Em abril deste ano, o morador do Conjunto Feira X, Cleidson de Jesus Queiroz e sua família precisaram alterar toda a sua rotina. As portas e janelas da casa onde moram, na Rua E, só ficavam fechadas durante o dia e à noite. Ele precisou vedar todas as entradas da casa, principalmente os basculantes do banheiro. Toda essa movimentação foi por medo de serem ferroados por um enxame que se instalou na parte externa da residência vizinha.
Segundo Cleidson de Jesus, em entrevista ao Acorda Cidade, ele solicitou o serviço da prefeitura para retirada do enxame, o SOS Abelhas, que depois de alguns dias enviou uma equipe ao local para colocar uma isca, em formato de caixa e cheia de mel, para atrair os insetos e levá-los a um lugar apropriado.
“A espécie das abelhas é italiana, que dizem ser uma das mais perigosas. Elas se instalaram numa viga na parte externa, na vertical, que fica do lado de fora da casa e ela adentravam essa viga por um buraco e embaixo dessa viga tem um bloco com dois furos, e elas entravam por essa parte também, provavelmente por alguma parte oca”, relatou.
Ele contou ao Acorda Cidade, que no imóvel onde estava o enxame, moram três pessoas na parte térrea e três em cima. E as abelhas ferroaram a proprietária da casa, que reside embaixo. Com medo das abelhas realizarem novos ataques, os moradores tentaram espantá-las com fumaça, porém elas não se moveram do lugar.
“As abelhas picaram a proprietária da casa, que foi ferroada na perna, na parte esquerda. Essas abelhas também trouxeram pânico para minha residência, por adentrarem principalmente à noite, por conta da luminosidade. Foi usada uma queima de alguns objetos para gerar fumaça, mesmo assim não adiantou. A rotina da gente se resumiu ao medo de ser ferroado, a gente tomou medidas como vedação de portas e janelas, reforçamos os basculantes dos banheiros e as portas e janelas de dia andam fechadas, principalmente à noite. Infelizmente, houve uma demora pelo órgão que resolve esse problema. E a gente não pode estar matando as abelhas por conta da extinção e também é um crime ambiental previsto em lei. O jeito foi continuar esperando o órgão competente, eles vieram e instalaram uma caixa como armadilha cheia de mel”, afirmou.
O que fazer quando há risco à vida?
De acordo com o soldado do Corpo de Bombeiros de Feira de Santana João Lucas, é muito comum, principalmente devido ao processo de urbanização, que bombeiros sejam requisitados para ocorrências envolvendo abelhas. Ele explicou que o órgão atua, no entanto, em casos considerados extremos, como ataques em andamento, com risco à vida das pessoas, e movimentação de enxames, com grande agitação das abelhas.
“Aqui em Feira de Santana, a prefeitura tem um serviço de retirada de colmeias, e existem muitos profissionais apicultores que têm interesse nessa retirada, mas o acionamento dos bombeiros só deve ocorrer em situações emergenciais, com risco à vida das pessoas, como é o caso do efetivo ataque de abelhas ou movimentação de um enxame, quando as abelhas tendem a voar e se espalharem por toda a localidade”, esclareceu.
Como orientação, ele afirmou que, em caso de ocorrências envolvendo abelhas, o ideal é sempre manter uma distância segura da colmeia e caso as abelhas estejam somente em seu local de origem, sem oferecer risco iminente de ataque, ligar para o telefone 156, descrever toda a situação, a altura, se é de difícil acesso, se é próximo à fiação, para que através desse telefonema todas as orientações sejam dadas.
“Caso seja necessária a atuação dos bombeiros, o próprio atendente irá orientar durante a chamada a ligar para o Corpo de Bombeiros Militares da Bahia. Caso esteja acontecendo um ataque ou agitação anormal, a orientação é manter a distância, se afastando ao máximo das abelhas, e ligar diretamente para o 193, porque aí sim há um risco iminente à vida. Caso as abelhas invadam a residência, o ideal é aguardar elas se alocarem em um local específico, manter a distância, evitar utilizar produtos ou equipamentos que promovam a agitação do enxame, como inseticida, ventiladores, entre outros, e ligar para o 156 solicitando a retirada.”
João Lucas salientou que, em alguns casos, essas abelhas estão se movimentando e em alguns dias deixam o local. Lembrou também que o cuidado tem que ser redobrado com pessoas que têm alergias a ataques de abelhas, devendo ser conduzidas, em casos de acidentes, diretamente ao hospital de maneira mais breve possível.
SOS Abelhas
O diretor do Departamento de Desenvolvimento Rural, que mantém o serviço municipal SOS Abelhas, Cristiano Queiroz, explicou sobre a atuação do órgão em Feira de Santana. Segundo ele, nos últimos dias, as equipes têm recebido muitos chamados envolvendo colmeias. No entanto, só existem dois técnicos na equipe que atuam nesse tipo de ocorrência.
“Esse período agora que está finalizando o verão e entrando no inverno é um período incomum, em que a gente está tendo muitos chamados atualmente. Isso mostra que nosso ambiente vem sendo modificado, então elas acabam entrando mais nos os espaços urbanos em busca de alimentos. A gente tem uma equipe com dois técnicos, que executam todo o serviço do município, e o secretário vem buscando aí a ampliação, inclusive do número de pessoas treinadas, bem como o número de veículos para que a gente possa se deslocar com mais facilidade”, justificou o diretor ao Acorda Cidade.
Cristiano Queiroz ressaltou que de janeiro até o início de maio deste ano, o serviço já contabilizou quase 100 chamadas, sendo que o período em que ocorre mais solicitações é a partir do mês de setembro, quando começa a primavera.
“Então nesses primeiros meses de inverno, elas estão em processo de transição, então geralmente nossos chamados acontecem, mas são de enxames passageiros. Quando a gente vai para o atendimento, ou elas já estão se deslocando ou a gente precisa fazer um processo mesmo de captura e remoção para um ambiente mais ecologicamente correto. Até então a ocorrência sobre picadas ainda não aconteceu. O que a gente tem é o relato de que um enxame veio para a residência ou para uma árvore próxima da residência, ou um poste, a depender de como elas estejam passando e se localizam. Essas demandas são apresentadas para a gente através do Fala Feira 156, onde a gente registra todas essas informações e tem o período de até 48 horas para fazer esse atendimento”, informou.
O mais comum, conforme Cristiano Queiroz, é que as chamadas partam de moradores da zona urbana, já que na zona rural não há tantas ocorrências, por se tratar de um habitat natural das abelhas. O serviço na cidade, entretanto, possui algumas limitações, como a questão da altura que é de até 4 metros, por conta da necessidade de equipamentos de segurança e treinamento específico para isso.
“Hoje a gente atua em alturas de até quatro metros, com esse serviço de remoção de abelhas, de maneira ecologicamente correta. Acima disso, a gente tenta uma articulação com o Corpo de Bombeiros e também com a Secretaria de Serviços Públicos, que é nossa grande parceria e fornece para a gente os equipamentos de segurança e que a gente consegue resolver esse problema. Demanda mais um tempo, porém conseguimos fazer o trabalho efetivo.”
Ele orientou que ao identificar um enxame, a população deve sinalizar o SOS Abelhas e não tentar resolver o problema por conta própria.
“Elas estão já bastante agitadas, porque vêm de um processo passageiro, estão procurando o habitat natural para que consigam flores para polinizar. O que a gente pede primeiro é não mexer nos enxames, comunicar a gente dessa circunstância, isolar a área, que é o melhor a se fazer neste momento, até porque se for um enxame passageiro ele vai sair dessa região, sem a gente precisar fazer nenhuma circunstância. Mas quando elas começam a fazer a colmeia, aí é uma preocupação para gente, que precisa agir colocando iscas numa melgueira para que elas possam se deslocar e a gente possa levar para a zona rural, onde elas possam construir o seu habitat tranquilamente.”
O diretor do departamento explicou que, em Feira de Santana, as espécies mais comuns de abelhas são a africana, que mais se parece com uma vespa e é mais agressiva, e a italiana, que também pode praticar ataques caso se sinta ameaçada.
“O que acontece é que elas são provocadas e acabam picando animais e pessoas que tentam fazer a manipulação incorreta dos enxames. No momento de transição, elas podem atacar de fato, porque se sentem ameaçadas, mas enquanto elas estiverem tentando formar um local para ficarem, se não forem provocadas, não vão provocar risco a ninguém, contanto que isolem o local, para que a gente possa fazer a remoção com mais efetividade. Podem ferroar, mas são altamente importantes para a natureza. O que a gente tem pegado agora passamos para apicultores do município.”
Aqueles que se sentirem ameaçados por enxames em suas residências ou locais próximos aos imóveis podem entrar em contato com o SOS Abelhas por meio do Fala Feira 156 ou também através do aplicativo Fala Feira, clicando na opção do serviço.
“A prefeitura buscou digitalizar todo o processo, o cidadão pode acompanhar em tempo real todo o atendimento, e todas as respostas que a gente envia, ele recebe tanto na caixa de mensagem do celular quanto na caixa de e-mail. Aquele que não possui nenhum tipo de equipamento como esse, pode vir à secretaria e pode estar registrando esse chamado. Hoje a gente atua mais exclusivamente pelo 156. Em situação de ataque grave, em que não foi possível isolar, ligar para o Corpo de Bombeiros para que faça o primeiro atendimento e a gente possa trabalhar em contato. O telefone da Seagri também é 3603-4100.”
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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