Saúde

Médica diz que hepatite misteriosa em crianças não tem relação com vacina contra Covid-19

Segundo a hematologista, já existem quatro possibilidades do surgimento da doença.

Foto: Maylla Nunes/Acorda Cidade
Foto: Maylla Nunes/Acorda Cidade

No dia 31 de maio deste ano, o Brasil registrou o 1º caso provável de hepatite de causa desconhecida em crianças, no estado do Mato Grosso do Sul. A confirmação foi dada através do Ministério de Saúde, após o município de Ponta Porã confirmar o diagnóstico.

Diante do fato, o Acorda Cidade convidou a hepatologista Karina Maia, para prestar mais esclarecimentos sobre a doença.

Foto: Maylla Nunes/Acorda Cidade

De acordo com a especialista, a hepatite aguda grave, é o resultado de uma inflamação no fígado, onde ainda não foi identificado o que tenha motivado o problema.

“Esta é uma hepatite aguda grave de etiologia desconhecida, ou seja, há uma inflamação no fígado onde o fator que gera essa doença não conseguiu ser identificado ainda. Essa hepatite acomete habitualmente indivíduos abaixo de 17 anos e os sintomas mais comuns são vômito, diarreia, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados. Os vírus que costumam causar hepatite nas crianças, são vírus que habitualmente dão quadro leve, sem maior gravidade, e agora essas crianças quando são infectadas, estão evoluindo para formas mais graves de doença, com inflamação intensa no fígado, com perda da função do órgão, e em alguns casos com necessidade de transplante de fígado”, disse.

Segundo a médica hepatologista, o surto de hepatite de causa misteriosa não tem nenhuma relação com a vacina contra a Covid-19.

“Não existe nenhuma relação com a vacina da Covid-19, tanto que a faixa etária mais acometida é a faixa etária abaixo dos 5 anos, preferencialmente abaixo dos 2 anos, e essa é uma faixa etária, onde a vacina não foi liberada ainda, são crianças que não foram vacinadas contra a Covid. Essa hepatite agora, tem como principal suspeito, um agente viral que é o adenovírus. O adenovírus já é um vírus que circula entre nós, mas habitualmente gera um quadro leve, sem maiores complicações, só gera um quadro mais grave em indivíduos imunocomprometidos, o que não era o caso dessas crianças. Imunocomprometido é aquele indivíduo que tem a imunidade debilitada, não tem um sistema imune totalmente efetivo, e essas crianças que foram acometidas por essa hepatite eram saudáveis, então é justamente isso que intriga a comunidade científica, por isso que existem algumas possibilidades de causas, e que estão sendo estudadas para definir o que de fato está acontecendo”, disse.

Segundo a hepatologista Karina Maia, já existem quatro possibilidades do surgimento da doença.

“Já se tem quatro possibilidades principais. A primeira é que tenha havido uma mutação do vírus, o adenovírus era um vírus que causava um quadro leve, discreto, sem gravidade, de síndrome gripal ou de sintomas gastrointestinais. Ele só gera hepatite ou quadro grave em pacientes com o sistema imunocomprometido. Então a possibilidade que tenha havido mutação, que tenha gerado um vírus mais agressivo. A segunda possibilidade é que por conta do isolamento nesses dois anos na pandemia, as crianças acabaram não tendo contato com as viroses que habitualmente elas têm nessa faixa etária. A falta desse estímulo gerou um sistema imunológico mais fraco, então quando essas crianças se expuseram a um vírus que gerava um quadro leve, quando a imunidade estava comprometida, isso gerou um quadro mais grave. A terceira possibilidade é que seja de fato um vírus que não conhecemos, um vírus novo que vai ser descoberto agora, e a quarta possibilidade, que está sendo mais estudada atualmente, é que haja o papel do coronavírus nessa dinâmica, algumas crianças podem ter sido expostas ao coronavírus, isso foi um gatilho para ativar o sistema imunológico delas, e logo em seguida, elas tiveram a infecção pelo adenovírus e isso gerou uma resposta imunológica mais exacerbada, mais intensa com o quadro inflamatório intenso, com uma resposta mais intensa, e consequentemente com um quadro mais grave”, explicou a especialista ao Acorda Cidade.

Prevenção

De acordo com a médica, é importante que as pessoas possam repetir os mesmos cuidados contra a Covid-19.

“A prevenção se dá basicamente pelos mesmos cuidados que nós tínhamos com a Covid. Então alguns cientista já orientam, por conta disso a gente deveria ter um cuidado maior, ponderar o uso das máscaras novamente, manter a higiene que nós tínhamos aprendido com a pandemia, higienizar as mãos, lavando as mãos, passando álcool em gel, então, basicamente seria os mesmos princípios que usávamos para a pandemia do coronavírus. Mas o que eu gostaria de deixar registrado aqui, e que é o mais importante além da questão da prevenção, é o do diagnóstico precoce. Então, quando os pais perceberem que suas crianças estão tendo esses sintomas e esses sintomas são persistentes, é necessário que seja feita uma avaliação médica. Os pais precisam levar seus filhos para que o médico avalie, porque o diagnóstico precoce está diretamente relacionado como essa criança vai evoluir, e para que as possibilidades terapêuticas sejam feitas com a maior brevidade possível”, concluiu.

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