Feira de Santana

Manifestantes saem às ruas de Feira de Santana pelo movimento negro e contra o governo

A historiadora Karine Damasceno destacou que hoje se completam 50 anos que o Movimento Negro brasileiro instituiu o Dia da Consciência Negra, data símbolo de reflexão da situação da população negra no Brasil.

Laiane Cruz

Manifestantes foram às ruas do centro de Feira de Santana neste sábado (20) em comemoração ao Dia da Consciência Negra e contra o governo Bolsonaro. Os atos contaram com a participação de vários representantes de movimentos sindicais, partidos de oposição, trabalhadores rurais, bancários, rodoviários e da população em geral.

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

Militante do movimento negro, Elisio Santa Cruz, que participa da Frente Brasil Popular em Feira de Santana, informou que a manifestação aderiu à pauta nacional.

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

“Esse ato a gente já veio construindo há meses. Uma continuidade também do Grito dos Excluídos. A gente chegou com força também na praça da Matriz, depois da manifestação pelo centro da cidade. Foi um dia de luta e resistência pelo povo negro, que são mais de 400 anos de escravidão. Em Feira de Santana, por exemplo, 77% da população é negra e vejam as condições de vida dos trabalhadores dos bairros. Por isso a gente veio para a rua, em um ato simbólico para marcar a luta de Zumbi dos Palmares, a luta de Dandara, da comunidade negra brasileira. E a gente veio às ruas também para fazer as atividades do Movimento Fora Bolsonaro, com igrejas presentes, o movimento popular, o movimento operário, as mulheres negras. Essa é a resistência que nos interessa: a defesa das classes trabalhadoras”, salientou Santa Cruz.

A diretoria do Sindicato dos Rodoviários de Feira de Santana e integrante da executiva municipal do PT,Lorena Margarida de Menezes, ressaltou que esse foi um ato também de unificação inter-religiosa.

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

“Hoje tivemos esse primeiro encontro das entidades inter-religiosas. Que hoje a gente tem que proclamar a paz, independente da religião. E eu avalio que o movimento hoje teve muita representatividade. E estamos aqui também pelo Fora Bolsonaro, que é isso que a gente deseja para 2022.”

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

Ela declarou que mesmo após a abolição da escravatura, o povo negro continua escravizado e vivencia um racismo velado na sociedade brasileira. “Combatemos o racismo estrutural que vem nos acompanhando há anos. Tem mais de 200 anos essa proclamação e mesmo assim continua sendo escravizado o povo negro.”

O padre moçambicano Leandro Chequela, vigário da Paróquia Santíssima Trindade do Conjunto Feira X, está há nove anos no Brasil e atuando em Feira de Santana. Ele também participou da mobilização e avaliou a crise econômica atual.

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

“Com essa situação da crise, vemos muita separação. Os ricos se tornando mais ricos, e os pobres se tornando mais pobres, a ponto de serem chutados para a rua. Isso que entristece no momento. Vejo que a crise está se tornando pior, e o governo não está dando atenção às camadas mais vulneráveis. Temos que ver que a pandemia contribuiu muito também para essa crise, e a administração das políticas públicas não estão sendo orientadas de uma forma que promovam a igualdade e ajuda do povo. A situação em geral no mundo inteiro vemos isso.”

A historiadora Karine Damasceno destacou que hoje se completam 50 anos que o Movimento Negro brasileiro instituiu o Dia da Consciência Negra, data símbolo de reflexão da situação da população negra no Brasil.

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

“O racismo é algo estrutural na sociedade brasileira. Isso virou senso comum, mas na prática, muita coisa precisa ser modificada. Nós temos avançado, mas o racismo ainda é muito forte. Hoje nós temos como representante do racismo o presidente da República, é fato. Ele contempla uma parcela da população que acha que a população negra deve morrer, que essas vidas não importam. Existe uma campanha, inclusive, chamada ‘Vidas Negras Importam’, mas infelizmente a gente ainda precisa avançar muito”, afirmou.

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

De acordo com ela, a população negra está exposta ao genocídio, ao feminicídio, que mata principalmente as mulheres negras e ao desemprego, que tem levado ao desespero a população.

“Temos os piores índices, então a sociedade brasileira precisa abraçar essa causa. Não basta reconhecer que o racismo existe, precisamos nos posicionar contrários e contrárias às pessoas que adotam políticas que prolongam o racismo nas nossas vidas. Por isso que várias entidades negras de Feira de Santana se juntam ao movimento Fora Bolsonaro. Estamos lutando contra uma pauta que é estruturante. Somos 56% da população brasileira, estamos no lugar de quem constrói esse país, do pior lugar. Sempre foi assim.”


 

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