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O presidente Jair Bolsonaro encaminhou em 22 de abril ao então ministro da Justiça, Sergio Moro, uma mensagem anônima contra adversários políticos do presidente na Bahia. Moro não respondeu a Bolsonaro, após receber a mensagem. No conteúdo, o autor da mensagem, não identificado pelo presidente, diz que o governador da Bahia, Rui Costa (PT), teria contratado sem licitação uma empresa de propriedade do filho do senador Otto Alencar (PSD), para gerir o Hospital Espanhol, em Salvador. A unidade estava fechada havia mais de cinco anos, e foi reaberta como unidade de tratamento contra a Covid-19.
Em nota, o governo da Bahia informou que a empresa contratada para gerir o hospital, Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), foi selecionada em processo licitatório e que tem como único sócio Emanoel Marcelino Barros Sousa, "que não é filho do senador Otto Alencar nem tem qualquer parentesco com o mesmo".
Ao G1, o senador Otto Alencar negou qualquer relação dele ou o filho com a empresa contratada para gerir o Hospital Espanhol. "Temos nada com o INTS. O proprietário é um senhor que depois se identificou e soltou nota dizendo que era o proprietário e que não tinha nada conosco", falou o senador.
Também em nota, o deputado federal Otto Alencar Filho (PSD) disse que Bolsonaro deveria identificar quem foi que encaminhou a mensagem para ele.
"Libertar-se de uma mentira que divulgou por causa de 'uma amiga' e reconhecer o grave erro que cometeu comigo e minha família ao divulgar uma criminosa e mentirosa 'fake news'. A própria empresa INTS – Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde, que supostamente a falsa nota anônima insinuou que minha família tinha alguma participação, já fez uma nota oficial deixando totalmente claro que não temos e nunca tivemos nada a ver com a mesma e com o processo de licitação do Hospital Espanhol. Já inclusive processamos duas pessoas aqui na Bahia que divulgaram a 'fake news' e vamos continuar na justiça para achar a origem dessa nota feita por delinquentes".
"Meu advogado vai entrar no STF com pedido abertura de inquérito para apurar isso", acrescentou Otto Alencar, que ainda afirmou que uma investigação constatou que essa informação do filho dele ser sócio da INTS surgiu em um blog falso, com provedor na Califórnia (EUA).
A mensagem encaminhada por Bolsonaro diz ainda que uma outra empresa, que seria do senador Ângelo Coronel (PSD), teria sido contratada para servir as refeições na unidade, por um valor seis vezes maior que o praticado no mercado.
O governo da Bahia também desmentiu a informação e disse que "cabe ao INTS o fornecimento de alimentação na referida unidade de saúde, portanto o governo do estado não contratou nenhuma empresa para esta finalidade".
O senador Ângelo Coronel, também em nota, afirmou que entrará na Justiça, com base na Lei do Abuso de Autoridade, contra o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro.
"Fiquei perplexo com as fake news divulgadas envolvendo meu nome e de outros políticos que foram repassadas por Bolsonaro ao então ministro Sergio Moro. O presidente tem que declinar o nome da amiga que lhe enviou a mensagem para que sofra os rigores da lei. Fica patente o intuito do Presidente da República de não só investigar, mas também perseguir e amedrontar adversários", disse o senador.
A mensagem encaminhada por Bolsonaro a Moro foi incluída no inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal.
Ainda na mensagem encaminhada por Bolsonaro, o autor diz: "Uma médica amiga participou de uma reunião na Sesab (Secretaria de Saúde do Estado da Bahia) sobre implementação dos leitos de diálise e o secretário Fábio Dantas disse a ela, com toda a arrogância, 'dinheiro não é problema, nós temos 230 milhões para gastar com o covid! Vamos gastar!' O Covid não vai acabar nuncaaaaaa!!!".
O governo da Bahia também refutou a informação e disse: "Também não é verdade que o secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, tenha declarado que 'Dinheiro não é problema. Nós temos 230 milhões para gastar com o Covid. Vamos gastar'. O Governo do Estado tem feito a gestão desta crise provocada pela pandemia de Covid-19 com otimização dos recursos públicos e transparência, motivo pelo qual criou o Comitê de Transparência, com participação do Ministério Público da Bahia e do Tribunal de Contas do Estado".
Fonte: G1