Polícia

Cicom registra média de 17 casos de violência contra a mulher por dia em Feira de Santana e região

Acerca da quantidade de medidas protetivas expedidas pela Justiça, em 2020, foram 540 decisões, e até o dia 20 de julho, um total de 185.

Laiane Cruz

O Centro Integrado de Comunicação da Polícia Militar (Cicom), que atende a Feira de Santana e mais 16 municípios, já registrou 3.107 ocorrências de violência contra a mulher no primeiro semestre deste ano, numa média de 17 por dia. Em 2020, foram computadas 3.622, 14% a mais na comparação do período.
Apesar da leve queda nos registros em 2021, os números continuam altos e ocorrem mesmo diante de diversas campanhas de conscientização sobre o tema.

De acordo com a soldado Jamile Coutinho, auxiliar de coordenação do Cicom em Feira, as denúncias envolvendo violência doméstica ocupam o segundo lugar no ranking de ligações. Em primeiro vem a perturbação do sossego público, que teve 15.971 ocorrências registradas nos primeiros seis meses deste ano.

“No Cicom hoje a principal denúncia é em relação à perturbação do sossego público. As denúncias de violência contra a mulher estão em segundo lugar. Dessas denúncias, os principais tipos de ocorrências são as agressões físicas e as ameaças. Hoje essas ocorrências de violência contra a mulher, em 90% delas, são deslocadas viaturas para ir até o local onde está a vítima. Os outros 10% é quando a mulher desiste, liga pra cá e diz que a ocorrência já foi solucionada no local e que não precisa mais da presença da viatura”, informou Jamile Coutinho ao Acorda Cidade.

Ela reforçou a importância da denúncia para livrar mulheres vítimas de agressão, uma vez que grande parte dessas mulheres não consegue se desvencilhar dessa situação sozinhas. Portanto, vizinhos, parentes e amigos, além da própria vítima, devem denunciar o agressor.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
 

“Quando a mulher faz a ligação ou alguém que está visualizando a agressão, ela é atendida, e a gente pergunta o que está acontecendo no local, detalhes do endereço, e uma viatura é deslocada até lá. Caso haja a necessidade há o encaminhamento para a delegacia. Nós dizemos sempre que em briga de marido e mulher se mete a colher sim. Pois muitas vezes é o vizinho que escuta a agressão ou um transeunte que passa e vê uma mulher ser agredida e liga. É a possibilidade que temos de socorrer aquela mulher em situação de violência, pois muitas vezes ela não consegue se desvencilhar sozinha e fazer a ligação. Por isso frisamos a importância da denúncia”, reforçou.

Os canais de denúncia contra a violência doméstica do Cicom são o 190, 193 e 197, para casos de emergência, quando a violência está acontecendo. E também o 180, que é um número para todo o Brasil.

“Uma relação violenta não é apenas agredir a mulher, é também tirar o direito dessa mulher de ir e vir. Um ciúme excessivo no relacionamento também não é saudável. Há sempre a romantização de que o homem tem ciúme porque ama, não deixa sair porque quer que fique apenas com ele, não quer que ande com os amigos, porque não são bons. Na verdade, esse homem está cerceando o direito dessa mulher e tirando toda a individualidade dela para que no futuro ela se torne dependente emocionalmente dele e muito possivelmente esse relacionamento vai terminar em uma agressão física. Então dizemos sempre que estejam atentas, fiquem seguras, porque uma relação não envolve ciúme, posse e controle”, orientou a policial militar.

Deam

Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade
 

Já a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) registrou, em todo o ano de 2020, 2.748 ocorrências de violência contra a mulher. Até o dia 20 de julho, foram 1.556 registros.

Do total de ocorrências, o crime de ameaça lidera com 1.230 denúncias em 2020, e até o dia 20 de julho deste ano, 602. Ocupa o segundo lugar denúncias sobre lesão corporal. Em 2020 foram 711 registros desse tipo, e 326 até o dia 20 deste mês.

De acordo com a delegada Maria Clécia Vasconcelos, titular da Deam em Feira, a perspectiva é que o número de denúncias na delegacia se mantenha estável no comparativo com o ano anterior.

“É fato que a pandemia tem refletido, consideravelmente, no número desses registros. Mas há de se considerar uma série de fatores. Aqui estamos colocando mais o contato prévio dessa mulher com uma assistente social na Deam e com psicóloga para ela se fortalecer, entender o processo de violência a que está submetida. A gente tem percebido um número muito grande de desistências. Tudo isso é um cenário novo”, esclareceu a delegada em entrevista ao Acorda Cidade.

Reincidência e subnotificação

Conforme Clécia Vasconcelos, a equipe da Deam tem percebido também um alto índice de reincidência por parte dos agressores, alguns que já foram autuados em flagrante ou presos, e voltam a praticar a violência contra a mulher. Outra situação trazida pela pandemia foi a subnotificação dos casos, no entanto a delegacia tem contato com o apoio do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA).

“Temos um número alto de reincidências, de indivíduos que já foram autuados em flagrante delito, foram presos. E quando se fala em subnotificação é preciso ressaltar a parceria e comprometimento do Hospital Clériston Andrade, na perspectiva da assistência social. Eles têm notificado esses agravos de estupro e violência com uma frequência bem maior.”

Medidas protetivas

Acerca da quantidade de medidas protetivas expedidas pela Justiça, em 2020, foram 540 decisões, e até o dia 20 de julho, um total de 185.

De acordo com a delegada, a Deam vem fazendo um trabalho de orientação junto às mulheres vítimas de violência, pois muitas vezes elas preferem não aplicar a medida protetiva aos seus companheiros.

“Quando uma mulher registra uma ocorrência por crimes que precisam de representação, ou seja, dela dizer que quer o prosseguimento do feito ou não, nós possibilitamos, caso ela queira, uma audiência com a psicóloga e assistente social, porque às vezes o que falta é um diálogo, um elo para dirimir certas questões, e a gente tem percebido que muitas vezes ela não quer a medida protetiva. Então é preciso fazer esse filtro. A gente faz isso a pedido dela, proporciona esse momento e tem surtido efeito.”

Com informações dos repórteres Ed Santos e Aldo Matos do Acorda Cidade
 

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