, brincando, por isso eles são muito mais sensíveis a esse manejo”, informou ao Acorda Cidade.
Entre os pacientes exóticos que mais chegam à clínica estão os porquinhos-da-índia, também chamados de prear do reino. São animais, que segundo a especialista, são bastante desafiadores quanto ao diagnóstico.
“Eu acho que, não pela espécie, mas para mim o mais desafiador são esses porquinhos da índia que chegam e a gente não consegue adivinhar. Realmente para a gente conseguir chegar em um diagnóstico do que eles têm é muito difícil. São animais que não demonstram nada mesmo. A gente para conseguir avaliar a dor, avaliar a desidratação, tudo isso, eu acho bem desafiador”, disse.
Outro animal que é bastante acolhido como doméstico nas residências são os papagaios, que são muito apreciados por repetirem sons com facilidade e chegam a aprender algumas palavras.
“Geralmente esses animais chegam com queixas de que não estão se alimentando. O que o dono percebe de cara é o animal mais amoadinho, mais tristinho, e quando chega para a gente, já é algo que está há muito tempo acontecendo, mas o dono não notou. O que a gente pega de muito frequente é a criação errada em relação à alimentação. As pessoas alimentam muito errado seus animais. O papagaio mesmo é o que mais sofre, com essas sementes de girassol, o pão com leite, o café, que são coisas que não podem, e é muito cultural que as pessoas deem e acham que é a alimentação correta deles”, explicou.
A veterinária destacou que, apesar de não receber muitas espécies de serpentes na clínica, sempre foi apaixonada por répteis. Ela afirmou que o mercado de animais exóticos e silvestres tem crescido muito nos últimos anos, com o aumento da quantidade de criadores no município.
“Já faz cinco anos que eu só atendo silvestres, e vai fazer três que eu atendo aqui em Feira, e é nítida a mudança do meu primeiro ano para agora. A minha rotina de atendimento tem aumentado bastante e a cultura das pessoas também em relação a investir na saúde desses animais. Para criar, primeiro tem que conhecer a espécie que quer criar, não pegar para depois conhecer. Tem que ter noção real do custo financeiro que ele vai provocar, quanto custa alimentar esses animal, quanto custa uma consulta, tudo isso. E ver todas as necessidades particulares daquela espécie, como a ave, qual é o tamanho da gaiola que eu preciso comprar, o que eu preciso dar para ela comer, e assim ver se realmente se encaixa na realidade da pessoa”, orientou.
Os valores das consultas, por exemplo, podem pesar no orçamento, além dos outros itens. Os atendimentos têm um custo maior comparado ao de cachorros e gatos e precisam de um tempo diferenciado.
“São animais relativamente de fácil aquisição, e barata. Então quando a gente passa o valor da consulta, geralmente as pessoas desistem, mas o fato de ser um atendimento especializado torna o custo do serviço diferenciado. Uma consulta a coelhos, por exemplo, aqui em Feira está variando em torno de 180 a 200 reais, depende da clínica, e a domicílio, 220 reais. Essa é a variação de valor das consultas em horário comercial. Quando a gente passa para horários de emergência, à noite, finais de semana, esse valor muda, e aqui em Feira acho que nas clínicas está em torno de 250 reais”, explicou.
O veterinário Saulo Cunha esclareceu que existem diferenças entre animais exóticos e silvestres.
“Silvestres entram como aqueles animais que fazem parte da nossa fauna, e exóticos, os que pertencem a outros locais, outros países. Hoje no hospital a gente tem praticamente todas as especialidades, que fazem parte da rotina clínica. Pacientes que têm problema dermatológico, endócrino, e dentre essas especialidades, a gente tem o atendimento de animal silvestre e exótico também”, informou.
Ele ressaltou que muitos criadores, por desconhecerem locais onde o atendimento é ofertado, acabam procurando profissionais que não são especialistas no assunto, como atendentes de casas agropecuárias. Porém, esses animais precisam de tratamento individualizado.
“As bases farmacológicas são as mesmas, inclusive para ser humano, para cães, gatos, bovinos, equinos. O que vai diferenciar é a espécie, ou seja, elas têm algumas curiosidades neste sentido, a gente vai sempre se basear pelo peso do paciente, e o que pode ou não pode ser administrado. Entre essas classes de silvestres e exóticos, muitos vão ser mamíferos, anfíbios e répteis, isso vai diferenciar sim, com certeza. Nosso atendimento no Animal Med é feito em caráter emergencial, urgencial e convencional. Normalmente o tutor que chega ao hospital, a gente faz a triagem desse paciente, espécie, raça e queixa principal. Que é para agente entrar em contato com o nosso colega, passar essas informações e ele vir o mais preparado ao hospital. E a partir disso daí, ele vai conseguir fazer no hospital, exames de sangue, ultrassonografia”, informou Saulo Cunha.
As principais causas de acidentes, envolvendo esses pets, segundo o especialista são acidentes automobilístico em casa, como atropelamentos. Em relação ao porquinho da índia, são mais infecções dentárias, porque os dentes nunca para de crescer, então tem alguns momentos em que precisam ser aparados, no vocabulário convencional. E o tutor não sabe disso, eles já chegam aqui precisando de extrações ou tratamentos mais agressivos. Aves são mais em relação a problemas respiratórios, igual a galinhas. O papagaio vai depender muito. Nós consideramos aqui todo paciente como um filho do tutor.
Apesar de que silvestres e exóticos tendem a ser menos mansos do que o convencional, mas isso depende da criação também. Nosso grande desafio é tratar quem não se queixa, por isso os tutores devem ter em mente que na grande maioria das vezes vamos precisar de exames complementares, hematológicos, de imagens, como ultrassom e raio-x, que irão falar pelo paciente”, orientou o veterinário.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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