Comemorado anualmente no dia 26 de julho, o Dia da Avó ou da Vovó tem por objetivo homenagear e agradecer toda a consideração e carinho das avós com os seus netos. Além disso, muitas crianças iniciam o seu desenvolvimento através da criação desta que pode ser, considerada como uma segunda mãe.
Aos 84 anos de idade, a idosa Maria do Carmo da Conceição, lembra com muito carinho da infância dos seus netos e das dificuldades que passou para conseguir dar uma boa educação a eles, em especial o mais novo, o cabeleireiro Márcio de Melo Boaventura, hoje com 32 anos.
Em entrevista ao Acorda Cidade, ela recordou alguns momentos especiais ao lado do seu neto, como ele brincava no meio da rua, gritava e ela o chamava a atenção.
“Márcio não era muito sapeca não, mas quando completou uns 9 anos, pinotava e gritava no meio da estrada e eu brigava com ele, mas sem maldade”, brincou a avó.
Maria do Carmo contou também que quando o cabeleireiro era criança detestava cortar o cabelo e chorava muito por conta disso. Mesmo diante da escolha do seu neto em assumir a transexualidade, ela ressaltou que nunca o desprezou por isso e o ama profundamente.
“Eu tenho orgulho dele, eu o amo, porque ele é meu neto, sei disso e não desprezo ele por nada. Ele é meu neto e uma pessoa que tem muito cuidado comigo. Ele foi o último neto, e quando chegou já encontrou as coisas meio difíceis. Mas ele sempre tentou a vida por ele mesmo, nunca quis viver mimado dentro de casa”, salientou.
Márcio de Melo também relatou ao Acorda Cidade sobre a infância difícil, por conta das dificuldades financeiras que a sua família enfrentou. E em meio a tudo, a avó Maria do Carmo se mantinha firme e era o pilar da casa.
“Desde pequeno, minha mãe trabalhava no Centro de Abastecimento e sempre nos deixava com minha avó, tanto que a chamo de mãe, e fomos criados assim. A minha infância com minha avó foi a experiência mais incrível da minha vida, ela era o pilar dessa casa, e foi minha avó quem me deu toda a sabedoria para ser quem eu sou hoje”, recordou.
Atualmente, Márcio possui um salão de beleza em Feira de Santana e diz não se importar de ser chamado pelo pronome Ele ou Ela, pois o que mais importa é a sua trajetória e todos os desafios que venceu para se tornar o que sempre sonhou, sempre com o incentivo da avó Maria do Carmo.
“Eu sempre corri atrás e aqui em casa a gente tinha muita dificuldade para manter a alimentação na mesa. E eu era doméstica, fazia engraxate, lavava carro, uma série de coisas. Fui juntando dinheiro e comecei a tomar os cursos de cabeleireiro e minha avó disse: ‘Vá em frente, porque já deu certo’. Tenho 14 anos nessa profissão e agradeço muito à minha avó. O apoio dela foi crucial. Sem isso a gente não consegue nada, viver sem ter uma pessoa que goste de você, que ore todos os dias. Minha avó é uma mulher cristã, temente a Deus e está comigo sempre. Ela é tudo para mim, meus pés e minhas mãos”, frisou.
Sobre o preconceito da família e de pessoas próximas, por se identificar como uma mulher trans, Márcio ressalta que sempre buscou lidar com tudo da melhor forma, sem se importar com as críticas ou o olhar das pessoas em relação à sua aparência e a forma como vive.
“Sofri e ainda sofro preconceitos, mas entendo que isso está nas pessoas e não em mim. Eu me aceito, sou eu que pago as minhas contas, então pouco me importa o que acham da minha vida. Eu sou feliz. Logo quando assumi minha sexualidade, minha avó me disse que amava o neto dela, o Márcio. Ela me chama de ‘Neno’ carinhosamente, e a minha vida dentro de quatro paredes não a interessava e sim a pessoa que eu sou. Eu digo que sempre fui trans, desde os 12 anos que eu fazia roupas de bonecas e logo fui tomando conta da minha irmã mais nova, a Nara, e eu que costurava as roupas dela. É muito difícil a sua mãe, o pai, entender. Naquela época foi muito difícil. E eu disse que não mudava em nada. Eu disse: Eu sou Márcio de Melo Boaventura, apenas a minha opção sexual é que mudou. Mas eu continuo sendo a mesma pessoa, e eles entenderam isso.”
Para Márcio de Melo, a sua mãe também deve se orgulhar de tudo que conseguiu construir na vida.
“A minha mãe hoje deve me olhar do céu como uma pessoa guerreira, pois ela me passou todos os ensinamentos, como saber entrar e sair de qualquer lugar. E ser quem eu sou hoje. Ela e meu pai deve estar juntos se gloriando do que eu tenho feito. O preconceito eu superei e ainda supero. Nas padarias, quando a gente entra, nos mercados, as pessoas ainda olham estranho, mas esses olhares não me incomodam. Penso que eles estão me admirando. É como eu me vejo”, destacou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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