Rachel Pinto
O garoto foi levado por um motorista que passava pelo bairro ao Posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) da BR-116 Sul, encaminhado ao Hospital da Criança (HEC) e de lá foi entregue à família. Muitas pessoas utilizaram as redes sociais para opinar sobre o assunto e principalmente julgar a mãe, acusando-a de negligência e abandono.
Por este motivo e como forma também de alertar a sociedade para que evite julgar o que não tem conhecimento, Indyanara Ferreira, relatou tudo que ocorreu.
“Ele saiu escondido de mim às 3h50 da manhã. Saiu da minha casa, pegou a chave que estava escondida, passou pela portaria do condomínio que está com o portão com um problema, uma fresta aberta e passou por esse espaço. Ele abriu a porta e eu estava dormindo, porque mãe também é gente, dorme e cansa. E eu estava em um dia cansativo, passei a noite dormindo. Às 3h50 eu não vi meu filho abrindo a porta, fui acordada às 5h da manhã por um vizinho que viu meu cachorro solto no condomínio. Ele viu o cachorro e foi me chamar, porque no condomínio não pode cachorro solto. Neste momento eu me dei conta que meu filho não estava em casa e no primeiro momento pensei que ele estivesse com o cachorro”, afirmou.
Indyanara afirmou ao Acorda Cidade, que ao ver o cachorro pensou que o filho tivesse saído pelo condomínio com o animal e por isso foi procurar nos diversos espaços do local. Na área de lazer, academia, em uma casa que tem um mercadinho e não o encontrou.
“Ainda cogitei um afogamento, se tinha ido para a piscina e nesse momento eu só queria encontrar meu filho. Por glória de Deus uma policial militar amiga me ligou perguntando se eu estava com meu filho porque ela viu uma foto dele e pensou que era fake news eu disse que não, que estava desesperada. Aí veio tudo à tona, entrei em contato com a PRF, soube que meu filho estava no HEC. Indagaram nas redes que meu filho estava sem fralda. Meu filho é uma criança com deficiência intelectual, com autismo associado, severo, ele infelizmente ao sair estava de fralda, com a blusinha de dormir, do desenho que ele ama que é o Peixonauta e na camisa estava o nome Pedro. Identificaram o nome dele por conta dessa camisa e como ele saiu com fralda, possivelmente no percurso da saída, se incomodou com a fralda cheia e deve ter jogado no caminho, porque ele não gosta de ficar com fralda cheia”, relatou.
A mãe que ainda está muito abalada com tudo que aconteceu agradeceu ao senhor que levou o menino até a PRF e disse que até agora só consegue tremer, está ansiosa e vivendo com o coração acelerado o dia inteiro. As críticas nas redes sociais a abalaram muito.
“Meu filho é muito amado, muito bem cuidado desde quando nasceu. O pai dele e eu estamos juntos, nós o amamos e fazemos tudo por ele. Larguei de trabalhar que eu sou enfermeira, para cuidar do meu filho, abri mão da minha vida pessoal para cuidar dele, porque ele foi planejado por mim. Não foi uma gravidez indesejada, ele é um fruto desejado na minha vida e eu vim esclarecer isso. Lembrar a sociedade que antes de julgar uma mãe, uma família de uma criança em um caso desse busque entender o que aconteceu antes, busque entender porque ele saiu. Muitas vezes existe o abandono, no meu caso, não foi abandono, não foi negligência, foi infelizmente uma fatalidade que terminou bem. Ele está com saúde, com vida, e não aconteceu nada de ruim. Rápido ele voltou para casa, ele tem dez anos, parece ter 7, mas é pequeno, nasceu prematuro e é magrinho”, acrescentou.
Sobre o defeito no portão do condomínio que facilitou para que a criança saísse pela rua, a mãe declarou que a situação está sendo debatida entre o novo síndico e os moradores e estão buscando uma forma de resolver o problema.
Ela encerrou o desabafo comentando também que as pessoas se preocupam muito em julgar os acontecimentos, mas muitas vezes não se envolvem em nenhuma ação para defender ou cuidar de pessoas que têm deficiência.
“São muitos julgamentos de pessoas que não me conhecem, não sabem da minha história com meu filho, da minha luta diária. Foi muita blasfêmia, vontade de me linchar, me bater. Não tenho nada a dever a ninguém, busco a melhoria do meu filho, do desenvolvimento dele. Faço uma indagação: ‘A gente se preocupa quando uma criança foge a gente se preocupa muito com os pais que abandonaram, mas eu me pergunto, quando essa criança cresce, se torna um adulto deficiente vulnerável à sociedade e esse adulto não tem mais seus pais, o que a sociedade está disposta a fazer por ele? Junto aos governos, de políticas públicas voltadas a essa pessoa com deficiência? A gente sabe que um deficiente hoje em vulnerabilidade, sem os seus responsáveis, está ao léu, em São Paulo mesmo tem muitos deficientes abandonados. Eu me pergunto qual será o futuro do meu filho quando eu não estiver mais com ele, se eu não tiver nenhum familiar que assuma a responsabilidade de cuidar dele. Será que essas pessoas que julgam estão dispostas a cuidar do futuro do meu filho quando eu não estiver mais com ele? Peço que repensem e que possamos nos unir para contribuir para a vivência dessas pessoas na sociedade”, concluiu.
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