Feira de Santana

Portador de câncer raro, jovem conta que a fé e a empatia ajudam a superar o medo da covid-19

O Acorda Cidade conversou com o jovem e ele relatou um pouco da sua história de vida que vem emocionando e ensinando muitas pessoas através das redes sociais.

Rachel Pinto

Para muita gente ser “um vencedor”, é sinônimo de ser bem sucedido financeiramente, ter muitos bens materiais, uma vida de muito sucesso no lado pessoal, profissional, ser aceito pelas outras pessoas, assim como atender as expectativas dos outros. Na fase da juventude, esses ideais norteiam a vida de muitos jovens e trazem também muitos desequilíbrios e conflitos futuros. Ser diferente faz com que surjam muitos olhares de reprovação, mas é uma oportunidade também de fazer história e inspirar vidas a adquirirem outro sentido.

O jovem feirense Luan Manoel dos Santos Costa, de 29 anos, “Luan Vencedor”, como assim se denomina nas suas redes sociais, acredita que ser um vencedor vai além de ter dinheiro, coisas, ou posição social. Para ele, vencer é enfrentar as batalhas da vida com sabedoria, esperança e muita resiliência. Portador de um câncer raro, vem enfrentando a doença ao longo de cinco anos com muita determinação e em tempos de pandemia, onde o medo e as incertezas rondam a todo momento a vida em sociedade, ele é um exemplo de alegria, fé e otimismo.

O Acorda Cidade conversou com o jovem e ele relatou um pouco da sua história de vida que vem emocionando e ensinando muitas pessoas através das redes sociais.

O câncer e o envolvimento com a gastronomia

Há cinco anos, Luan que é formado em eletrotécnica, dava aulas em uma instituição de ensino em Feira de Santana e trabalhava em uma empresa de telemarketing começou a sentir um incômodo na face e a ficar sempre com o nariz entupido. Foi por várias vezes para ser atendido na emergência de hospitais e o diagnóstico era de sinusite. Com o passar do tempo, o quadro de saúde persistiu e ele foi surpreendido com uma notícia que mudou a sua vida completamente. Luan estava com um câncer raro no céu da boca que atingiu os seios da face e precisava ser operado às pressas.

Foto: Arquivo Pessoal

“Precisava tirar o tumor o mais rápido possível, fiz a cirurgia, a plástica e custou 20 mil reais. Minha família correu atrás, eu vendi o carro, fiz a cirurgia, a biópsia e depois fiz quimioterapia e radioterapia mais ou menos em um período de um ano”, disse.

 

Foto: Arquivo Pessoal

Depois do câncer, Luan, que viu que sua vida já tomava novos rumos, sentiu também a necessidade de mudar profissionalmente. Deixou a carreira na área de eletrotécnica e passou a se dedicar a atividade que ele mais gosta que é a gastronomia. Montou uma creperia, um food truck e com o apoio da família, se tornou uma grande referência na cidade e na região no segmento de crepes. Passou um ano e meio trabalhando ativamente com a gastronomia, realizando eventos, feiras e novamente foi surpreendido com a volta do câncer, dessa vez ainda mais agressivo.

“Descobri que a doença voltou no mesmo local com metástase nas costas e de forma inoperável. Aí meu pai assumiu a creperia por um tempo. Só que a paixão era minha. Eu então decidi encerrar o ponto fixo e com o food truck ficava apenas em alguns eventos esporádicos. Mas eu sempre superei muito bem, sempre fui muito resiliente e nesse meu processo eu sabia que eu era o centro do problema e se eu desabasse a minha família em volta acabaria desabando também. Tem mais ou menos três anos que eu estou fazendo quimioterapia de forma seguida. O meu tumor é muito raro e eu fiz várias. Ele vinha crescendo ao longo dos anos e agora deu uma parada, não cresceu mais. Nisso, eu acabei ficando cego do olho esquerdo. A doença acometeu o olho esquerdo e do direto eu só enxergo hoje 30%. Tenho algumas limitações, sinto câimbra de nó no corpo todo. Meu corpo entorta. Só que decidi usar a minha forma de encarar o tratamento para inspirar outras pessoas que passam pelo mesmo problema que eu. De uma forma leve, faço vídeos e apresento reflexões nas redes sociais”, comentou.

Personagem criada para enfrentar a pandemia da covid-19

Embora seja uma pessoa que tenha muita resignação, Luan não deixa de ficar apreensivo com todo o cenário causado pela pandemia do coronavírus. Por ser um paciente oncológico tem a imunidade muito baixa e faz parte do grupo de risco. Luan tem se mantido em casa, passa o dia no seu quarto, toma todos os cuidados e para passar os dias com mais alegria, resolveu criar um personagem nas redes sociais, para falar sobre gastronomia e experiências de vida. Criou a personagem “Mainha”, que segundo ele é inspirada em sua mãe e é através dessa personagem que ele tem encarado os dias de incerteza com mais tranquilidade. Tem vários seguidores que são pacientes oncológicos também, inclusive muitas mulheres. De acordo com ele, o lenço que é usado por “Mainha”, faz referência a essas pessoas e ao enfrentamento do câncer.

Foto: Arquivo Pessoal

“Existem muitas pessoas que entram em contato comigo e elas falam e me agradecem a importância desses vídeos que eu posto e falam da forma que eu encaro o tratamento. Eu nunca encarei essa doença como uma sentença de morte, eu me aproximei muito mais de Deus, da minha fé e procuro sempre estar levando mais amor, empatia, esperança para as pessoas através da minha história. A gastronomia entra com esse viés agregador. Eu tenho muitas limitações. Não consigo cortar tempero, eu posso me queimar e a minha família me ajuda também com isso. É um momento que agrega a família e nesse momento de pandemia é importante ajudar as pessoas a recomeçarem. Estou com um projeto em andamento de usar essa personagem para fazer receitas como beijinho, empada, para ajudar as pessoas a recomeçarem também economicamente nesse processo”, relatou o jovem ao Acorda Cidade.

Apoio da noiva

Além dos dotes gastronômicos, a energia que transmite através do seu testemunho de vida, Luan é também um rapaz muito romântico e apaixonado, e é só declarações para a noiva, Maiara Cardoso com quem completou 11 meses de relacionamento. Ele a considera como uma benção na sua vida. Nas comemorações do casal sempre acontece um jantar especial organizado por Luan.

Foto: Arquivo Pessoal

“Procuro tratá-la como uma princesa. Ela é missionária e tem um viés solidário muito forte. A gente se conheceu inclusive em um grupo que a gente fazia ação solidária chamado “Caçadores de sorrisos”. A filosofia de vida dela combina muito com o que eu penso, de que a gente precisa ter mais empatia, ajudar as outras pessoas e isso fica muito evidente nesse momento da covid-19. O valor que a família tem, o valor que um tem pelo outro. Ninguém vive só e a gente precisa realmente do outro”, acrescentou.

Fé restauradora e propósito de vida

Luan tem consciência de que o câncer não veio para a sua vida por acaso e através da doença tem tido muitos aprendizados. Tem inspirado também a vida de muitas pessoas e a sua fé é contagiante.

Ele afirmou ao Acorda Cidade que quando descobriu o câncer raro perguntou muito a Deus para que teria que ter a doença. Ele cantava muitos louvores e quando fez a cirurgia tinha grande possibilidade de perder a capacidade vocal.

Foto: Arquivo Pessoal

“Antes da cirurgia o médico dizia que eu não ia falar direito, que eu poderia perder o olho. Em uma das rodas de orações que eu participei tinha uma mulher do meu lado segurando a minha mão e durante essa oração, em pensamento eu perguntava a Deus para que eu estava passando pelo câncer. Eu gosto e sempre gostei muito de cantar e perguntei: ‘Senhor será que o Senhor quer que eu use a minha voz para cantar para ti? O Senhor me deu um câncer na boca’. Daí eu pedi uma resposta pra Deus e assim que acabou a oração a mulher virou para mim e disse: ‘Deus pediu para eu te dizer que ele quer que você cante para ele’. Eu fiz a cirurgia e fiquei realmente sem falar direito. Mas, eu cantava louvores perfeitamente. Deus nunca me abandonou em toda a minha luta. Tenho uma fé muito forte. Meu corpo pode até estar doente, mas minha alma está curada. Claro que eu não vou ser grato por uma doença, jamais. Mas, a doença que me trouxe tantas pessoas maravilhosas na minha vida e é como se Deus tivesse colocado um exército em minha volta. E sou como um desses soldados e venho também resgatando soldados feridos pelo caminho”, ressaltou.

Seja cantando, cozinhando, ou orando, Luan Manoel expressa que para ser um vencedor é preciso pensar em dias melhores que virão. A esperança é o motor para os seus dias, seu trabalho, sua luta contra a doença e para pelos dias difíceis que chegaram junto com a pandemia. 

Conheça mais sobre Luan Manoel, 'Luan Vencedor', através da sua página no Instagram: https://www.instagram.com/luan.vencedor/

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários