Gabriel Gonçalves
O que deveria ser mais um ponto turístico, de lazer e principalmente de descanso para quem trabalha todos os dias e quer relaxar no final de semana, está se tornando uma dúvida para futuras viagens.
No mês de setembro do ano passado, três pessoas foram baleadas na Praia do Sol, município de Saubara e no primeiro fim de semana deste ano, mais um assassinato foi registrado no local (confira aqui).
Quem trabalha na praia e acompanha toda movimentação de perto, destaca que a violência se tornou um drama dia após dia. Sem ser identificado, um dos comerciantes que já atua na Praia do Sol há mais de 10 anos, informou à reportagem do Acorda Cidade que o grande problema, é a insegurança na região.
Foto: Arquivo / Ed Santos/Acorda Cidade
"A gente vive um drama todos os dias porque a gente fica o tempo todo esperando movimento na praia, aí quando chega o período, vem junto os problemas e a insegurança é o principal que acaba atrapalhando todo o comércio da gente. Estamos aqui trabalhando normalmente, atendendo os clientes e do nada começa aquela correria como aconteceu no último feriado, aquele quebra-quebra, e com isso, muita gente sai sem pagar a conta, gera débito, gera despesa, e nos deixa no sufoco. Porque um local como este que só tem movimento em período de feriado e veraneio, que iniciou agora em setembro e vai até no máximo, o mês de março. A gente fica inseguro com tudo isso e conclamamos mais policiamento nessas datas, porque mesmo que a gente saiba que a insegurança está em todo local, mas pelo menos, iria controlar toda a situação. Quando não é barulho do paredão até tarde, são as motos fazendo muito barulho aqui na região", contou.
De acordo com o comerciante, muitas residências já estão com anúncio de venda, pela falta de valorização que está tendo na região.
"Já tem muitas casas aqui para vender, para alugar, porque as pessoas não estão mais se sentindo seguras, não se sentem bem em querer passar mais um final de semana aqui, e isso desvaloriza tanto o nosso comércio, quanto quem mora aqui e tem sua casa para curtir a praia, ter o lazer, mas infelizmente vive nesta situação. Paredão mesmo, aqui vai até 7h da manhã, e ninguém consegue dormir. Imagine você, uma pessoa que começa a trabalhar às 6h, entra a noite e quando for 1h da manhã, você quer dormir, mas não consegue por causa do som? Infelizmente o policiamento está pouco aqui na região, não tem como dar conta", afirmou.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Para o comerciante, seria necessário a instalação de uma base da Polícia Militar e mais viaturas para realizar a fiscalização nas praias.
"A gente luta para que coloquem pelo menos uma base móvel, porque já ajudaria bastante ou até uma viatura que ficasse fiscalizando durante o dia, porque por exemplo, dia de domingo mesmo, é cheio isso aqui de lotação. A gente sabe que a presença da Polícia Militar inibe a ação daquele delinquente, daquele marginal, das pessoas mal-intencionadas que gostam de abusar e que gostam de criar problema. Esse local mesmo conhecido como 'Inferninho', foi criado pelo povo das redes sociais, porque tem muita gente que sabe que esse problema era em Cabuçu, mas aí o prefeito na época chegou lá e resolveu com o problema, mas o problema foi transferido aqui para a Praia do Sol. Infelizmente como não tem muitos eleitores aqui, eles acham que não há obrigação de resolver as coisas por aqui. Atualmente muitos moradores são de Feira de Santana, Salvador e outras cidades do recôncavo e só vem na época de veraneio, então nesse período que não tem muitos moradores, os políticos acham que não tem o que fazer aqui, mas isso é uma área de turismo e toda cidade queria ter uma praia como essa para lucrar", concluiu.
Com uma residência construída há cerca de 25 anos, um morador que também preferiu não se identificar, informou à reportagem do Acorda Cidade, que infelizmente por conta da violência, o local que era utilizado como refúgio do descanso, precisará ser desfeito.
"Eu já tenho essa casa aqui na Praia do Sol há cerca de 25 anos, na época comprei o terreno, fui construindo aos poucos, com muito suor, muito sacrifício e aqui é o meu refúgio, acompanhei o crescimento, as construções de alguns comércios e vi todo o desenvolvimento dessa área. Aqui nós tínhamos toda a tranquilidade, poderíamos ficar a noite na porta olhando as crianças brincarem, sentados ali com a família, amigos, tocando um violão, tomando uma bebida sem nenhum problema e todos os finais de semana praticamente, eu estava aqui com a minha família para se divertir e tirar o estresse da semana", contou.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Para o morador, toda a essência de conviver em um local calmo, como forma de 'fugir' do ambiente do campo urbano, está sendo perdida.
"Hoje toda essa essência se perdeu. Atualmente eu estou vendendo a minha casa depois de muito tempo, depois de muitos momentos maravilhosos, viver esses momentos felizes com minha família e essa paz acabou. A tranquilidade, infelizmente se transformou em um verdadeiro 'inferno', ainda mais com estas festas estilo paredão com barulhos insuportáveis, toda muvuca e não existe mais a paz. Isso aqui está atraindo a criminalidade, comércio de drogas, pessoas sendo baleadas, pessoas sendo assassinadas e quando alguém pergunta, onde fica o 'Inferninho'? Todo mundo vai logo dizer, 'é logo ali'. Então, infelizmente estou vendendo a minha casa com muita dor no coração, depois de muitos anos de felicidade com minha família, muito trabalho, sacrifício, e terei que me desfazer de tudo isso. Vou buscar outro terreno, nem que seja outra casa para reformar, porque realmente aqui está sendo difícil para se conviver. A pessoa que vem aqui em um final de semana, está sujeito a receber um tiro de bala perdida", concluiu.
Fotos: Ed Santos/Acorda Cidade
Com informações do repórter do Ed Santos do Acorda Cidade