Laiane Cruz e Ney Silva
Para muitas pessoas, quando um ano chega ao fim é como se uma página precisasse ser virada e um ciclo encerrado, para que no novo ano uma nova história seja escrita. E foi pensando nessas chances de recomeço, que profissionais da saúde lançaram a campanha Janeiro Branco, para tratar da saúde mental da população e alertar para problemas que muitas vezes crescem de forma silenciosa e quando se apresentam são tratados com preconceito e não aceitação.
De acordo com a coordenadora-geral da rede de saúde mental de Feira de Santana (rede Caps), Robervânia Cunha, a campanha começou há alguns anos, a partir de um grupo de psicólogos da cidade de Uberlândia (MG), justamente para alertar a população sobre os transtornos mentais.
“Janeiro é início de ano, então é como se uma página tivesse sido virada de uma história contada e estamos recomeçando. É o mês em que intensificamos a orientação às pessoas dentro das unidades do Caps e, antes da pandemia, isso era feito fora dos Caps para que as pessoas observem se há alguma mudança de comportamento e tomar cuidados em relação a essas mudanças”, explicou.
Segundo Robervânia Cunha, os transtornos mentais, entre os quais podemos citar a depressão e transtornos de ansiedade, ainda são vistos com recusa pelas pessoas que estão enfrentando esses problemas, e por familiares e amigos desses pacientes.
“Existe um preconceito muito grande da própria pessoa que está desencadeando ou que já tem um transtorno mental, é uma não aceitação da doença; a família também tem o preconceito e a sociedade em si. Então essas pessoas ficaram por muitos anos à margem da sociedade. E o Caps tem o trabalho de resgate da cidadania dessa pessoa, que precisa ser assistida por um especialista, mas que deve continuar inserida no seio da família, na sociedade e no trabalho”, informou a coordenadora dos Caps.
Ela ressalta que em muitos casos os sintomas são leves e passam despercebidos pelos pacientes. “Mas quem está ao lado pode perceber essa mudança de comportamento. Os Caps são para transtornos severos, porém uma leve depressão, uma tristeza que se inicia sem explicação, havendo uma mudança de comportamento, é preciso buscar o atendimento de um especialista, uma equipe especialista, e temos isso dentro do Centro Psicossocial”, ressaltou.
Rede Caps
A coordenadora explicou ainda sobre o funcionamento da Rede de Atendimento Psicossocial em Feira de Santana.
“Nós temos cinco Caps em Feira, desde 2004, sendo dois do tipo II, para atendimento de pessoas a partir de 18 anos; um Caps III, para atendimento 24 horas com leitos de acolhimento, um Caps infantil e um Caps AD, para pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas. O Caps é um serviço complementar, para evitar o internamento e o isolamento em manicômios, então somos um serviço para pessoas com transtorno mental grave, severo e persistente”, informou.
Outra informação a ser destacada é que os Caps trabalham com portas abertas e os pacientes não precisam ser regulados por outras unidades de saúde.
“A pessoa que está necessitando de uma escuta pode procurar qualquer unidade do Caps. Somos divididos por territórios, então é demanda espontânea. Indo ao Caps pela manhã a partir das 7h30 ou a tarde a partir das 13h, será atendido por um profissional da equipe multidisciplinar, que vai fazer uma escuta qualificada para saber se é um problema para ser absorvido no Caps ou se ele precisa de outros serviços. Se for observado que esse paciente está desencadeando ou desencadeou um transtorno mental, é feito um projeto terapêutico para este paciente, onde ele vai participar de oficinas ou grupos terapêuticos tendo o acompanhamento do profissional de referência e do médico psiquiatra.”
Ela acrescentou que, devido à pandemia e por orientação do Ministério da Saúde e da Sesab, todas as atividades em grupos foram suspensas.