Gabriel Gonçalves
O Centro de Referência Maria Quitéria, localizado na Rua Domingos Barbosa de Araújo, bairro Kalilândia, em Feira de Santana, é uma instituição municipal que acolhe mulheres em situação de violência doméstica familiar ou violência de gênero, por simplesmente ser mulher.
Segundo a coordenadora do órgão, Josailma Ferreira, durante esse período de pandemia, os atendimentos não foram suspensos e, apenas nos dois primeiros meses deste ano, 68 novos casos de violência foram registrados.
"O atendimento não deixou de acontecer e percebemos através dos dados um aumento dos casos de violência contra a mulher. No mês de janeiro deste ano, foram 32 casos e no mês de fevereiro, 36. São situações que chegam por demandas espontâneas ou por encaminhamento da delegacia, no objetivo que possamos acompanhar essas vítimas", informou a coordenadora ao Acorda Cidade.
Muitas vezes pode passar despercebido, mas de acordo com Josailma, um dos tipos de violência mais registrados em Feira de Santana é o psicológico.
"Independente da mulher registrar queixa ou não, é a violência psicológica, porque muitas vezes, passa despercebida como humilhações, insultos, um tapa forte na mesa, um murro na parede que o homem dá no sentido de coagir esta mulher, intimidar. Logo em seguida, existe a violência patrimonial, percebemos nesse período da pandemia, por conta do benefício emergencial, o que acaba refletindo. Os parceiros acabam retornando e querendo dominar esse auxílio, querem tomar o cartão, dizer o que vai e o que não vai ser gasto e nesse processo de pandemia em que o governo favoreceu um valor mais alto para mães solteiras, os homens se aproveitaram desta situação, o que levou a alguns registros por conta disso. Fora brigas por questão de herança, partilha de bens, essas não são aplicadas como violência patrimonial, mas aqui no Centro de Referência, nosso setor jurídico orienta essas mulheres, para dizer quais são os direitos dela", afirmou.
A violência física também integra os dados registrados no Centro de Referência Maria Quitéria. Segundo Josailma Ferreira, os companheiros praticam violência até contra animais de estimação, como forma de intimidar e ameaçar as mulheres.
"A violência física nos chama a atenção e estes são provocados por empurrões, enforcamentos, colocar a mão no pescoço da vítima para tentar asfixiar esta mulher. Enquanto técnica, eu já fiz um atendimento a uma mulher, que o homem não a agrediu, mas sim, o animal de estimação, para afetar psicologicamente, como forma de dizer, 'o que faço com ele, faço com você também', e infelizmente já tivemos casos aqui em nosso Centro de Referência", declarou.
Como é feito o encaminhamento das mulheres vítimas de violência?
De acordo com Josailma, as vítimas ao chegarem ao Centro de Referência, passam por um processo de atendimento, onde esclarecem o que está acontecendo, e após essa entrevista, são encaminhadas para o setor jurídico ou de saúde.
"Quando essa mulher chega aqui no Centro, ela é acolhida logo na recepção e encaminhada para o serviço de atendimento, uma escuta qualificada com profissionais de psicologia e de serviços sociais, onde nesse momento, ela passa a relatar a história de vida e de violência. A equipe vai identificar quais são as demandas, seja para o jurídico, seja para encaminhar para a área da saúde, assistências ou benefícios emergenciais. Então olhamos essa mulher como um todo, porque a violência adoece, não só a vítima, como a família, então trabalhamos na perspectiva de cuidar dessa mulher e referenciá-la para uma rede de proteção", disse ao Acorda Cidade.
Para Josailma, o processo da pandemia que vem se arrastando desde o ano passado contribuiu para o aumento da violência contra a mulher.
"O fato do isolamento e da perda de um emprego não justificam a violência. Quem é agressivo, será agressivo independente de período e da situação. Esse homem pode se tornar até mais agressivo, mas não justifica essa relação e os dados apontam e mostram o aumento da violência contra a mulher nesse processo de pandemia. Hoje em Brasília, temos uma central do disque 180 e o disque 100 e as mulheres podem também recorrer a estes dois meios de comunicação", concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade