Gabriel Gonçalves
O Hospital Especializado Lopes Rodrigues (HELR) em Feira de Santana, continua com o processo de desinstitucionalização de diversos pacientes que moram na unidade hospitalar.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a diretora do HELR, Iraci Leite, explicou que desde o ano de 2014, cerca de 124 pacientes já foram desinstitucionalizados, sejam para retornar ao convívio da família ou para as residências terapêuticas. Em 2021, 10 pacientes foram transferidos para os serviços de residências terapêuticas em Feira de Santana e Pé de Serra.
"No ano de 2014 nós começamos a dar uma ênfase maior nesse processo de desinstitucionalização, que realmente é a retirada desses moradores. Mas afinal, quem são estes moradores? São as pessoas que passaram ao longo do tempo da sua vida, aqui internados no Hospital, mas aqui não é uma moradia. Então este processo já vem se acentuando, e desde 2014 até 2021, cerca de 124 moradores já foram transferidos, alguns retornaram para o convívio da família e outros foram conduzidos para as residências terapêuticas. Infelizmente, já temos três anos que não conseguimos desinstitucionalizar para as famílias, porque não encontramos, os contatos já não mais existem, às vezes essa família não quer ter mais o convívio, então temos que trabalhar junto com o Ministério Público para que estes pacientes que se tornam moradores sejam transferidos para as residências terapêuticas", explicou.
O que são residências terapêuticas?
De acordo com Iraci Leite, são casas onde estes pacientes que estavam vinculados no HELR passam a morar.
"Esse tipo de residência, é como um componente administrado pelos municípios e pertencente ao nosso Hospital, temos as residências em Amélia Rodrigues, Coração de Maria, Iaçu, Araci, Euclides da Cunha e Pé de Serra, que inclusive o município vai passar a ter uma nova residência exclusiva para receber os moradores do sexo masculino. Então, estes ex-pacientes são orientados para serem inseridos nestas residências, que são mantidas pelo Governo do Estado e os municípios recebem o incentivo, até que elas sejam habilitadas pelo Ministério da Saúde e recebem o incentivo para implantação da residência e manutenção do local", destacou.
Para este ano de 2022, a expectativa é que todos os 20 pacientes que estão na unidade hospitalar, sejam desinstitucionalizados.
"Nós começamos o ano de 2022 com 20 pacientes, mas já era para ter concluído este processo. Como eu informei, Hospital não é lugar para ninguém morar, Hospital é local para tratar, mas estas pessoas estão morando aqui. Então temos ainda 20 pacientes, e esperamos que neste ano de 2022, possamos desinstitucionalizar todos, porque já existe uma previsão que seja concretizada até o mês de fevereiro ou pelo menos nesse primeiro trimestre do ano, a saída de 15 moradores. Desses 15, 13 serão transferidos para as residências terapêuticas e os outros também para as residências de Feira de Santana, Iaçu e Coração de Maria. Um ponto que faço até a observação, digamos que um morador lá da residência de Coração de Maria, venha a falecer, ele não pode ser substituído por um morador em situação de rua lá da própria cidade. Ele deve ser substituído por um paciente oriundo do Hospital Psiquiátrico, que neste caso é o Lopes Rodrigues", enfatizou.
Mesmo após a conclusão de todas as transferências, o Hospital Especializado Lopes Rodrigues continuará ofertando os serviços de atendimento.
"Vamos continuar atendendo como sempre atendemos. Hoje nós temos duas vertentes, uma são os moradores e a outra á o atendimento da emergência, temos uma emergência que funciona 24 horas por dia, e na própria emergência, estes pacientes são estabilizados, são direcionados para os pavilhões que chamamos de atendimento agudo e temos o feminino e o masculino. Somente no ano de 2021, atendemos na emergência, 1.788 pacientes oriundos daqui de Feira e região, mas apenas de Feira, foi cerca de 74%. Desse quantitativo, 340 precisaram ser internados, então é preciso que os municípios possam rever os seus atendimentos, porque nossa unidade aqui, é para receber os pacientes que já estão apresentando um estágio maior. Então a orientação é que o paciente seja estabilizado na rede Caps, nas unidades de saúde, nas Policlínicas, para depois, quando não conseguirem ter esse suporte de estabilização na rede básica, aí sim, ele venha para a nossa unidade hospitalar", declarou.
Residência terapêutica
Neste mês em que é celebrado o janeiro branco, mês de conscientização pela saúde mental, uma Conferência Municipal de Saúde Mental também será realizada.
A coordenadora de uma residência terapêutica em Feira de Santana, Tatiane Brandão, informou à reportagem do Acorda Cidade, que este tipo de transferência é importante para o ex-paciente, pois a partir deste momento, uma nova socialização é iniciada.
"Nós recebemos estes ex-moradores do Hospital Lopes Rodrigues e passam a morar nestas residências, sempre localizadas em bairro centrais da cidade, passam a conviver no sentido da socialização, com um lazer, com uma interação, com um projeto terapêutico individualizado, onde passam também a ter o próprio quarto, estilo de vida próprio a grande proposta da residência terapêutica é integrar este paciente que morava em um hospital e agora está no meio da sociedade. Mas é preciso também ter total apoio, uma assistência médica com equipe multidisciplinar, assistência social, psicólogo, cuidadores, técnicos de enfermagem, que fazem o acompanhamento dentro da residência terapêutica", informou.
De acordo com Tatiane, antes de ser realizada a transferência, existem uma série de critérios que precisam ser atendidos. Ela ainda contou que recentemente, uma paciente com 102 anos de idade, foi a mais nova moradora a residir na casa terapêutica.
"Esses moradores necessitam de um Hospital de custódia ou psiquiátrico de longa permanência ou seja, dentro da legislação, dois anos de moradia de forma contínua no Hospital. E posteriormente passado por uma avaliação com a equipe do Hospital Lopes Rodrigues, a comunicação vem com a equipe do Caps, onde recebemos este paciente e assim, passam a morar aqui. Hoje nós temos oito pacientes e acabamos de receber uma paciente de 102 anos, uma centenária que passou a conviver junto com a gente. Então quando essa paciente chegou aqui em nossa residência, nós a acolhemos com muito carinho, muita atenção e cuidado. Planejamos todo um projeto de vida para ela, onde será acompanhada, assistida em todo o tempo de sua convivência aqui junto com os demais moradores", concluiu.
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Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade