Laiane Cruz
Há mais de 70 anos, moradores da comunidade de Morrinhos, no distrito de Jaguara, buscam manter a tradição e a alegria que sentem ao participar da Bata do Feijão, realizada neste sábado (25). Juntos, os participantes celebram a colheita, compartilham histórias e esperança, por meio de uma grande festa, que revela de modo marcante o traço de fé e gratidão dos agricultores da região.
Após a colheita do feijão, os plantadores o colocam para secar ao sol em cima de uma peça de madeira, chamada de ‘moleque’. Depois desse processo, que dura em torno de 15 dias, o feijão é colocado em uma grande ‘ruma’, para ser batido por homens e mulheres com o porrete, em uma roda de cantoria.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
Durante todo esse processo, ao lado da roda, outra parte das mulheres faz a famosa ‘biatagem’, que significa peneirar o grão, retirando toda a casca e impurezas. Tudo isso é feito debaixo de sol e com muito trabalho, mas também muita cantoria, danças, sorrisos e bebida.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
Dona Filipa Alves de Oliveira, de 77 anos, todos os anos participa da Bata junto com a comunidade de Morrinhos. Em entrevista ao Acorda Cidade, ela falou sobre a alegria que sente ao ver toda a movimentação dos agricultores, as danças e as cantorias.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade | Dona Filipa
“Me sinto muito bem, fico com o coração alegre. Eu vejo o pessoal cantando, e meu coração fica feliz. Vale a pena participar”, afirmou.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
Seu Crispim Lopes de Santana, 76 anos, conhecido como ‘Zé Maduro’, contou que tem 59 netos e seis bisnetos, e com todo esse vigor após muito trabalho na roça, participa da bata para agradecer a Deus pela vida.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
“A gente se sente bem de fazer essa tradição. Todo ano chamam, e a gente vem. Eles se sentem entre amigos, e eu tenho maior orgulho de cantar na bata.”
Com 78 anos, o morador de Morrinhos Luiz Gole, há 76 participa da tradicional bata. Ele diz que já chega cantando.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
“Eu vou na Bata do Feijão e canto o batuque. Depois vai todo mundo pegar uma arupemba – tipo de peneira, feita de palha trançada ou fibra – as mulheres vão biatar, juntar o feijão e depositar no saco. Tenho 76 anos envolvidos na bata do feijão. É cantando. Canta eu, que estou batendo, e vocês que estão apreciando.”
Seu Chico de Tino, 57 anos, há oito anos também participa. “Eu plano o feijão, capino, arranco, depois boto no moleque, chamo os amigos pra gente bater de cacete e fazer a cantoria. É gratificante as mulheres cantando e batendo o feijão.”
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
Para ele, a colheita este ano foi boa e se sente agradecido pelo que conseguiu vender. “Choveu muito e com qualquer tantinho a gente ganha. Agora com sol, não ganha nada. A bata é maravilhosa, e muitos amigos vieram pra aqui.”
Ana Rita Oliveira da Silva, 49 anos, participa ao lado mãe. “Me sinto muito feliz, todo mundo cantando, bebendo e dançando. Todo mundo alegre. A colheita deu boa, e agradeço muito a Deus e a todos os trabalhadores.”
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
Bata solidária
Dono do feijão que foi levado para a bata, Fábio de Jesus dos Santos, colabora há cinco anos ao lado de toda a família com a tradição em Morrinhos. Esse ano, a celebração ganhou um propósito ainda mais especial, que é o de alimentar várias famílias carentes, por meio da doação de cestas básicas, das quais fará parte o feijão da bata.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
“É uma alegria imensa fazer um evento desse, resgatar uma cultura dessa. Tem cinco anos que a gente vem resgatando essa cultura, fazendo essa roça pra bater como antigamente, no cacete. E esse ano o feijão rendeu, pois a chuva foi boa. Acredito que em Feira de Santana só exista essa bata do feijão no porrete. E esse ano o feijão é todo destinado para o projeto Mãos Valiosas, que a gente está fazendo cesta básica pra fazer doação”, informou com grande emoção.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
Seu André Batista, 83 anos, que é um dos fundadores da Bata do Feijão em Jaguara, também relembrou como eram feitas as batas de antigamente, entre amigos, de roça em roça, com muita alegria e disposição.
“A gente levava dois ou três meses assim, batendo o feijão e cantando. Era um batuque, tinha que ter, pra o pessoal ficar mais alegre, e a bebida, que era uma batida de limão, fazia a meladinha de mel com o limão batido. Então quando terminava ali, a gente ia pra casa e no outro dia ia para outra roça. Bata da gente levar dois dias batendo, levava o dia pra secar esse feijão e levar para dentro de casa. A gente juntava e pagava trabalhador, e os agregados, pra arrancar esse feijão e molecar. Valia a pena, que todo mundo tinha feijão pra vender, comer o ano todo e guardar pra plantar”, recordou.
Foto: Davi Cerqueira/ Acorda Cidade
Com informações de Davi Cerqueira do Acorda Cidade.