Acorda Cidade
Com os índices de cobertura vacinal ainda distantes, no Brasil, da meta estabelecida pelo Programa Nacional de Imunizações, especialistas e profissionais de saúde reforçam que as vacinas desatualizadas podem significar um alto risco à população, possibilitando a reintrodução de doenças graves já erradicadas.
Para a coordenadora Fabiana Porto, do Ihef Vacinas, além de segura, a imunização na idade certa é fundamental. “Muitas vezes, as pessoas não dão importância, porque não estão vendo mais casos aparecerem, e o que acontece é que a baixa cobertura vacinal permite que uma doença imunoprevenível, ou seja, que pode ser evitada de forma eficaz, possa voltar a aumentar”, alerta.
Médica pediatra, com atuação também junto às salas de vacina, Eliana Chagas reforça a importância da vacinação para a saúde coletiva. “A falta de cobertura vacinal pode levar ao reaparecimento de doenças, a um maior número de sequelas, hospitalizações e mortes”, adverte.
Queda nos índices de imunização
Dados do Ministério da Saúde evidenciam o motivo da preocupação dos profissionais: o Brasil segue apresentando queda, nos últimos 5 anos, na cobertura do calendário de vacinação. Entre as 15 vacinas preconizadas para o público infantil, mais da metade não batem as metas desde 2015. A chamada “BCG”, aplicada em recém-nascidos para evitar a tuberculose, chegou a apenas 63,88% de cobertura em 2020, de acordo com números do DataSus. A poliomielite – doença que pode atingir o sistema nervoso, levando à paralisia, e que não tem cura, mas pode ser prevenida através da vacina – também ficou longe, ano passado, da cobertura preconizada; apenas 65,57% das crianças tiveram aplicada a dose do imunizante.
“Nós temos hoje o sarampo, que voltou com força total justamente por conta dessa desatualização”, explica Fabiana Porto.
A recomendação, aponta ela, é que as pessoas com esquema vacinal incompleto procurem o serviço de saúde público ou particular para garantir a imunização.
Prevenção a doenças fatais
Em índices gerais, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que as vacinas evitam de 2 a 3 milhões de mortes anualmente e poderiam salvar mais de 1,5 milhão de vidas, se a imunização fosse ampliada.
Um estudo da Universidade de Oxford aponta ainda que o quantitativo de mortes de crianças por doenças para as quais existem vacinas caiu de 5,5 milhões, na década de 90, para 1,8 milhão, em 2017. Apesar disso, estatísticas da OMS mostram que 20 milhões de crianças estão, hoje, suscetíveis a doenças por falta de imunização.
O cenário foi intensificado, diante das restrições necessárias para evitar a expansão do coronavírus. Especificamente no Brasil – considerado referência em programas de imunização – isso também foi sentido, com impactos em todos os estados. “Observamos na pandemia, uma diminuição grande dos pacientes de vacinas. Isso aconteceu pelo próprio isolamento e pelo receio do paciente de chegar ao consultório, subir pelo elevador, dentre outras ações consideradas de risco para o momento” relata a pediatra Eliana, que tem recomendado aos pacientes que atende em Feira de Santana, que não deixem de atualizar a caderneta, seja através de um agendamento prévio para evitar contato com outras pessoas na sala de vacina, seja por meio de imunização em domicílio.
“Recomendamos os cuidados básicos, que são manter a distância, higienizar as mãos, utilizar a máscara obrigatória. Para as mães com bebês de colo, que atendo, tenho recomendado usar um paninho na região do nariz e da boca”, completa a médica.
Quais vacinas tomar?
Fabiana listou as principais doses do calendário infantil: BCG e Hepatite B, ao nascer, Pentavalente, Poliomielite, Pneumocócica, Rota Vírus, Meningocócica, Influenza, Febre Amarela, Tríplice Viral, Hepatite A, Varicela e BCP. De acordo com ela, entretanto, não é apenas a caderneta das crianças que deve ser atualizada.
Entre as vacinas adulto estão a Tríplice viral, Hepatites A e B, HPV, Tríplice bacteriana, Varicela, Influenza, Meningocócicas e conjugadas ACWY/C, Meningocócica B, Febre amarela, Pneumocócicas e Herpes zóster.
“A vacina contra herpes-zóster, que é uma doença seríssima, faz parte do calendário adulto e é muito importante. Ela é administrada em dose única, pela rede particular, em pessoas a partir dos 50 anos, para evitar a doença causada pela reativação do vírus da varicela, também conhecida como catapora”, observa Dra. Eliana Chagas.
Vacinas covid-19
A expansão do novo Coronavírus acentuou as tensões quanto à imunização. Se, por um lado, a crise sanitária gerou efeitos na redução da procura por vacinas previstas no calendário anual – com pessoas adiando a ida aos postos e rede particular devido ao receio do contágio –, por outro, deu início a uma corrida pelo imunizante contra o SARS-CoV-2.
A autorização para o uso emergencial das primeiras vacinas contra a covid-19, desenvolvidas pela comunidade científica, foi dada no dia 17 de janeiro, no Brasil, com o início da imunização para o grupo prioritário, via Sistema Único de Saúde (SUS).
O quantitativo restrito de doses disponíveis, no entanto, ainda é um desafio, frente ao aumento significativo do número de infectados. A previsão é que a rede pública avance, mediante chegada das doses, com as etapas do Programa de Imunização. Na rede privada, ainda é necessária a avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e o IHEF Vacinas, do Grupo Meddi, informa que deve estar entre as primeiras clínicas, em Feira de Santana e Salvador, a adquirir os imunizantes. “Temos previsão. Foi realizado o pedido de uso à Anvisa e está para ser avaliado, mas já estamos na lista de compras”, revela a coordenadora Fabiana Porto.