Andrea Trindade
Após um ano e cinco meses de trabalho ininterrupto, foi desativado nesta quinta-feira, 30 de setembro de 2021, o Hospital de Campanha de Feira de Santana, unidade montada para atender pacientes com covid-19. Foram 1.566 pessoas atendidas, 1.255 altas e 263 mortes.
O hospital, que chegou a ter ocupação máxima de leitos, principalmente no pico da pandemia, em julho de 2020, e precisou ter o número de leitos ampliado, estava ontem, na véspera do fechamento, sem nenhum paciente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seis na enfermaria.
O encerramento das atividades trouxe às equipes a sensação de missão cumprida e de alívio, mas também de que por muito tempo as lembranças virão sempre à tona, tanto por conta dos momentos mais tensos, quanto dos momentos felizes e de carinho entre colegas de trabalho e pacientes.
Aos 80 anos, Antônio Ribeiro Leite foi o primeiro paciente a receber alta no Hospital de Campanha de Feira de Santana (Foto: Arquivo/PMFS)
Foram muitos dias de incertezas, cuidado, dedicação, aprendizado, tristezas, medo e também de alegria. Quando começaram a trabalhar no Hospital de Campanha no dia 4 de junho de 2020, quase três meses após o primeiro caso registrado em Feira de Santana (dia 6 de março de 2020) os servidores passaram a viver experiências únicas, que marcarão para sempre suas vidas, tanto no campo profissional quanto pessoal.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade
Funcionária do setor de higienização, Ana Paula de Oliveira, relatou em entrevista ao Acorda Cidade, os momentos que passou no hospital.
“Eu tive um pouco de medo porque estava tendo muitos casos de covid-19, vi que estava tendo muitos óbitos, mas me dediquei, tive coragem de trabalhar, de ajudar, de dar minha contribuição. Foi uma trajetória de muito aprendizado, tivemos muitos treinamentos, muita ajuda da coordenação, da liderança, e foi uma trajetória vitoriosa. Os pacientes não podiam receber visitas e a gente que estava ali limpando, fazendo a higienização, também conversava com eles. O que fica marcado é que a gente viu muitos óbitos aqui e também vimos muitas pessoas saindo recuperadas. Muitos pacientes que a gente achou que não iriam resistir conseguiram vencer a doença. Fizemos novos amigos de trabalho, ganhamos uma segunda família, amizades que vamos levar pra frente. A experiência aqui nos ensinou que a gente tem que ser humilde, ter mais amor ao próximo. Foi um aprendizado muito grande. Trabalhamos com pessoas que nos ensinaram muito”, destacou.
Ela conta que, obviamente, ficou muito feliz com a redução dos casos, mas está preocupada por ter pedido o emprego. “A gente ficou alegre por saber que diminuíram muito o número de casos de covid, porém triste porque estamos ficando desempregados”, declarou.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade
O porteiro Álef Oliveira presenciou muitas chegadas e saídas e, assim como os demais servidores, lamentou bastante pelas mortes e comemorou as altas médicas.
“Foi um período de experiência muito bom pra gente, infelizmente foram momentos difíceis que nós enfrentamos, mas com a parceria e o companheirismo de todos nós conseguimos formar um ambiente bom, onde pudemos trabalhar com confiança, respeitando os limites um do outro. foram momentos de experiências incríveis, apesar de tudo”, disse.
Ele contou ao Acorda Cidade que não contraiu a doença e que quando soube que iria trabalhar no Hospital de Campanha não teve medo.
“Por incrível que pareça eu fiquei tranquilo quando comecei a trabalhar aqui, o preconceito era maior por parte da família e dos amigos, mas eu vim trabalhar seguro, estava ciente de que a área onde eu iria trabalhar era de risco, mas foi tranquilo. Tive todos os cuidados possíveis e, graças a Deus, passei ileso”, afirmou.
Relacionamento com pacientes
Ele contou que o convívio com os pacientes era muito bom e que todos se tratavam como uma família.
“Foi a melhor experiência possível. Alguns pacientes já demostravam a saudade na hora de irem embora por causa da recepção calorosa de todos os funcionários, médicos, técnicos e enfermeiros, todo mundo se tratava como família. Eles não podiam ter seus familiares presentes com eles, mas a gente se tornou familiar de cada um enquanto prestávamos serviço e fazendo com que eles se sentissem em casa. Tivemos vários momentos memoráveis, mas os mais marcantes eram as altas dos pacientes que foram entubados e depois eram extubados para irem para a enfermaria. Os momentos tristes eram as mortes que ocorreram”, destacou.
O investimento da Prefeitura Municipal para manter o hospital é de cerca de R$ 3 milhões mensais. O primeiro caso confirmado da doença em Feira de Santana, foi também o primeiro da Bahia e do Nordeste.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
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