Viva São Cosme e Damião!

São Cosme e Damião: celebração da fé, da ciência e pureza das crianças

Eles eram irmãos gêmeos, médicos e considerados como grandes mártires da igreja católica.

Rachel Pinto

O mês de setembro tradicionalmente na Bahia e também em alguns outros locais do Brasil, é conhecido como o mês de se comer caruru e das comemorações e homenagens a São Cosme e Damião, tanto na igreja católica como no candomblé.

Atualmente, em virtude da pandemia da covid-19 e também da crise enfrentada pela economia, a frequência do caruru em celebração aos santos tem diminuído, mas a data de comemoração a eles, dia 26 se setembro na igreja católica e 27 de setembro no candomblé é sempre reverenciada como muita alegria e fé. O sincretismo religioso é muito forte com relação a São Cosme e Damião e em ambas as religiões eles são respeitados e associados a solidariedade, irmandade e ao caminho do bem.

O arcebispo de Feira de Santana, Dom Zanone Castro, contou ao Acorda Cidade um pouco da história de São Cosme e Damião e a importância deles para a igreja católica, a história e a ciência.

Eles eram irmãos gêmeos, médicos e considerados como grandes mártires da igreja católica.

“Os mártires Cosme e Damião que exerceram a sua profissão, o cuidado com as pessoas, o seu ministério sobretudo aos pobres não exigiam pagamento, por causa da fé, por causa do seguimento a Jesus, foram martirizados no século IV. O mártir na igreja tem uma importância muito grande, porque o sangue dos mártires, segundo a tradição é a semente de renovação do mundo e da igreja. Por isso que em Roma tem uma basílica dedicada a esses dois irmãos que são irmãos gêmeos e são santos. Não apenas cultuados na igreja católica, mas na igreja ortodoxa, na igreja grega e nós temos na tradição afro-brasileira esta referência que é associada a um orixá que tem essa preocupação, esse zelo, esse cuidado com as pessoas”, explicou.

Para Dom Zanone, o dia de São Cosme e Damião é uma data para agradecer a Deus pelo cuidado com a vida, sobretudo nesse tempo de pandemia, onde a medicina e a ciência são negadas por muitas pessoas.

“Eles foram homens que dedicaram a sua vida aos estudos da ciência, da medicina, exerceram a profissão de médicos com competência, dignidade e com a fé aliada ao conhecimento científico. Cuidavam dos doentes e enfermos e nós nesse tempo de negação, de corrupção com as vacinas, nesse tempo de pandemia, nós possamos fazer a oração que a igreja nos propõe: ‘Ó Deus a comemoração dos mártires Cosme e Damião proclama a vossa grandeza, pois na vossa admirável providência lhes destes a glória eterna e os fizesse nossos protetores. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo, rogai por nós são Cosme e Damião”, rezou.

Em Feira de Santana, a comunidade católica de São Cosme e Damião faz parte da igreja de São José das Itapororocas, no distrito de Maria Quitéria. O padre Zorimar Ferandes contou que as comemorações a São Cosme e Damião contaram com três dias de festa na comunidade do Ponto.

“Tivemos um tríduo preparatório para a festa dos gloriosos São Cosme e São Damião na comunidade do Ponto e ontem às 17h aconteceu o encerramento da festa. Tivemos a presença dos paroquianos, devotos, que ali estiveram na comunidade, na capela, louvando e glorificando a Deus, por intercessão de são Cosme e são Damião”, comentou.

Erivelton Daltro que é filho de santo, filho de Rosinha dos Santos do Terreiro de Ogum e Yemanjá na Fazenda Pindobal- Fulô, destacou sobre São Cosme e Damião no candomblé e trouxe um pouco da história do Brasil na época da colonização. Ele afirmou que os africanos quando chegaram à América do Sul foram proibidos de manifestarem a sua fé e práticas de adoração e por isso, alguns orixás forma atribuídos a santos da igreja católica. São Cosme e Damião foram atribuídos aos orixás crianças, os chamados ibejis.

“São Cosme e Damião para a Igreja Católica foram mártires que dedicaram a vida a Jesus Cristo, para o candomblé, São Cosme e Damião são os ibejis, as crianças. Todo orixá antes de ser adulto foi uma criança, e a criança tem muita força, tem muito a nos ensinar, por conta da pureza e todo um ensinamento de crescimento que pode passar para a humanidade”, acrescentou.

Erivelton frisou que os ibejis são celebrados com muita festa e muito louvor. Para os adeptos do candomblé e das religiões de matriz africana, os ibejis são seres de muita luz e uma corrente de fé muito forte, que pode levar embora todos os males e trazer muita paz, saúde e sabedoria.

Ele também relatou que a pandemia da covid-19 alterou a forma de comemorar esta data, mas trouxe também reflexões importantes sobre a saúde, a vida e por isso é fundamental a pureza das crianças e dos ibejis para seguir em frente e pedir que intercedam para que este mal logo se acabe.

“Que eles intercedam para que a pandemia possa passar, para que possamos comemorar o seu dia, como o dia de outros orixás, que atribuímos aos santos da igreja católica. Celebramos neste dia sempre a pureza das crianças. Então é uma forma de olhar para o sentimento puro e leva-lo para nossa vida. Esse é o sentido dos ibejis, dos seguidores do candomblé, no dia de São Cosme e Damião”, explicou.

Com informações de Maylla Nunes do Acorda Cidade.  

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