Acorda Cidade
O salário mínimo passou a ser de R$ 1.100 a partir do dia 1º de janeiro. Mas, o que deveria ser motivo de comemoração para os brasileiros ocorre em um momento de subida de preços dos alimentos, gás de cozinha, tarifa de energia elétrica, entre outras despesas fixas.
De acordo com Jane Sales Soares, que é assalariada, o aumento do salário é bom, mas as mercadorias já aumentaram e vão subir mais ainda. “O gás, por exemplo, aumentou antes de eles aumentarem o salário. Para ser considerado, não deveria aumentar as mercadorias”, informou, acrescentando que mora com seis pessoas e só duas pessoas trabalham. “Com esse salário é muito difícil manter as despesas”, avaliou.
Foto: Paulo José/ Acorda Cidade
A comerciária Jaqueline Santana Oliveira disse que mora com quatro pessoas, e tudo aumentou. Mesmo assim, o reajuste vai ajudar a melhorar o pagamento das contas.
Foto: Paulo José/ Acorda Cidade
Segundo o economista, René Becker, todo ano o salário sofre alteração devido à inflação, que esse ano deve ser de 4, 31% pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA). Para ele, o aumento traz alguns benefícios. “Há diminuição do fosso social, visto que há um distanciamento entre o salário mínimo e as grandes rendas”.
No entanto, conforme o economista, quando o salário aumenta mais do que a inflação, há um ganho para a classe trabalhadora, mas em contrapartida gera também alguns problemas. “Primeiro podemos citar o aumento do déficit público na área fiscal, depois o aumento do custo das empresas, podendo gerar desemprego, que no país está em torno de 4.5%, o que abrange mais ou menos 14 milhões de pessoas. Se o aumento for superior à inflação os efeitos serão bem claros”, afirmou.
Ele citou também consequências em relação ao déficit público. “Porque nós temos um número muito grande de aposentadorias, e o aumento contribui para o desequilíbrio nas contas públicas. O aumento salarial afeta todo um contexto da economia. Em função da pandemia, o mundo está passando por um momento crítico e os produtos internos brutos estão caindo. No Brasil há uma projeção em torno entre quatro a cinco por cento, isso reflete no aumento do desemprego, na criminalidade, e todos os efeitos que decorrem desses fatores”, explicou.
Em relação aos preços, René Becker ressaltou que andam de acordo com a lei da oferta e da procura, o que significa que cada vez mais o assalariado vem perdendo renda. “Os preços sobem de forma avassaladora e os preços para aquele que ganha salário mínimo elevam-se muito mais do que para pessoas de uma renda superior. Então na realidade vamos ter que conviver durante muito tempo com esse problema de renda salarial”.
O economista disse também que em Portugal, que, segundo ele, tem uma realidade parecida com o Brasil, o salário mínimo é de 600 euros, que multiplicado por seis, daria em torno de 3.600 reais. “Existem algumas projeções de que o salário mínimo deveria ser em torno de 4 a 5 mil reais, mas um salário desse iria gerar um problema muito grande para a economia das empresas e afetar no desemprego. Uma coisa é uma expectativa, mas as contas públicas não resistiriam porque estamos num processo de depressão da economia”, alertou.
Com informações e fotos do repórter Paulo