Acorda Cidade
Novembro é o mês de combate ao câncer de próstata, doença que ainda é um desafio para a saúde pública no mundo. Por esse motivo, a campanha do chamado ‘Novembro Azul’ busca conscientizar e levar prevenção aos homens durante o mês inteiro, além de desmistificar preconceitos em torno do exame de toque retal, preciso na identificação do tumor. Entretanto, o câncer de próstata não é um mal que atinge somente a homens cis: mulheres trans e travestis também possuem a glândula e, portanto, estão suscetíveis à doença.
“Se cuidar é necessário, porque, querendo ou não, é uma doença que nos acarreta, que existe, que está aí e que, nós, como mulheres trans, não estamos imunes. Então se há forma de se prevenir e cuidar disso, por que não?”, questionou a cantora Allyssa Anjos, 22 anos, usuária do Casarão da Diversidade, equipamento da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS).
De acordo com os médicos, a tendência é que o câncer de próstata ocorra, na maioria dos casos, na faixa etária acima de 50 anos, mas, para pessoas negras ou que têm histórico na família, a prevenção deve começar aos 45 anos, com a realização dos exames de sangue (PSA) e do toque retal pelo menos uma vez ao ano.
Quanto às mulheres transexuais, as que não fazem nenhum tipo de terapia hormonal constante ou que tomam hormônio sem acompanhamento médico devem ter as mesmas preocupações que os homens cis quando o assunto é câncer de próstata, por mais que tenham passado por cirurgia de adequação – já que a glândula não é retirada no processo.
Já no caso das que fazem terapia hormonal com acompanhamento médico, a preocupação é considerada menor, uma vez que a próstata para de crescer com o tratamento, devido ao bloqueio da testosterona e do aumento da quantidade de estrógeno no organismo. Ainda assim, a recomendação médica continua válida.
Tabu
Apesar dos riscos, Allyssa compartilha que muitas mulheres trans veem os exames de prevenção do câncer de próstata como um tabu, uma vez que a doença é comumente associada ao corpo masculino.
“Eu sei que existe uma relutância em fazer o exame, porque somos mulheres, mas precisamos entender que nós temos próstata. Seria ingenuidade, ignorância da minha parte não fazer esse exame. Isso não vai tirar minha feminilidade, não vai me fazer menos mulher”, reforçou.
Por isso, a cantora defende que é preciso conscientizar as mulheres trans e travestis através de campanhas, para que elas também fiquem atentas à prevenção.
Barreiras
O distanciamento da população trans dos serviços de saúde, seja pela falta de profissionais capacitados, de medicações específicas acessíveis ou pela prática da automedicação, contribui para que a expectativa de vida de travestis e mulheres transexuais esteja na faixa dos 35 anos no Brasil. Buscando combater essa realidade, a SJDHDS, por meio da Coordenação de Políticas LGBT, tem atuado para quebrar as barreiras do acesso à saúde para essas pessoas.
“Nós temos participado das atividades que vêm sendo desenvolvidas pela IBCM [Instituição Beneficente Conceição Macedo], no diálogo com a população trans que atua na prostituição à noite, distribuindo máscaras, encaminhando para emissão de documentos e, em situações de violência, prestando a assistência necessária. Também temos feito o encaminhamento delas para a Defensoria Pública, para que façam a retificação do nome social”, explicou Gabriel Teixeira, coordenador de Políticas LGBT da SJDHDS.
Além disso, está em funcionamento no Casarão da Diversidade, em Salvador, o projeto Trans Odara, realizado pela PrEPara Salvador, iniciativa coordenada pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC/Ufba), que promove a aproximação de 130 mulheres transexuais de questões como trato à saúde, orientação e compreensão dos estigmas vivenciados pelas integrantes.
A SJDHDS também apoia o projeto de pesquisa ‘Avaliação e mensuração da percepção de estigma na população transgênero atendida em serviços de saúde de Salvador’ da Faculdade de Medicina da Ufba, coordenado pela professora Liliane Lins-Kusterer, fomentando a discussão sobre a temática.