Acorda Cidade
Pouco frequente entre os outros tipos de cânceres de pele, o melanoma costuma ser mais agressivo no organismo. Com origem nos melanócitos, células produtoras de melanina, substância que determina a cor da pele, o melanoma é mais comum em adultos da pele clara, podendo aparecer em qualquer parte do corpo ou mucosas na forma de manchas, pintas ou sinais.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a dermatologista Flávia Bastos Tedesqui afirmou que a existência desse tipo de câncer é causada por alguns fatores. Acompanhe a entrevista na íntegra.
Foto: Arquivo Pessoal
Ac: Quais são as causas do melanoma?
Dermatologista: O melanoma possui alguns fatores que consideramos como fatores de risco. Dentre eles, estão a herança familiar (genética), ela é um importante fator de risco, e aliado a isso, temos alguns fatores ambientais como a exposição solar, a história de queimaduras solares na infância, as pessoas que se bronzeiam muito e que desde a infância já são expostas ao sol. Além disso,apresentam múltiplos sinais, tem pessoas que tem muito sinais, e também tem a chance mais aumentada, pessoas de pele clara, e também consideramos ser um fator de risco, pessoas submetidas a bronzeamento artificial e as câmaras de bronzeamento.
Ac: Quais são as características desse câncer de pele?
Dermatologista: O melanoma, na maioria das vezes, se apresenta como manchas escuras, que muitas vezes são confundidas com os sinais comuns que a maioria de nós temos. Ele pode aparecer em qualquer parte da pele, seja no corpo, seja nos pés, seja nas unhas, seja na planta dos pés que é um local que as pessoas geralmente não fazem essa observação, até mesmo em mucosas, dentro da boca, nos olhos, toda a pele, e até no couro cabeludo surgir a melanoma.
Ac: As pessoas que possuem muitos sinais, é comum ou devem procurar o médico dermatologista?
Dermatologista: O médico dermatologista é o especialista para fazer esse tipo de diagnóstico. Existem sinais que sabemos que são claramente benignos, então desde o início eles se mostram com um padrão benigno e eles vão permanecer assim pelo resto da vida. Existem outros que podem sofrer algum tipo de transformação e nesse caso eles precisam ser avaliados e retirados, muitas vezes encaminhados para a biópsia e existem aqueles melanomas que já se apresentam como melanomas desde o início, mas são confundidos no meio ali dos sinais benignos, então por isso que é muito importante fazer uma avaliação pelo menos uma vez ao ano com o dermatologista e quando a pessoa tem fatores de risco extra, como falei da genética, herança familiar, muita exposição ao sol, elas devem encurtar esse intervalo de avaliação.
Ac: Aparece em qualquer parte do corpo?
Dermatologista: Em qualquer parte da pele, a pele é o maior órgão do corpo humano e por isso fazemos essa observação e chamamos a atenção das pessoas para essa possibilidade do aparecimento do melanoma. Existem algumas regrinhas que usamos como manchas com assimetria, que observamos um lado diferente do outro, manchas com bordas irregulares, com várias cores dentro da mesma mancha, marrom claro, marrom escuro, preto, dentro da mesma mancha, isso também não é um bom sinal, além de mudança no padrão do sinal ao longo da vida, isso também chama a atenção.
Ac: São manchas grandes ou pequenas?
Dermatologista: Nos casos iniciais, aparecem como manchas pequenas, mas muitas vezes passa despercebido, ou pela própria pessoa, ou pelo médico. Por isso, é importante fazer essa avaliação com o médico dermatologista para diferenciar ali quais são os fatores de risco. Verificar quais são os fatores de risco que a pessoa tem, ver se ela precisa de um acompanhamento mais de perto, ou se ela pode fazer o seguimento anual. Por isso que se faz necessário essa avaliação com o dermatologista.
Ac: Quem tomou muito sol na infância, vem repercutir na fase adulta?
Dermatologista: Sim, o sol é o que chamamos de fator carcinogênico, a radiação solar é capaz de mudar a estrutura do DNA das nossas células, e essa mudança vai se acumulando ao longo da vida. Então sabemos que existe na nossa pele, um mecanismo de reparo do DNA para esses danos causados pelo sol, mas nem sempre esses mecanismos são 100%, às vezes ocorre algum escape nesse dano que o sol causou na pele. Lembrando que esse dano é comum ativo, então o sol que tomamos na infância ele se perpetua como memória para a pele e isso muitas vezes se apresenta na fase mais avançada de idade como manchas e às vezes até como melanoma.
Ac: Qual é o melhor horário para obter vitamina D pelo sol?
Dermatologista: Nós devemos evitar o sol entre às 10h e às 15h. Lembrando que existem partes no nosso corpo que elas estão mais expostas no dia a dia do que outras. Por exemplo, o nosso rosto fica mais exposto ao sol no dia a dia, do que o nosso abdômen, então não é incomum. No consultório quando vamos fazer o exame do paciente, verificamos que existe uma diferença importante entre a pele por exemplo, do abdômen e a pele do rosto. Se a pele do rosto toma muito mais sol, então o que orientamos é que quando for tomar o sol, com esse objetivo de aumentar a vitamina D, que procure expor uma área que é menos exposta no dia a dia, procurar a região do abdômen por exemplo, que é muito menos exposta do que o rosto em algumas pessoas. Orientamos esse tipo de detalhe para com o objetivo de exposição para a vitamina D.
Ac: As pessoas de pele clara têm uma tendência maior de ter esse tipo de câncer?
Dermatologista: Tem sim. O melanoma é mais comum em pessoas de pele clara e olhos claros, existe um outro tipo de câncer, um subtipo do melanoma, chamado de melanoma acral que é visto mais em pessoas morenas e negras, porque esse tipo de melanoma acral, aparece nas pontas dos pés e nas unhas. Mas, o tipo de melanoma do corpo, é sim mais comum em pessoas de pele clara.
Ac: Tem tratamento?
Dermatologista: Tem tratamento, e uma coisa muito importante é o tratamento baseado no diagnóstico precoce, quanto mais cedo fazemos esse diagnóstico, mais efetivo será esse tratamento e será um tratamento menos desgastante para o paciente.
Ac: Algumas pessoas acreditam que o câncer de pele é bobagem. Câncer de pele mata?
Dermatologista: O melanoma sim, ele mata e é responsável por 75% das mortes quando estão associadas ao câncer de pele. Então é um tipo de câncer menos comum na pele, mas é um dos mais agressivos e por isso devemos ter atenção.
Ac: Então é preciso ter realmente cuidado dobrado com qualquer mancha?
Dermatologista: Sim, precisa sempre da avaliação do especialista para tranquilizar este paciente. Na própria consulta conseguimos através de um aparelho chamado dermatoscópio ampliar cada sinal, ampliar cada mancha e às vezes conseguimos tranquilizar o paciente no próprio consultório, e às vezes precisamos enviar para a biópsia, então esse tipo de avaliação só mesmo o especialista para fazer.
Ac: Quais são os meios de prevenção?
Dermatologista: A genética não podemos mudar, nossa herança genética já vem desde o nosso nascimento, mas existem fatores ambientais e dentre eles, o principal é o sol. Devemos reforçar o uso do protetor solar, evitar as câmeras de bronzeamento que algumas pessoas ainda hoje utilizam, mesmo os veículos de informação estarem aí sempre alertando que aumenta o risco de câncer de pele, mas mesmo assim algumas pessoas ainda fazem uso desse tipo de aparelho. Tudo isso já aumenta a chance do melanoma, alinhado a essa genética que a pessoa já possa ter.
Colaborou a estagiária de Jornalismo Ana Clara Pamponet