Acorda Cidade
Uma turminha do barulho em clima de paquera se envolve em confusões que até Deus duvida com um amigo de outro mundo. Leia essa introdução com a voz do narrador dos filmes da “Sessão da tarde” antes de assistir a “Super 8”. É a melhor maneira de entrar no clima proposto por J.J. Abrams e Steven Spielberg no longa que estreia nesta sexta-feira (12) no Brasil.
Cercado de mistério desde o anúncio de sua produção, “Super 8” se vendeu inicialmente como mais uma aventura de suspense e ficção científica de Abrams, produtor de filmes como “Cloverfield” e criador da série “Lost”. A sinopse divulgada meses atrás dizia apenas que a história se passava em 1979, em uma pequena cidade do subúrbio americano. Ali, um grupo de adolescentes grava um acidente de trem enquanto filmam um curta de zumbis amador. Uma criatura desconhecida é libertada no desastre e só eles têm a sua imagem.
Mas basta começar a assistir “Super 8” para reparar que a sua pegada é outra. Despretensioso e divertido, ele resgata o clima dos blockbusters juvenis que Spielberg criou na década de 1980 e até hoje são cultuados.
“Super 8” se passa em Lillian, Ohio. Joe (Joel Courtney) é uma criança sonhadora, que acaba de perder a mãe em um acidente e não se relaciona bem com o pai, um policial linha-dura (Kyle Chandler). Quem o ajuda a superar a perda são seus amigos, um grupo de adolescentes tão criativos quanto ele. Juntos, eles começam a rodar um curta-metragem de zumbis para participar de um festival de cinema local. A filmagem é em Super 8, daí o nome.
Para conseguir um efeito especial de graça, eles decidem realizar uma cena perto da estação de trem local. O que gravam, sem querer, é um impressionante acidente em que uma caminhonete se choca de frente aos vagões. A cena é impressionante, os vagões literalmente chovem pelo cenário. Impossível não lembrar da tragédia área inicial de “Lost”.
Em seguida, uma série de eventos começa a tomar conta da cidade: o exército americano chega ao local e encobre as investigações do acidente. Ao mesmo tempo, os cachorros locais desaparecem, a fiação elétrica é roubada e alguns moradores são atacados bruscamente. Quem seria responsável por esses atos? Abrams emula “Cloverfield” e não mostra o monstro – um alienígena, no caso.
Estão criados o suspense, o mistério e o nascimento de teorias conspiratórias. Abrams, como sempre, amarra esses elementos com primor. Mas o filme não se limita a ser apenas um thriller de sci-fi e começa a ganhar traços de comédia adolescente dos anos 1980 conforme os minutos passam. Ainda bem.
O grupo de amigos se envolve na investigação do caso mesmo que não queira. Cada integrante deles tem uma personalidade distinta e cômica. Há o nerd medroso, o gordinho carismático e o magrelo aventureiro. Lembrou de “Os goonies?”. Joe é o mais sério e destemido da turma, e sua personalidade lembra bastante a de Elliot, o garoto de “E.T.”. Por se passar há 30 anos, o filme também traz elementos nostálgicos que reforçam ainda mais o clima de sessão da tarde: as crianças pedalam pela cidade com bicicletas BMX e usam walkie-talkies para conversarem.
“Super 8” reúne duas gerações de talentosos cineastas que se dedicam a criar cinema de entretenimento de qualidade. Quem gosta de ver um filme para rir, chorar e dar uns pulos na poltrona, agradece. As informações são do G1.