Gravidez na adolescência

Médica do Hospital da Mulher alerta para os riscos de uma gravidez na adolescência

Conforme a especialista, a grande maioria dessas pacientes é completamente despreparada para a gestação. Do ponto de vista psicológico, elas apresentam distúrbios emocionais como ansiedade, medo e insegurança.

Laiane Cruz

Teve início no dia 1º de fevereiro e segue até o dia 8, a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Em Feira de Santana, somente no Hospital Inácia Pinto dos Santos (Hospital da Mulher), no ano passado, 1.463 pacientes com idades entre 11 e 19 anos deram à luz na unidade hospitalar. Dessas, 63 tinham entre 11 a 14 anos, e 1.400 eram adolescentes entre 15 a 19 anos.

“Em Feira de Santana os índices não estão diferentes do resto do Brasil. Em números, no país estima-se que 400 mil adolescentes por ano tiveram filhos. No mundo são 5,7 milhões, sendo que 2 milhões têm menos de 15 anos, ou seja, uma fase da vida em que elas deveriam estar se preparando para o futuro, estudando, mas ao invés disso estão tendo uma gravidez, que na maioria das vezes ocorreu de forma não planejada”, revelou a diretora médica do hospital, Andrea Alencar.

Conforme a especialista, a grande maioria dessas pacientes é completamente despreparada para a gestação. Do ponto de vista psicológico, elas apresentam distúrbios emocionais como ansiedade, medo e insegurança.

Foto: Arquivo Pessoal

“São pacientes que a assistência ao parto se torna muito mais trabalhosa, porque a maioria dessas pacientes vem de uma gravidez não planejada, muitas não fazem o pré-natal e estão numa faixa etária em que podem ter maiores riscos como pré-eclâmpsia, nascimento de bebês prematuros, ou por não ter feito um pré-natal adequado ou por não estar preparada para uma gravidez, em termos até de desenvolvimento do corpo. Então essas pacientes não chegam compensadas. A grande maioria apresenta uma ansiedade muito grande e medo do que vai acontecer”, relatou.

Riscos à saúde

A diretora médica do Hospital da Mulher falou ainda sobre os riscos que adolescentes correm ao engravidarem. Segundo ela, são classificadas como pacientes de risco, com uma tendência maior a complicações, como parto pré-maturo, má formação fetal e doença hipertensiva gestacional.

“Essa paciente tem maior risco, além do ponto de vista social, pois tem sua vida interrompida naquele momento pra cuidar de um bebê, pra começar a frequentar um pré-natal. Então, sem dúvida nenhuma, prevenir é a melhor opção. E foi pensando nisso que nós fizemos aqui no Hospital da Mulher um ambulatório direcionado pra prevenção de gravidez na adolescência, que é o ambulatório de planejamento familiar. Lá nós oferecemos os métodos de longa duração”, informou.

Ela explica que pela Organização Mundial da Saúde (OMS), hoje pacientes em fase de adolescência têm que usar métodos que sejam reversíveis, porém com maior tempo de eficácia para prevenir que haja recorrência.

“Infelizmente a gente observa um número muito grande de recorrência na paciente que teve o primeiro filho adolescente. Ela tem o risco maior de ter o segundo filho ainda na adolescência. Então aqui no hospital nós oferecemos os métodos de longa duração pra adolescentes, que são os dispositivos intrauterinos, os implantes hormonais, o sistema intrauterino revestido com hormônio também, que é uma coisa muito boa, de muita segurança e eficácia”, afirmou.

Andrea Alencar ressaltou durante a entrevista ao Acorda Cidade que prevenir a gravidez em adolescentes diminui também a ocupação de leitos de UTI neonatal com recém-nascidos prematuros com problemas de saúde e a perpetuação da pobreza em muitos casos.

“A gente vê muito nas classes de baixa renda se perpetuar a pobreza. Outra coisa que a gente observa muito é mães com filhas adolescentes engravidando, como se fosse um ciclo se repetindo. A gente quer interromper esse processo, oferecendo pra elas os métodos de longa duração. E um dos fatores que aumentam o índice de gravidez na adolescência é a iniciação de vida sexual precoce. Se ela engravidou, a gente entende que não estava usando preservativos e está exposta, além de uma gestação indesejada, contrair doenças sexualmente transmissíveis como sífilis, HIV, hepatite, HPV, e isso impacta também num risco maior de câncer de colo de útero”, disse.

A médica destacou também que por determinação legal, o hospital tem obrigatoriamente que informar o Ministério Público quando atende pacientes até 13 anos, 11 meses e 29 dias, mesmo que essa adolescente tenha tido uma relação sexual consentida, pois ela é classificada como inadequada e pode gerar um processo por conta da pessoa que praticou o ato sexual com essa menor.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade 

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