Laiane Cruz
O Dia do Caminhoneiro, celebrado nesta quinta-feira (16), põe em evidência o dia a dia desses profissionais, que no dia a dia carregam na boleia do caminhão, o progresso do país e a saudade de casa, mas acima de tudo muita fé e coragem para enfrentar os riscos provenientes da vida nas estradas.
Com 25 anos de idade, Higo Silva Pinheiro dirige caminhão há cerca de 2 anos. Era um sonho almejado desde criança e sua primeira viagem sozinho foi uma grande realização.
Foto: Arquivo Pessoal
“Sou motorista carreteiro. Decidi fazer o que me fazia bem e eu desejava desde criança. Então busquei mudar a minha categoria de habilitação e fiz alguns cursos profissionalizantes. É uma área necessitada de profissionais, mas a primeira oportunidade para conseguir é muito difícil. Então por eu querer ingressar no mercado de trabalho e não ter experiência na carteira, como algumas empresas exigem, eu busquei alguns cursos para agregar ao meu currículo”, contou em entrevista ao Acorda Cidade.
Higo Pinheiro trabalha para uma prestadora de serviço de uma grande empresa do ramo de combustíveis. Apesar dos riscos diários e das dificuldades enfrentadas na profissão, ele reforça que ama o que faz.
Foto: Arquivo Pessoal
“Atualmente eu dirijo um rodotrem, modelo tanque, destinado ao transporte de combustíveis. Trabalho para uma empresa que presta serviços para outra empresa grande no ramo. Essa profissão pra mim é um sonho de criança, amo essa profissão. Costumam falar que é uma doença, porque é sem cura. Quando a gente está viajando, a gente sente saudade de casa, e quando a gente está em casa, sente saudade de estar viajando. Só quem está na profissão e ama consegue entender o amor que é estar nela”, disse.
Durante a pandemia, o caminhoneiro passou por alguns perrengues na estrada, que ele considerou como um dos momentos mais difíceis desde que começou na profissão.
“Era muito difícil encontrar lugares que servissem café, almoço e jantar, mesmo que fosse para pegar e levar. Alguns lugares elevaram muito o preço das refeições. Mas, tratando de dificuldades, elas existem todos os dias, não é fácil. Há muitas coisas que nos deixam frustrados e dá vontade de desistir, porém o amor pela profissão é maior.”
Para Higo Pinheiro, o Dia do Caminhoneiro é muito especial e a categoria deve sim celebrar esse dia.
“Esse dia tem que ser marcado, para todos nós podermos ver a importância que tem o caminhoneiro nessa nação. Temos a noção que tudo que a gente necessita, faz uso, vem através de um caminhão. Seja a bebida, comida, roupa, eletrodoméstico, o combustível, basicamente tudo vem de um motorista, um pai de família que está longe. E a gente vê muito esse impacto quando se trata de paralisações, e a nação treme. Tivemos uma paralisação há dois ou três anos. No tempo, eu ainda não era caminhoneiro, e pudemos ver como complicou a economia do país. Então quando se trata do caminhoneiro parar, muitos perdem com isso”, declarou.
Foto: Arquivo Pessoal
Há 15 anos atuando como caminhoneiro, Carlos Alberto da Silva, 56 anos, também relembrou quando começou na profissão.
“Aprendi a dirigir caminhão no exército, no 35º BI, em Feira de Santana, no ano de 86. O modelo que eu dirijo é um Volkswagem 15190, conhecido por muitos como o Bob Esponja.”
Para Carlos Alberto, muitas situações marcaram sua vida pelas estradas brasileiras, porém uma delas chamou a atenção.
“Um dos momentos mais marcantes da minha trajetória foi quando, há uns anos, no Maranhão, o caminhão quebrou, entre as 17h30 e às 18h, e era numa área indígena. Senti muito medo, porque tinha muitos índios ao redor. Mas eles foram gentis comigo e deu tudo certo. Passei a noite por lá e no outro dia, o caminhão foi consertado e eu consegui seguir viagem.”
Foto: Arquivo Pessoal
O caminhoneiro relatou que muitas dificuldades acontecem no dia a dia, porque há momentos em que o caminhão dá algum problema em lugares onde não tem oficina e não tem borracharia.
“Mas são detalhes que no dia a dia a gente tira de letra. É muito importante celebrar o Dia do Caminhoneiro, porque é uma turma sofredora, a gente passa por muitas situações difíceis.”
Cuidado com a saúde
Segundo o diretor da unidade Sest/Senat de Feira de Santana, Daniel Corrêa, o caminhoneiro é um profissional que carece de apoio na área da saúde e orientação sobre a segurança, normas e, acima de tudo, o psicológico.
“É uma categoria muito carente. Eles necessitam muito de instrução e direcionamento. Muitos deles são autônomos e têm um pouco mais de dificuldade de buscar informação. Outros são profissionais contratados por empresas e têm um direcionamento maior. Mas de fato é uma categoria que precisa da nossa atenção, de levar um pouco mais de conhecimento, normas de segurança, atendimento e respeito no relacionamento interpessoal. No Sest/Senat tudo que ele precisa com relação à saúde a gente tenta colocar à disposição, muitas vezes inclusive dentro da boleia. O apoio psicológico, por ser uma atividade estressante, a gente consegue atender remotamente e ele pode participar de uma consulta de qualquer lugar onde estiver, fisioterapia, nutrição. O Sest/Senat adaptou todas as atividades, principalmente nesse período de pandemia”, revelou Correia, ao Acorda Cidade.
O diretor explicou que em Feira de Santana a unidade também promove diversas campanhas e ações educativas, buscando promover a qualidade de vida, a saúde e o desenvolvimento desses profissionais.
“São realizadas nos locais que eles desenvolvem suas atividades, normalmente em postos de combustíveis nas rodovias, onde a gente leva profissionais de saúde, promove aferição de pressão, teste de glicemia, sempre que possível, e a vacinação, quando temos a parceria dos órgãos de saúde do município. Nossa intenção é que eles se mantenham saudáveis e saibam os serviços que têm disponíveis aqui na unidade, para que eles possam desenvolver suas atividades com mais segurança e produtividade. Esse apoio ocorre durante todo o ano.”
3 datas comemorativas
O Dia do Caminhoneiro é comemorado em três datas durante o ano, que são o dia 30 de junho, 25 de julho e 16 de setembro. Conforme Daniel Correia, as três datas existem por conta de quem os representa, como o sindicato, as empresas de transporte e a própria categoria.
“Essas datas são importantes para que a sociedade tome conhecimento do nível de importância do exercício da profissão de caminhoneiro. Já tivemos a experiência de acompanhar um período de crise, como foi a parada que eles fizeram em todo o Brasil, o quanto trouxe de consequência negativa para a população, como o desabastecimento, tanto de combustível quanto de insumos e produtos de saúde. Então é legal que a gente faça esse reconhecimento, sempre que for possível, e que eles possam ser cada vez mais respeitados, ter apoio e estrutura para continuar carregando e transportando por esse país.”
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.