Acorda Cidade
O gosto pela leitura e o prazer de despertá-lo nas crianças marca a trajetória de educadoras baianas na literatura infantojuvenil. Uma nova geração de escritoras tem aumentado a representatividade feminina nas páginas de livros. Quem ganha com esse despertar literário é o público, que pode desfrutar de histórias escritas com criatividade e muita sensibilidade.
“Quando escrevo penso na criança como leitora inteligente, que carrega também experiências, saberes, desejos. Aprendi, durante 17 anos trabalhando como professora alfabetizadora, que as crianças necessitam muito ser escutadas e não apenas ouvidas”, destaca Márcia Mendes.
Filha de costureira e um caminhoneiro, Márcia cresceu sem acesso a muitos livros mas os “causos” que ouviu da mãe foram inspiradores. Antes de ler a palavra na página já lia o mundo cercado por tecidos de várias cores, linhas, agulhas, tesouras de vários tamanhos e o som, quase como um mantra, da máquina de costura. “Enquanto ela tecia, eu lia o que tinha e nas linhas ia puxando fios e fios para tecer as minhas histórias”, relembra.
Com quatro livros publicados, Márcia Mendes comemora o fato da Editora Inverso ter escolhido uma de suas obras, E o Cravo brigou com a Rosa, lançada em novembro, para ser inscrita no Prêmio Jabuti. Com ilustrações de Bianca Lana, a narrativa do livro é de liberdade, poesia e muitas interrogações. “Afinal, a quem interessa uma rosa submissa? Uma rosa presa em um jardim tendo que seguir igual a todas as outras flores? Para que serve mesmo o diálogo? Qual o sentido de termos, ainda hoje, tantas rosas sem florescer?”, questiona a autora.
Palmira Heine, professora da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), também teve o livro A outra história de Dona Baratinha, selecionado pela editora. Diferentemente da fábula original, a personagem empoderada valoriza as pessoas além das aparências e posses, repensa o casamento e resolve correr atrás de seu sonho, que é cantar. “Assim, a Baratinha viaja para Paris onde participa do Bicharada's Voice e derrota o passarinho cantor, o grilo e até a cigarra que sabia cantar desde sempre”, diverte-se Heine com a mensagem que, nas entrelinhas, valoriza a autoestima e realização pessoal.
No total, a autora já coleciona 15 títulos dedicados a crianças e adolescentes. “Palmira Heine tem uma escrita ampla, que aborda, ora com delicadeza, outrora com objetividade, temas importantes do imaginário infantil. A linguagem coesa e coerente, juntamente com personagem bem construídos, aproxima leitores. Os temas socioemocionais propostos por Palmira – autoconhecimento, quebra de estereótipos e enquadramento social – nos permitem o despertar de novos olhares através da literatura”, acrescenta Cristina Jones, publisher da Editora InVerso.
Para a inscrição no Prêmio Jabuti deste ano, foram analisados cerca de 150 livros publicados pela InVerso. Segundo Jones, a temática e a qualidade gráfica das obras foram levadas em conta nessa escolha. “O livro vai concorrer com obras de muita qualidade. Para mim, a indicação já é um prêmio”, conclui Heine.
Sobre as autoras:
Palmira Heine é escritora, poeta e professora universitária. Além da vasta obra acadêmica, assina 15 livros infantis. São algumas de suas obras: Mila, a pequena sementinha, O pontinho desapontado, O reino todo amarelo, O autor é você, Amendoim, a tartaruguinha encantada, O lápis mágico, Uma amizade no mundo dos números, A dieta maluca das letras e O Sonho Azul. Com textos, poemas e contos publicados em diversas antologias nacionais e internacionais, é também organizadora de publicações de outras autoras.
Nascida em Catu, acolhida por São Sebastião do Passé, também no interior da Bahia, Márcia Mendes é apaixonada por brincar de escrever e escutar histórias. Escritora e professora, ela divide a paixão pela formação de professores com a literatura. Dandara, cadê você? e Quem é Amora?, são suas duas primeiras publicações, ambas lançadas no ano de 2018 pela editora Metanoia, do Rio de Janeiro. Na sequência, escreveu E o Cravo brigou com a Rosa e A Gata que não era Xadrez.