Saúde

Atenção aos sinais do corpo é alerta para diagnóstico de tumores no ovário, 7ª maior causa de morte por câncer em mulheres

8 de maio - Dia Mundial do Câncer de Ovário.

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Oito entre dez casos de câncer de ovário são descobertos em fase avançada. Sintomas como dificuldade para se alimentar, dor pélvica e/ou abdominal, sangramento vaginal anormal, mudança no hábito intestinal, fadiga extrema e perda de peso, embora associados também com outras doenças, são alertas importantes para um diagnóstico mais precoce

Por não haver um método eficaz de rastreamento, o câncer de ovário é diagnosticado na maioria dos casos quando as mulheres apresentam sintomas que refletem doença mais avançada. Em 80% dos casos, este tipo de câncer é diagnosticado quando não está mais restrita ao ovário, tendo disseminado para linfonodos, outros órgãos da região pélvica e abdominal ou até mesmo, para órgãos à distância, como pulmão, osso e sistema nervoso central, mais raramente.

Esta alta taxa de diagnóstico tardio impacta no resultado do tratamento. Menos da metade das pacientes (48,6%) vivem por mais de cinco após o diagnóstico. Comparativamente, quando a doença é identificada ainda restrita ao ovário, a chance de viver por mais de cinco anos sobe para 92,6%. “Quando a doença é descoberta mais precocemente, pode-se oferecer um tratamento curativo, com melhores resultados, que será guiado com base na classificação realizada pelo médico patologista quanto ao tipo e agressividade do tumor. É a avaliação anatomopatológica, dentre outros fatores, que aponta a extensão da doença, assim como indica se a resposta à quimioterapia foi completa, alterando o destino das pacientes no que diz respeito a tratamento”, explica o médico patologista da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Leonardo Lordello.

Com o objetivo de identificar e difundir para o público as melhores estratégias para que a doença seja descoberta mais precocemente, a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) se une à World Ovarian Cancer Coalition no Dia Mundial do Câncer de Ovário, movimento global de conscientização sobre a doença, que é celebrado neste sábado, dia 8 de maio.

Criada em 2013, a coalização reúne atualmente mais de 140 organizações – http://worldovariancancercoalition.org/.

COMO DIAGNOSTICAR PRECOCEMENTE?

Diferentemente do que ocorre com os exames de Papanicolau, mamografia e colonoscopia, que funcionam como métodos de rastreamento, respectivamente, para câncer de colo do útero, mama e colorretal, com o câncer de ovário não há uma metodologia eficaz. “Houve tentativas com o marcador CA125 ou exames de imagem, mas os estudos mostraram que oferecer essas avaliações para população assintomática (sem sintomas) não resultou em redução de mortalidade”, explica Leonardo Lordello.

Outro complicador é o fato de que os sintomas que podem alertar para o surgimento de tumores de ovário também são comumente associados com outras doenças. Embora esses sinais de alerta sejam inespecíficos, a atenção a eles pode ser um caminho para o diagnóstico mais precoce. Os principais são aumento do abdômen, dificuldade para se alimentar, dor na região pélvica e/ou abdominal, sangramento vaginal anormal (principalmente pós-menopausa), mudança no hábito intestinal, fadiga extrema e perda de peso.

A IMPORTÂNCIA DA CLASSIFICAÇÃO CORRETA DE CADA TUMOR 

Em um cenário no qual predomina uma doença com alta taxa de mortalidade, a correta definição do tipo de lesão, apontando se ela é benigna ou maligna (câncer), torna-se ainda mais importante, assim como a indicação de seu tamanho, grau de agressividade, perfil biológico, capacidade de se espalhar e potencial resposta aos tratamentos disponíveis no caso de malignidade. Ressalta-se que, assim como a maior parte dos diagnósticos de câncer, apesar da anamnese e exames de imagem poderem identificar a presença de um tumor ovariano, a natureza desse tumor quanto à malignidade só será definida a partir da avaliação realizada por um médico patologista. No contexto do câncer de ovário, essa avaliação pode ocorrer antes da cirurgia, geralmente em casos avançados, para determinação de quimioterapia neoadjuvante; durante a cirurgia, através do exame intraoperatório por biópsia de congelação; ou após a cirurgia, para avaliação da extensão da doença e/ou resposta ao tratamento.

Em cerca de 90% dos casos, os tumores malignos do ovário são derivados de células epiteliais que revestem o ovário e/ou a trompa. O restante provém de células germinativas (que formam os óvulos) e células estromais (que produzem a maior parte dos hormônios femininos), sendo esses casos mais frequentes em adolescentes e mulheres mais jovens. Dentre os tumores malignos epiteliais de ovário, cerca de 70% deles são carcinomas serosos, que podem ser de baixo ou alto grau. “Embora agressivos, tumores serosos de alto grau, com disseminação mais rápida e comprometimento maior do ovário e órgãos adjacentes, são, geralmente, mais responsivos à quimioterapia”, comenta Lordello.

De maneira geral, o câncer tem início em um dos ovários. Embora numa parte dos casos possa haver doença em ambos os ovários (envolvimento bilateral), acredita-se que isso ocorra de maneira metastática de um ovário para o outro. Além dessa disseminação, as células malignas frequentemente podem acometer a cavidade pélvica e/ou abdominal, podendo formar tumores que causam compressão do reto ou da bexiga, além de comprometer útero e/ou vagina. Em casos mais avançados, a doença pode, ainda, disseminar para outros sítios à distância, como fígado, pulmão e osso, mais tardiamente.

FATORES DE RISCO 

Similarmente ao que ocorre com a maioria dos casos de câncer de mama, os tumores malignos de ovário surgem, em cerca de 80% dos casos, por influência direta dos hormônios. Infertilidade e questões associadas com maior frequência de ciclos menstruais mensais como menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade (nunca ter tido filhos), dentre outras, assim como obesidade e tabagismo, são os principais fatores de risco.

Dentre os efeitos protetores estão o controle do peso, alimentação equilibrada e prática de atividade física, assim como o uso de contraceptivos orais por pelo menos cinco anos. Gestação, assim como a amamentação, colaboram na diminuição do risco de desenvolver câncer de ovário.

HEREDITARIEDADE 

Estima-se que cerca de 20% dos casos de câncer de ovário estão ligados a mutações de origem hereditária, estando ligados principalmente à síndrome de câncer de mama e ovário, cuja principal mutação é no gene BRCA1. Em caso de história pessoal ou familiar de primeiro grau de câncer de mama e/ou ovário é válido se consultar com um oncologista, que poderá indicar uma avaliação junto a um médico geneticista. As mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 representam cerca de metade dos tumores hereditários de ovário. Há outras síndromes ligadas a mutações hereditárias que são associadas a câncer de ovário, como síndrome de Li-Fraumeni, síndrome de Lynch, síndrome de Peutz-Jeghers e síndrome de Cowden.

FAIXA ETÁRIA E DECISÃO CLÍNICA

 O câncer de ovário é mais prevalente a partir dos 60 anos, quando a mulher não se encontra mais em fase reprodutiva. No entanto, a doença pode ser diagnosticada também por mulheres mais jovens, principalmente nos casos de hereditariedade. As mulheres mais jovens, em fase reprodutiva, que têm uma predisposição hereditária para desenvolver câncer de mama, podem optar por acompanhamento clínico mais precoce e frequente. A paciente é orientada também sobre a possibilidade de fazer a cirurgia profilática (retirada preventiva dos ovários e trompas, para reduzir o risco de desenvolver a doença). É importante a paciente ser orientada por seu oncologista e ter acesso também a um serviço de aconselhamento genético, coordenado por um geneticista. 

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