Covid-19

Ex-secretário de saúde volta a defender vacinação infantil contra a covid e critica medo por casos raros de miocardite

De acordo com ele, informações de que a vacina provoca inflação no coração, chamada miocardite, induzida pela vacina, é de 20 a 60 vezes menos frequente que a miocardite causada pela covid.

Laiane Cruz

Em entrevista ao Acorda Cidade, na manhã desta terça-feira (11), o ex-secretário de saúde do estado da Bahia e médico cardiologista Fábio Vilas-Boas voltou a defender a vacinação infantil de 5 a 11 anos, contra a covid-19, a fim de evitar complicações e mortes para essa faixa etária.

“Eu fui contra a vacinação infantil no auge da pandemia, quando as pessoas mais frágeis e mais vulneráveis não haviam sido ainda vacinadas de forma completa. E as crianças são mais resistentes, pegam menos e têm uma tendência a evoluírem melhor do que outras. Mas isso é uma estatística, que diz que 90% das crianças vão tolerar a infecção e não vão complicar. E os 10%, se forem os nossos filhos ou netos, vamos aceitar que morram, havendo uma vacina que é praticamente desprovida de efeitos adversos?”, questionou Vilas-Boas.

De acordo com ele, informações de que a vacina provoca inflamação no coração, chamada miocardite, induzida pela vacina, é de 20 a 60 vezes menos frequente que a miocardite causada pela covid.

“Então é uma falácia de que há um risco aumentado de desenvolvimento de miocardite em quem toma a vacina contra a covid. E não existe relação de associação ou causalidade entre vacinas para a covid e desenvolvimento de infartos e AVC. Houve no início relatos de episódios tromboembólicos, embolia pulmonar e trombose venosa em pessoas que tomaram a Astrazeneca, mas isso foi logo superado e perceberam que eram uma incidência muito baixa”, explicou.

Na avaliação do médico cardiologista, passados dois anos de restrição, em que as pessoas deixaram de ir para os médicos, deixaram de ir às clínicas fazerem revisões, houve um agravamento de condições prévias, como infarto e AVC. Segundo ele, se a pessoa não controla a diabetes, a pressão, não faz exercícios, não sai de casa, isso ao longo de dois anos pode ter trazido lamentavelmente efeitos colaterais. “Estamos vendo pessoas nas Unidades de Pronto Atendimento (Upas) com infarto, AVC, câncer, porque para evitarem morrer de covid, as pessoas deixaram de sair de casa.”

Flexibilizações

O ex-secretário Vilas-Boas esclareceu ainda que muitos casos de síndromes gripais que estão acontecendo são de fato por H3N2. Porém, o que tem acontecido é que várias pessoas que já tomaram duas ou três doses de vacinas contra a covid quando apresentam um quadro de síndrome gripal, tendem a acreditar que não seja covid e sequer procuram os postos de saúde para fazer a testagem.

“Por se tratar de sintomas mais leves, algumas pessoas ficam em casa e se auto isolam, mas a maioria, infelizmente, não acredita que é covid e vai para a rua, vai para o trabalho e acaba contaminando outras pessoas. De modo que não temos certeza do quanto disso é H3N2 e o quanto é covid. Que existe uma epidemia de H3N2, não há dúvida. De qualquer forma, sendo um ou outro, o tratamento e a gravidade são os mesmos. A H1N1 e H3N2 provocam síndrome respiratória grave, pneumonia viral e podem levar os mais frágeis e vulneráveis a quadros de morte. Então é importante que quem tiver um quadro de síndrome gripal, com febre, dor no corpo, dor de cabeça, fique em isolamento familiar”, orientou.

Fábio Vilas-Boas salientou que a taxa de contágio da variante Ômicron é muito superior às variantes anteriores e contamina mais pessoas. No entanto, a maioria das pessoas em sua quase totalidade que já tomou duas doses, e o organismo dessas pessoas já foi treinado para responder ao vírus, desenvolvendo um quadro mais leve, sem maior necessidade de UTI.

“Isso não quer dizer que uma pessoa mais idosa ou mais frágil não vá precisar ir para a UTI. Eu estou acompanhando casos de pessoas que foram para a UTI com 70% de acometimento pulmonar, mesmo tendo sido vacinado. A pandemia não passou, o risco continua, e as medidas de uso de máscara, distanciamento social e higienização de mãos precisam ser mantidas porque servem tanto para a covid quanto para a H3N2. E uma forma de dar uma derrubada nessa epidemia de H3N2 é voltar a viver da forma como vivíamos há seis meses. A H3N2 chegou agora porque ficou represada. No meio do ano, em junho, quando acontece o período sazonal da gripe, quando se esperam centenas de casos, tivemos um punhado de casos de H1N1, porque estava todo mundo se protegendo da covid. Quando começou a flexibilizar as regras, e as pessoas começaram a tirar as máscaras e se aglomerar, a gripe pegou a todos de surpresa, mas de forma previsível. A gente sabia que isso iria acontecer.”

Para ele, é lamentável que a vacina não tenha a capacidade de impedir o contágio da doença, o que faz com que o vírus continue se propagando e recombinando entre os humanos, dando espaço para o surgimento de novas variantes.

“A gente gostaria que a vacina evitasse o contágio. Embora a covid em pessoas vacinadas seja mais leve e tenda a não levar para o hospital ou matar, esse vírus replicando nas pessoas mantém a chance de em algum momento acontecer uma mutação nova. Toda vez que se tem o vírus vivo circulando, há uma chance de surgirem novas mutações aleatórias, todas as vezes que esses vírus se replicarem e se recombinarem”, ponderou. 

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