Laiane Cruz
Com o processo de urbanização cada vez mais acelerado em Feira de Santana, por meio da construção de novos loteamentos e condomínios residenciais em áreas de vegetação e em locais que antes era considerados rurais, tem se tornado cada vez mais frequentes as denúncias aos órgãos de meio ambiente acerca da presença de animais peçonhentos e silvestres em residências e demais áreas do território urbano.
No Conjunto Feira V, por exemplo, moradores precisam redobrar a atenção ao passar por duas praças bastante arborizadas. Isto porque recentemente famílias de gaviões passaram a habitar e se reproduzir nesses locais e tem atacado pessoas que transitam em ‘seu mais novo território’.
Foto: Arquivo Pessoal/ Gilberto Lima
Proprietário de uma oficina de andaimes e fábrica de portões na Rua F do conjunto, Gilberto Alves Lima, estava colocando água para o seu pássaro na gaiola, quando de repente um dos gaviões que fica na praça da Igreja Hosana, onde tem muitos eucaliptos, pousou em cima da gaiola para atacá-lo.
“Eu estava aqui na loja trocando a água de um pássaro, quando vi entrar um gavião e sentou em cima da gaiola e tive que colocar ele pra correr, que quase ele me pega. E aqui na praça do eucalipto, no Conjunto Feira V, que a gente vai andando e ele vem dar umas beliscadas na cabeça. Parece que ele tem um ninho aqui. Umas quatro ou cinco pessoas já relataram esse caso”, contou.
Foto: Arquivo Pessoal/ Gilberto Alves Lima
Também morador do Conjunto Feira V, Edmilson Cardoso da Silva já foi vítima de uma beliscada de gavião na cabeça ao passar por uma dessas praças. Ele também flagrou um dos gaviões em cima de um veículo, mas dessa vez o pássaro não o atacou. Pelo contrário, fez questão de posar para o vídeo.
“Já vi vários gaviões nas praças do Feira V, onde eles atacam o pessoal. Próximo à igreja (Evangélica Hosana), são três casais. Um deles já me atacou uma vez, mas todos os pássaros que estão chocados costumam ficar valentes, então atacam mesmo. E tem um casal na praça onde fica um mercadinho. Eu fiz a filmagem de um deles super tranquilo em cima de um carro, ele mansinho”, relatou.
Crescimento desordenado
O chefe de educação ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Feira de Santana, João Dias, destacou que com a forte expansão das áreas urbanas no município, muitas vezes de forma desordenada, tem retirado muitos animais silvestres, como serpentes, escorpiões, gaviões, cotias, sariguês, jacarés, entre outros, do seu habitat natural, fazendo com eles invadam as áreas residenciais.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“A primeira coisa que devemos observar é que Feira de Santana tem o distrito urbano e mais oito distritos rurais. Com a migração da população rural para a sede e também com a vinda de moradores de outras cidades aqui está havendo uma expansão urbana acelerada nos ambientes que antes eram rurais. Essa expansão urbana, muitas vezes, desordenada, tem feito com que os animais fiquem sem o local onde habitam, que são ocupados principalmente por loteamentos e condomínios, e os animais procuram locais que tenham árvores para ficar”, explicou o ambientalista.
De acordo com ele, a Semman tem recebido diversas chamadas sobre serpentes em condomínios, a exemplo do Dahma, e também sobre ataques de gaviões a pedestres em áreas centrais, como o bairro Kalilândia.
“Tivemos um problema sério de dois gaviões que atacaram pessoas na cabeça porque estavam chocos, tirando filhotes, e a lei não permite que se faça nada com os gaviões, e não temos como subir nas árvores para retirar os filhotes. Os gaviões atacam pessoas para defender o seu território, porque toda área que eles habitavam foram ocupadas por humanos. Então o que a gente pede é que as pessoas tenham bom senso, equilíbrio, e protejam os animais. Nesses casos onde há gaviões atacando por conta dos ninhos, a gente recomenda que as pessoas passem com guarda-chuvas porque geralmente eles atacam na cabeça ou então chapéus. E se for possível, não passar pela área de ataque”, recomendou João Dias durante entrevista ao Acorda Cidade.
Foto: Leitor/Acorda Cidade
O chefe de educação ambiental salientou que esta migração de animais silvestres para áreas urbanas não é comum.
“Ela está acontecendo porque Feira está crescendo muito rápido e não são só por gaviões, temos problemas com cotias em condomínios na Cidade Nova, sariguês em vários locais, escorpiões, serpentes e saguis. A Secretaria de Meio Ambiente já iniciou uma discussão com a Sedur (Secretaria de Desenvolvimento Urbano) para ver o que será possível fazer na hora de licenciar os condomínios e loteamentos, porque nós entendemos que embora haja uma lei federal que diga como fazer, essa lei precisa ser adaptada para o caso de municípios como Feira de Santana que crescem em sua região urbana de forma muito rápida.”
Conforme João Dias informou, os animais não devem ser mortos pela população, porque fazem parte do equilíbrio ambiental e a lei federal 9.605 proíbe a compra, apreensão e extermínio de animais silvestres.
“Os empreendedores e donos de imobiliárias precisam discutir com o município a necessidade desses empreendimentos deixarem uma área verde, e não passar o trator, como quase sempre acontece, e retirar toda a vegetação, para só depois fazer uma arborização. Não, é preciso deixar um local nativo para que os animais silvestres continuem em seu habitat natural e se evite o que está acontecendo na cidade. Tanto a Secretaria de Meio Ambiente quanto o Instituto de Meio Ambiente (Inema) recebem muitas chamadas de animais silvestres entrando em casas e em condomínios. Na maioria das vezes, os jacarés, furões, serpentes, sariguês, e outros a gente coleta, principalmente o Inema, com a ajuda do Corpo de Bombeiros, e eles são levados para o centro de triagem de animais silvestres em Cruz das Almas, que fica a 60 km de Feira, onde ficam em quarentena e depois são reintroduzidos em seu habitat natural”, esclareceu.
O canal de contato para denúncias acerca de animais silvestres é o número da Central 156. E segundo João Dias, a central gera um protocolo e fica registrado o chamado. “Nós também respondemos às autoridades superiores sobre o nosso trabalho, que não é feito de modo aleatório e sim com responsabilidade.”
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.
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