Você é daqueles que anda esquecendo tudo, sente que a mente está preguiçosa, tem dificuldade em resolver questões de raciocínio lógico, dentre outras dificuldades no dia a dia? Saiba que aprender um novo idioma, praticar um hobby, se desafiar a coisas novas e cuidar bem da saúde, são algumas atitudes simples que podem impactar no desenvolvimento das suas funções cerebrais.
Nesta sexta-feira (22), é comemorado o Dia do Cérebro, e a fim de esclarecer determinados mitos, tirar dúvidas e trazer novos conhecimentos sobre este órgão tão importante para o funcionamento do organismo humano, o Acorda Cidade entrevistou o médico neurocirurgião Rui Nei Araújo, especializado em neurociência. Ele falou sobre a importância da ginástica cerebral e orientou cuidados simples para manter seu cérebro sempre ativo e saudável.
Acorda Cidade – Qual é a função principal do cérebro?
Rui Nei – O cérebro tem a função primordial de controlar tudo no nosso organismo, não só fenômenos físicos, como também fenômenos emocionais. A ciência descobriu nos últimos 22 anos que o nosso cérebro modula tudo que acontece no físico pelo emocional, e se este não vai bem, o físico consequentemente não vai ficar bem. Diversas doenças têm comprovação científica que surgem a partir do enfraquecimento da questão emocional. E recentemente a ciência descobriu que outro fator que controla as emoções é a questão espiritual, que se refere na verdade ao sentido da vida, e quando alguém não está com este sentido bem conectado, começa a adoecer emocionalmente e baseado nisso começa a apresentar doenças físicas.
Acorda Cidade – Algumas pessoas acreditam que nós só utilizamos 10% do cérebro. Verdade ou mito?
Rui Nei – Nem nós sabemos realmente quantos por cento utilizamos, mas suspeitamos que seja muito pouco. O número 10, 15 ou 5% vai depender de referência. As funções cerebrais básicas são relativamente bem conhecidas, mas não se sabe ainda em detalhes como funcionam os circuitos do pensamento, da consciência, da subconsciência e das emoções. As emoções, por exemplo, estão começando a ser estudadas, a exemplo da raiva, que só dura 90 segundos, de acordo com os cientistas. E se a sua raiva está durando mais de 90 segundos, afirmo que você está alimentando a sua raiva. Então vale a pena contar até 90 e não até 10, porque não funciona. Os 90 segundos é o tempo que o cérebro leva para ser reativado para tomar decisões conscientes. Tudo que você faz dentro desse período, só vai se arrepender.
Acorda Cidade – Como funciona a parte bioquímica do cérebro?
Rui Nei – O cérebro é totalmente baseado na dependência de glicose e água, e quando você oferta isso, ele começa a trabalhar com diversas bombas de íons, que através de uma rede elétrica começa a executar a funções de uma forma muito primorosa, porque tem mecanismos para fazer essa corrente ser rapidamente dispersada.
Acorda Cidade – O que é a ginástica cerebral?
Rui Nei – De uma forma simples, se você faz um exercício em uma academia para malhar uma perna, com o tempo a tua musculatura cresce. Mas se você abandonar o exercício por cerca de dois, seus músculos vão voltar a ser o que eram. Tudo que nós usamos se desenvolve. E se você utiliza o cérebro em funções novas para você ou quando se desafia a aprender coisas novas, ele forma novas conexões, novas células surgem, e novos neurônios nascem no hipocampo. Então o estímulo a aprender algo novo torna a nossa memória melhor. Áreas do cérebro são ativadas, enquanto as outras áreas que são menos usadas tornam-se desativadas. Tudo aquilo que você pretende melhorar, melhora de fato.
Acorda Cidade – Quais exercícios temos que praticar para exercitar essas funções cerebrais?
Rui Nei – Depende da função, mas em geral aprender. O cérebro vai usar tudo o que você aprende para aprimorar sua inteligência, as novas conexões que você faz quando aprende, por exemplo, um novo idioma. O outro exercício é dormir bem para formar a memória de vocação, que você faz de coisas recentes. Quando você dorme mal, essa memória não é formada adequadamente e você começa a ficar uma pessoa esquecida. A doença de Alzheimer é muito mais suscetível em pessoas que passaram uma determinada fase da vida sem aprender coisas novas e se concentrando em fazer apenas as mesmas coisas que já faziam. O cérebro é extremamente plástico, potencialmente ilimitado e a gente pode aprender numa capacidade que desconhece.
Acorda Cidade – Quais são os sinais de que alguém não está exercitando adequadamente o cérebro?
Rui Nei – O primeiro sinal é esquecer de tudo, não conseguir lembrar as coisas que fez ontem, o que comeu hoje, e segundo um estudo de Harvard, a principal causa de perda de memórias recentes é o estresse, a preocupação. Vivemos em um mundo onde tudo é muito rápido, estamos acostumados a aplicativos como Instagram, Whatsapp, e isso tudo gera um sendo de urgência, que o cérebro não tolera bem. Quando o cérebro está em estado de hipervigilância, que é a sensação de estresse, ele só grava aquilo que se refere à sobrevivência. Então os primeiros sinais são cansaço, esgotamento mental, não conseguir lembrar das coisas, mas tudo isso é fácil de reverter. É necessário beber bastante líquido, porque o cérebro precisa de água, e você não pode ficar muito tempo sem comer alguma coisa, porque ele precisa de energia. Essas são coisas simples de fazer: beber água, se alimentar bem, praticar exercício físico e estimular seu cérebro a aprender coisas novas.
Acorda Cidade – Com a chegada da covid-19, muitas pessoas se queixam de sequelas como a perda de memória. Como reverter essa situação nos pacientes?
Rui Nei – Alguns pacientes ficam com sequelas temporárias de memória e raramente sequelas definitivas. O que a gente usa na prática para melhorar a vida desses pacientes não é medicação, mas sim uma mudança no estilo de vida. De rotina, a gente orienta beber mais água, manter uma alimentação saudável, dormir bem, praticar atividade física. Praticar algo que gere prazer e bem estar, pois o cérebro ama isso e gera felicidade no organismo humano. E manter boas relações com as pessoas, principalmente no trabalho, onde você passa boa parte do tempo. Automaticamente, o cérebro se desenvolve muito melhor em fases de alegria do que de tristeza.
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram