Feira de Santana

Transtorno: moradores da região do matadouro reclamam de mau cheiro do entreposto; secretário descarta solução este ano

Moradores convivem com o problema há anos, e até tiveram problemas de saúde por conta do forte odor.

Laiane Cruz

Moradores da região da Asa Branca, Pedra Ferrada, Campo do Gado Novo e bairros adjacentes convivem diariamente com o mau cheiro proveniente do Complexo Matadouro Campo do Gado Novo, em Feira de Santana. O mau cheiro é tanto, segundo os moradores, que adultos e crianças já tiveram que ser hospitalizados, por conta de problemas de saúde, como dores de cabeça, náuseas, vômitos, entre outros sintomas. Além disso, muitas pessoas não conseguem sequer se alimentar nas horas mais críticas do dia.

Moradora da Rua Bahia, no bairro Asa Branca, Marta da Silva Pinheiro, reside há 15 anos no local. Ela informou que o mau cheiro ocorre a qualquer hora, até mesmo durante a madrugada.


 

O pai de Marta Pinheiro, o idoso Agenor da Silva Pinheiro, de 76 anos, disse que ninguém aguenta mais a situação. “Não é só aqui não. Na Água Grande, na Pedra Ferrada, todo mundo se queixa. Incomoda muito o mau cheiro.”


 

Moradora na Rua da Estrada Pedra Ferrada, Iraci Barreto Pereira, 54 anos, afirmou ao Acorda Cidade que os problemas começaram desde quando o matadouro foi instalado, há 35 anos, mas não havia tantos moradores como agora.

O local não era tão povoado quanto é hoje. Incomoda e sempre é no horário do café, do almoço, que vem essa irritação desse mau cheiro. E não é só na Asa Branca, é a região toda, até o distrito de Maria Quitéria. De madrugada, eles fazem a sangria e começa o mau cheiro horrível. Não sei o que pode ser feito dessa situação, porque aqui já está todo povoado e está incomodando demais”, lamentou.


 

O mototaxista Joselito Lopes de Jesus mora desde que nasceu na Estrada da Pedra Ferrada, há 40 anos. Ele relatou ao Acorda Cidade, que no dia 28 do mês passado acordou de madrugada com forte ânsia de vômito e dor de cabeça.

“O mau cheiro está insuportável. Eles têm um produto pra fazer a queima, e quando faz essa queima, a quantidade de produto é muito grande, que todo o bairro da Pampalona, Caraíbas, Pedra Ferrada, está reclamando dessa situação. Você pega aí dez saboarias queimando sebo e multiplica, que vai dar mais ou menos mau cheiro que estamos enfrentando aqui. É impossível a gente conseguir juntar toda a população para conversar com a reportagem, porque nesse momento muita gente está saindo pra trabalhar, mas se fizer um levantamento, todo mundo vai reclamar da situação. O mau cheiro é insuportável, que a gente não consegue nem se alimentar. Criança passa mal. Um primo meu já relatou que o filho dele passou mal, acordou com dor de cabeça, devido a esse mau cheiro”, reclamou.


 

Dora Rita mora há 57 anos na Asa Branca e acrescentou que quando chove a situação piora. “A situação dos moradores é precária, ninguém aguenta mais e quando chove, ninguém aguenta.”

Na Rua Heráclito de Carvalho, ao lado do condomínio Campo Belo, que fica no Campo do Gado Novo, outro grupo de moradores se reuniu para reclamar da mesma situação.


 

Enia de Almeida Borges, síndica do condomínio Campo Belo, afirmou que muitos adultos e crianças estão adoecendo.

“É frequente, e estamos reunindo todos os moradores da redondeza, tanto da Gabriela, Asa Branca, Caraívas, porque o mau cheiro chega até lá também, para que possamos nos reunir na frente da empresa para eles tomarem uma providência. Ou vamos solicitar que a prefeitura faça a retirada do Campo do Gado daqui, porque aqui hoje já tem uma população que precisa ser amparada e resolvida.”


 

Karine Gomes dos Santos, 30 anos, contou que os funcionários do matadouro jogam toda a imundície dos animais em uma caixa e ninguém suporta passar pelo local. “Sem falar a caçamba que desce derramando um caldo horroroso.”


 

Mãe de sete filhos, Lucivânia de Jesus Almeida, 29 anos, já precisou levar uma das crianças para a policlínica após ter passado mal com o odor.

“Tem dias que a gente sofre com dor de cabeça, já levei meu filho para a policlínica passando mal, vomitando. Tem dias que a gente não dorme a madrugada toda. Meu filho mais novo tem 2 anos e o mais velho tem 14. Eu fechei a frente da casa e abafou mais o fedor.”


 

E a cozinheira Janete Leite disse ao Acorda Cidade que trabalha com lanches e almoços, e ouve muitas reclamações dos clientes por conta do mau cheiro. “As pessoas não suportam almoçar, muitas vezes saem enjoadas, com ânsia de vômito. Então isso precisa ser resolvido. Já trouxemos vereadores, a TV, e nada foi resolvido.”

O que diz a prefeitura

 

Apesar dos muitos relatos e de todo o sofrimento que o mau cheiro do matadouro do Campo do Gado vem causando aos moradores da região, o secretário de Agricultura e Recursos Hídricos do município, Pablo Roberto, disse que o problema não é fácil de ser resolvido. Segundo ele, o prefeito Colbert Martins também já esteve no local e foi questionado pela população acerca do mau cheiro.

“Em uma das visitas que o prefeito fez naquela região, a população perguntou a ele dessa situação e no mesmo momento ele fez contato com o professor que trabalha com isso na região. As pessoas já vieram a Feira de Santana, já fizemos um levantamento e estão fazendo um estudo, porque não é um processo muito simples tratar esse mau cheiro, essa situação lá.”

O secretário afirmou ao Acorda Cidade, que um processo licitatório está sendo montado, uma vez que a concessão da empresa que explora hoje o matadouro está prestes a vencer, e a ideia é que nesse novo processo de concessão, esse tratamento possa ser dado pela empresa que vai explorar, levando em consideração o volume de recursos, que são de ordem elevada.

“Enquanto isso não acontece, estamos fazendo estudos, e no novo processo licitatório, que vai acontecer no próximo ano, esse tratamento poderá ser feito. Temos alguns tanques no fundo. E já existem processos de matadouros mais modernos, que nós pesquisamos, que o tratamento é completamente diferente. Ele vai quase que num processo de tanque todos fechados, passa por vários e vai diminuindo bastante o odor. Em Feira de Santana, temos um processo muito antigo, arcaico, e precisamos fazer um investimento forte para sanar esse problema.”

Ainda conforme o secretário, em 2021 não há possibilidade de qualquer resolução para o problema.

“Estamos atentos a essa situação do Campo do Gado, estamos sendo cobrados, e recebemos uma comissão de lá. A semana passada estivemos lá nas comemorações dos 35 anos. Estamos trabalhando, mas infelizmente na administração pública é assim. Temos prazos a cumprir dos estudos, levantamentos, processos licitatórios. Não é como na nossa casa, que fazemos a reserva do recurso e se quer fazer a obra, começa no dia seguinte. Na prefeitura, no estado e no governo federal não é assim. Esse ano não adianta dizer que vai acontecer, mas a ideia é que no próximo ano, nos primeiros três meses, os problemas sejam minimizados”, afirmou.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
 

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