Ney Silva e Rachel Pinto
Uma portaria do prefeito Colbert Martins Filho cumprindo orientação do Ministério da Educação (MEC) autoriza que dirigentes de escolas públicas possam distribuir todo o estoque de merenda escolar existente.
Feira de Santana conta com 206 escolas sendo 100 na zona urbana e 106 nos distritos.
Diretores de escolas estão preocupados com essa portaria e alegam não dispor de condições para entregar os alimentos para as famílias dos estudantes.
A diretora do Caic, Adriana Bulos, reclama que os alimentos são poucos para um total de mil alunos.
Segundo ela, a escola recebe a merenda que vem da secretaria e atualmente tem em estoque alimentos que estão desde o dia 23 de março. São 37 Kg de feijão para mais de mil alunos.
“É diferente quando se faz uma campanha de distribuição de cestas, por exemplo. As pessoas já sabem que não haverá para todo mundo. Mas, quando sai um decreto municipal, eu tenho certeza que a porta da escola vai encher de pais pedindo. Para mim o problema não é a logística do entregar para as crianças, a questão é que nós não teremos alimentos para todas essas crianças. Já conversei com o secretário e essa preocupação é de todas as escolas, de vários gestores”, comentou.
A vice-diretora de outra escola da rede municipal, Carolina Almeida também aponta dificuldades e relata que está angustiada com essa situação.
“É uma angústia que não é só minha. Compartilho com todos os gestores da rede municipal. A escola que eu trabalho é simples, pequena, localizada em um prédio alugado e sem estrutura. Neste momento, nós temos apenas 221 itens a disposição e temos 350 alunos matriculados e a gente não entende como será feita essa distribuição da merenda que está em estoque na escola. Segundo o decreto do prefeito, deveriam ser feitas cestas básicas para entregar as famílias, caberia a gestão escolar organizar e a angústia é saber como nós faríamos isso sem estrutura e sem apoio. Principalmente sem a quantidade de alimentos suficientes para entregar as famílias”, afirmou.
A diretora declarou que entende que a situação da pandemia é complicada, mas na opinião dela seria injusto que algumas famílias recebessem os alimentos e outras não.
“Não sabemos como proceder, o decreto também fala que a escola pode cozinhar os alimentos e distribuir, mas a escola que eu trabalho não tem estrutura para fazer isso de uma vez só para todo mundo. É uma escola pequena que funciona em uma casa, tem a cozinha muito pequena. Não temos condições e nem pessoal suficiente para dar esse suporte para cozinhar e entregar esse alimento”, comentou.
A diretora frisou ainda que há preocupação com relação a aglomeração das pessoas em busca de alimentos.
O secretário municipal de educação Marcelo Neves disse que os diretores de escolas devem distribuir a merenda escolar priorizando estudantes de famílias cadastradas em programas sociais como o Bolsa Família.
“Na semana passada o governo federal promulgou a lei permitindo que seja feita a entrega da merenda escolar e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) divulgou uma resolução criando alternativas para essa distribuição, nós precisamos nos adaptar a essa lei e a resolução. Nós editamos uma portaria disciplinando a distribuição da merenda escolar que está dentro das escolas municipais. Temos um quantitativo pequeno e agora com essa autorização facultamos aos gestores municipais que eles pudessem fazer a distribuição da forma que for possível. São eles quem mais conhecem a realidade das crianças e das escolas. Tem a relação das crianças que recebem o Bolsa Família e estamos incentivando e criando condições para que preferencialmente façam a distribuição para essas famílias, se sobrar podem distribuir para os demais alunos. É uma situação emergencial e nunca passamos uma situação dessa e nenhum município do país tem uma resposta pronta para um momento como esse. É um momento difícil, estamos completando 30 dias sem aulas e não temos uma previsão de retorno. O objetivo é que a gente não perca a alimentação que está nas escolas que são os produtos perecíveis”, pontuou.
O secretário disse que o município está buscando outras formas e outras fontes para resolver essa situação ele lembrou que a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedeso) também está distribuindo cestas básicas para famílias carentes e o recurso da merenda escolar é de 500 mil reais por mês.
“São 52 mil alunos e é muito pouco. O município não tem outra fonte”, explicou.
Marcelo Neves informou ainda que os dirigentes de escolas que não encontrarem uma solução para doar os alimentos podem entrar em contato com a secretaria que uma equipe irá busca-los para que seja feita uma readequação.
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