Laiane Cruz
Parecia ser apenas mais um dia exaustivo de trabalho. Na manhã de 19 de janeiro de 2021, a rotina foi igual a dos últimos meses: levantar, se arrumar e buscar forças para cruzar a porta do hospital e encarar um plantão difícil com pacientes graves internados na UTI covid do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA).
Para Layse Bastos de Souza, 34 anos, enfermeira, o medo e a preocupação se tornaram constantes com a pandemia. Precisou se isolar da família, dos amigos e até do filho pequeno. Os contatos telefônicos se tornaram cada vez menos frequentes, e a saúde mental começou a dar sinais de esgotamento.
Mas naquele dia, há exatamente um ano, ao chegar ao trabalho, a coordenadora da unidade hospitalar a convidou para, sem saber, fazer parte da história de Feira de Santana. Ela foi a primeira vacinada contra a covid-19 no município.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“Naquele dia, até então, eu não sabia que iria ser a primeira vacinada. Levantei cansada, porque eu não conseguia descansar de um plantão para outro e ficava o tempo todo pensando nos pacientes, na equipe, era essa a preocupação; a rotina era a mesma de todos os dias: sair de casa com medo. Quando tinha um óbito eu pensava no desespero da família. Acordei cansada, triste, coração partido, porque já fazia um tempo que eu não via algumas pessoas da família, alguns amigos. Pois a rotina se resumia a casa e trabalho”, relatou Layse Souza.
Quando se sentou na cadeira para receber a primeira dose do imunizante contra o coronavírus, a enfermeira não conseguiu segurar a emoção. Era um misto de sentimentos, como gratidão e alívio. A primeira dose foi como um ‘shot’ de esperança, em meio ao trabalho duro, angustiante, por ver tantas pessoas partirem sem terem tido a chance de dizer uma última palavra para quem amava.
Foto: Arquivo Pessoal
“Naquele momento ali, passou um filme de tudo que vivenciamos. Eu não acreditava que estava vivendo aquele momento, de poder ter aquela sensação de que uma luz estava chegando no meio da escuridão. Uma saída para diminuir tanto sofrimento e encontrar um caminho para a gente poder voltar a viver uma vida normal e de liberdade.”
Para Layse, assim como outros trabalhadores da saúde, estar na linha de frente da Covid-19 trouxe um preço alto a pagar.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“Estar na linha de frente, fazer parte é abrir mão de tudo, da sua rotina, amigos, e da própria vida. A exposição é bem maior e tudo era incerto, tudo era novo, o medo era maior, e a gente precisava enfrentar. Muitas vezes pensei em desistir, mas eu precisava estar ali, mesmo fraca, cansada dos plantões exaustivos, porque eles precisavam da gente. E os colegas ajudavam um ao outro, todos no mesmo barco, com as mesmas incertezas, se fazendo as mesmas perguntas.”
Vacinas salvam
A imunização de Layse Souza foi o pontapé inicial para o processo de vacinação em Feira de Santana, uma cidade com mais de 600 mil habitantes e com enormes desafios a serem vencidos naquele período pelas autoridades de saúde, como conscientizar a população de que os imunizantes eram e ainda são a única resposta viável para diminuição de casos graves, internamentos e mortes pela covid-19.
Até esta terça-feira (18), Feira de Santana já aplicou 1.041.276 doses, sendo 507.984 pessoas com a 1ª dose; 443.230 com a 2ª dose, e 86.957 a 3ª dose. 8.606 receberam a dose única até ontem.
Para o secretário de saúde do município, Marcelo Britto, hoje é uma data para ser comemorada, mas ainda sem esquecer da tristeza causada a tantas famílias pela covid. “Com um ano de vacinação e 96% dos feirenses vacinados com a primeira dose, ainda 70% dos vacinados com a segunda e pouca gente com a terceira. Precisamos recuperar isso e atacar a covid. Não é brincadeira, não é uma gripezinha, é sério e todos nós temos que cuidar disso”, reforçou.
Ele destacou que com o início da vacinação das crianças de 5 a 11 anos, na última segunda-feira (17), a expectativa é que em até 10 dias a secretaria já possa atingir a idade mínima desse público-alvo.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“Na saúde o que não faltam são desafios. É uma demanda que não tem fim. Na saúde, temos sempre alguma coisa a almejar e prevenir. Mas foram vários momentos marcantes. O processo de vacinação continua de vento em polpa. A imunização é de uma importância ímpar, e o mundo todo já comprovou isso. É a forma que temos de combater de forma eficaz esse vírus terrível”, salientou o secretário de saúde.
Visão que também é compartilhada pela enfermeira Layse Souza. “A vacina é muito importante na nossa luta. Ela veio realmente para salvar vidas, para diminuir o sofrimento. É comprovada a diminuição do número de óbitos, de pacientes internados graves. A gente, pela experiência, dá para perceber a diferença do quadro clínico daqueles pacientes que tomaram a dose, em relação ao paciente que nunca tomou dose nenhuma. A vacina salva vidas, sim. Ela é muito importante”, frisou.
Com informações da jornalista Maylla Nunes do Acorda Cidade.
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