Feira de Santana

'Pessoas com deficiência precisam de espaço para falarem', diz professor doutor português David Rodrigues

Ele participou de um evento em Feira de Santana, na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).

Acorda Cidade

“Pessoas com deficiência não precisam de quem fale por elas, precisam de espaço para falarem de si mesmas e de respeito”. Essa é uma das reflexões que o professor doutor David Rodrigues, vindo de Portugal, trouxe durante a palestra ‘Educação sem Inclusão não é Educação’. O evento gratuito, que integra as ações comemorativas pelos 50 anos da Escola João Paulo I (JPI), foi realizado no teatro da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), na noite da segunda-feira (4).

“A inclusão nos ajuda a aprendermos melhor. Aprendemos mais quando temos contato com pessoas que aprendem de forma diferente da nossa. Há ambientes que tornam pessoas deficientes, há outros que tornam pessoas capazes”, enfatizou o palestrante. David Rodrigues disse ainda que toda desigualdade é uma injustiça social; que a inclusão trabalha com as diferenças para que elas não se tornem desigualdades; e que é fantástico as pessoas serem diferentes, mas que é terrível serem desiguais.

Durante a palestra, a primeira aluna especial da Escola João Paulo I, Mirella Caribé, subiu ao palco. Ela, que está com 39 anos, ingressou na instituição aos 5. A também estudante especial da JPI, Isabelle Monteiro, que hoje está no Ensino Médio, deu mais brilho à noite ao cantar a ópera ‘Carmen’. As duas disseram estar muito emocionadas por revisitarem suas memórias afetivas sobre a instituição e compartilhando de um momento tão importante.

Cássia Braz, Davi Rodrigues e Judinara Braz

A diretora Cássia Braz salientou que a Escola João Paulo I comemora 50 anos de educação com educação. “Presenteamos a cidade com o que buscamos o tempo todo: aprender. Pensamos em dividir com vocês nosso sentimento de gratidão a Feira de Santana por acolher nossa escola”, comemorou. Já a diretora Judinara Braz afirmou que o evento promovia a instalação de algo novo. “Hoje nossa equipe veio vestida com a blusa onde está escrita a frase ‘O Ensino Que Você Sente’. A calça foi a calça preferida de cada um. Construir educação sem se sentir livre, é não poder usar a calça que se quer. E hoje algo muito forte, que vai além do que estamos vendo, se instala aqui. O que se instala neste momento é o que estamos sentindo”, enfatizou.

Doutora Honoris Causa pelo Instituto Superior de Educação ISCECAP, em Brasília, a educadora Anna Virgínia, que foi alfabetizada na JPI, foi a madrinha do evento. “Estou muito emocionada. A Escola João Paulo I sempre surpreende, fomenta cada vez mais ações de formação e vai cumprindo sua missão de contribuir com a vida das pessoas”, pontuou. Karina de Assis, presidente do Conselho Municipal de Educação, também destacou o significado da palestra. “Vivemos um momento riquíssimo e em que o tema foi abordado de forma contemporânea e original. Precisamos viver a educação inclusiva em seus amplos aspectos. Não se trata só do estudante com necessidade especial, mas daquele com problemas emocionais, na família, de identidade… e das questões que rodeiam nosso espaço educativo. Precisamos de fato, enquanto educadores, pautar e basilar nossa prática pedagógica nessa concepção da inclusão”, acrescentou a presidente.

Carla Shirlene Brito, representante da Secretaria Municipal de Educação de Valença, frisou o motivo de ter enfrentado cerca de 180 quilômetros para participar do evento. “Vim por acreditar no poder transformador da educação e neste movimento que a JPI realizou nesta noite para que possamos refletir acerca dessa educação que sem inclusão não pode acontecer”, salientou. O neuropsicólogo Kleber Fialho disse que a Escola João Paulo I faz educação inclusiva mesmo antes de essa nomenclatura existir. “A JPI já fazia a própria educação inclusiva com o acolhimento de pessoas que ainda não tinham diagnósticos específicos. Hoje, com os avanços da ciência e da tecnologia, trazer profissionais desse porte, além de engrandecer a cidade, no que tange aos profissionais de educação e também de diagnóstico, é um marco histórico”, afirmou.

O médico especialista em autismo, Jair Soares, citou os poderes públicos em sua fala. “Esperamos que exista dos poderes públicos um olhar para todo tipo de inclusão, mas não uma inclusão de faz de conta, como a gente muitas vezes vê. Há situações em que famílias precisam acionar a justiça para que seus direitos sejam assegurados. A gente luta também para que as instituições públicas possam adquirir um nível de excelência no tratamento de pessoas que precisam de inclusão de verdade”, enfatizou. A psicóloga Karina Soares reforçou o significado da palestra. “É de valor tremendo. A Escola João Paulo I tem cultura de inclusão, diferente de algumas outras escolas. Vemos esse diferencial muito grande nela. A JPI faz trabalho de inclusão de forma geral e isso é muito valoroso na cidade”, pontuou.

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