Covid-19

Infectologista do município alerta para pior momento da pandemia e pede esforço de todos: 'Precisamos parar de culpar um ao outro'

Diante da atual situação, a infectologista destacou que o município chegou a uma situação de esgotamento do serviço de saúde, sem previsão de melhora.

Laiane Cruz

A infectologista Melissa Falcão, que coordena junto à Secretaria de Saúde, as ações de enfrentamento ao coronavírus em Feira de Santana, afirmou na manhã desta segunda-feira (1º), durante coletiva de imprensa, que desde que o primeiro caso de Covid-19 foi registrado no município, há quase um ano, esse é o pior momento da epidemia até hoje na cidade.

“O primeiro caso na nossa cidade foi dia 6 de março e quando chegamos a esse ponto vimos o pior momento da epidemia que já tivemos até hoje. Então enquanto era esperado que com o passar do tempo fossemos conseguindo um maior controle e esse vírus fosse perdendo força, ele está ganhando força, ele tem uma capacidade de mudar muito grande. Junto com essa mudança está vindo uma agressividade muito maior nos casos e nas manifestações”, alertou a especialista.

De acordo com Melissa Falcão, hoje mais de 100 pessoas estão internadas no município, confirmadas para coronavírus, algo que nunca tinha acontecido em todo o ano passado. “O máximo que tínhamos chegado em picos anteriores foi de 88 casos. Então cerca de 100 casos são confirmados, fora os outros casos suspeitos de pessoas que estão internadas e que pode ser coronavírus, mas que o caso ainda não está disponível”.

Diante da atual situação, a infectologista destacou que o município chegou a uma situação de esgotamento do serviço de saúde, sem previsão de melhora. Ela prevê que o mês de março será o pior mês da pandemia em Feira de Santana e pediu a união de todos para frear a propagação do vírus na cidade.

“Isso ainda pode piorar. Eu acho que não chegamos ainda no ponto máximo e precisamos parar de culpar os políticos, tentar culpar os gestores, tentar culpar a população, os empresários. Na verdade o grande culpado disso é o vírus, é um vírus altamente infeccioso, com a capacidade de matar muito grande e temos que juntar os esforços para poder combater. Vamos parar de gastar energia tentando culpar um ou outro, vamos nos juntar nesse momento que a população precisa de nós realmente”, destacou.

Fechamento do comércio

Em relação ao fechamento do comércio, a infectologista Melissa Falcão ressaltou que os estabelecimentos não são o principal fator de contaminação, no entanto há um somatório de situações e quando não há um número adequado de leitos para a população, com pessoas morrendo, não é possível deixar todos os setores liberados.

“Eu entendo que todos os empresários estão sufocados, estão em um momento difícil também na parte do comércio. Cada um quer garantir a sobrevivência da sua família, dos seus funcionários, e nós queremos garantir a sobrevivência de vocês e de toda a população. Então são decisões que não são fáceis de tomar. Eu acho que ninguém fica confortável com a decisão de abrir e fechar o comércio ou qualquer outro estabelecimento comercial.

Mutação viral

Segundo Melissa Falcão, durante a coletiva de imprensa, novas variantes do coronavírus já estão presentes em Feira de Santana, assim como em todo o país. Ela explicou que em fevereiro houve redução do número de casos, mas de uma hora para outra, os casos voltaram a explodir e com maior gravidade.

“Começamos a perceber essa mudança no padrão quando vimos pessoas jovens que não tinham nenhuma outra doença associada e que estavam agravando e morrendo por coronavírus. Então isso nos deu a exata noção de que o padrão da epidemia tinha mudado, que junto com ela, estávamos começando a perder não só os idosos, mas também os jovens. Então nesse momento diante do cenário que estamos, os profissionais de saúde estão esgotados, os gestores estão exaustos e a população, a sociedade também, é muito tempo de privação, é muito tempo lidando com o limite físico, o limite emocional, para podermos tentar controlar isso aí. Nessa semana que passou, essas duas últimas semanas, acho que foram as semanas mais difíceis de todo esse período e começamos a ver jovens internados, começamos a ver mãe, filha, morrendo com o intervalo de um dia, intervalo de horas, famílias inteiras internadas, o que acontecia com muita pouca frequência no início, começou a se tornar mais frequente, então o vírus não está mais escolhendo só aqueles mais fragilizados, o vírus chegou com o potencial de matar qualquer um”, relatou.

Crianças infectadas

Melissa Falcão alertou ainda para o fato de que, nas últimas semanas, crianças começaram a ser internadas com um padrão de infecção pulmonar maior.

“Não temos mais nenhuma parcela da população livre de risco. Precisamos conscientizar as pessoas de que ao me expor, eu estou não colocando a minha vista em risco, mas a vida de todos os meus familiares e de todas as outras pessoas. Então chegou a hora de ter uma união muito grande da sociedade, de cada um procurar fazer um sacrifício pessoal sim, estamos todos nos sacrificando, e a cada dia se torna mais difícil vermos vidas sendo perdidas, famílias sendo destruídas e não podemos simplesmente ficar assistindo isso de braços cruzados, precisamos fazer o que está ao nosso alcance e o que está ao nosso alcance não vai agradar todo mundo, não tem como agradar, e nós também não estamos satisfeitos com algumas decisões que tivemos que tomar. Gostaríamos muito que a situação tivesse diferente nesse momento, momento que a vacinação já está em andamento, mas a vacinação no país acontece de maneira muito lenta, por conta dessa disponibilidade de vacina e até começarmos a ver uma efetividade dessa vacinação, vai demorar um pouco. E além dessa dificuldade, vejo pessoas que são contra a vacinação. Eu acho um contrassenso tão grande ser contra a vacinação que é feita nesse momento. Não podemos dizer que são vacinas perfeitas, mas são as melhores armas que temos para lutar contra esse vírus no momento”, concluiu. 

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