Feira de Santana

Motoristas de vans cobram bilhetagem eletrônica e reclamam de dificuldades financeiras

O secretário Saulo explicou que o sistema de bilhetagem não está imposto em contrato com os alternativos, pois um estudo da época previu que esse sistema seria independente.

Acorda Cidade 

Atualizada às 20:10

Os trabalhadores da Associação do Transporte Alternativo de Feira de Santana (Ascotrafs) estão reivindicando melhorias para a categoria e os representantes estiveram no Acorda Cidade para falar sobre o assunto. Entre as principais demandas, eles solicitam a implantação do sistema de bilhetagem eletrônica. De acordo com o presidente da associação, Raimundo Souza, conhecido como Dinho do Alternativo, 90% dos passageiros das comunidades já possui o cartão de passagem.

“Tivemos uma reunião em São Domingo, na qual eu tenho foto das pessoas mostrando vários cartões com créditos que não podem usar. Ficam escravos só da empresa de ônibus. Então, essa luta da bilheteria é antiga, mais de 20 anos para colocar o bilhete eletrônico nas vans. Eu vejo até situações de alguns vereadores estarem falando na Câmara e criticando até, porque houve a diminuição do transporte convencional, mas na verdade, os vereadores tinham que opinar ou ter um projeto que possa beneficiar o povo, o transporte alternativo. Eu não estou dizendo que eles queiram beneficiar o transporte alternativo, mas que pensem nas comunidades, para que possa forçar o poder público, as empresas de ônibus, a fazerem a bilhetagem eletrônica para servir bem a todas as comunidades que necessitam”, afirmou.

Dinho informou que a reunião em São Domingos foi para tratar das empresas de ônibus. Segundo ele, a população está insatisfeita com o atendimento do serviço de transporte público e explanaram para o poder público as dificuldades enfrentadas por eles. Segundo o motorista do alternativo, a população também cobrou a instalação da bilhetagem eletrônica nas vans.

“O poder público se comprometeu a melhorar a partir de quarta-feira (18) a questão dos ônibus. A reivindicação com relação aos alternativos foi com relação a bilhetagem eletrônica nas vans. O povo reclama sim, de atendimento de motorista, de alguns cobradores, mas quanto a isso, a gente tem uma auditoria interna e estamos trazendo um regulamento para punir esse pessoal. A gente pune constantemente, mas vamos aprimorar mais essa situação das punições e procurar atender bem as nossas comunidades. Hoje, não é mais passageiro, é cliente. Nós temos hoje aqui em Feira diversos aplicativos como o 99, a Uber, tem dois de motos e tem o In-drive. O nosso cliente está disputado e tratar ele bem, com excelência, faz ele voltar”, afirmou.

O primeiro secretário da Associação, Lacimy Moreira, informou que há um diálogo com o poder público sobre essa questão da bilheteria, com a realização de reuniões, só que ele diz que não vê avanço nas negociações. Ele ainda diz que a Associação precisa avaliar se será vantajoso para os alternativos fazer uma cooperação com as empresas de ônibus para conseguirem a implantação do sistema de bilhetagem. Caso não seja benéfico para a categoria, Lacimy diz que os alternativos vão partir para uma bilheteria própria.

Dinho do alternativo afirmou que já conversou com representantes das empresas Rosa e São João e que eles mostraram interesse na implantação da bilhetagem eletrônica nas vans, com o pagamento que seria feito em dezenas (dez em dez dias). Porém ele disse que a associação não tem interesse em criar recursos financeiros em uma empresa de ônibus porque o transporte alternativo já recebeu calote uma vez.

“Não queremos correr esse risco de maneira alguma. O pessoal representante da empresa que fez a implantação da bilhetagem eletrônica veio até aqui, a gente teve um diálogo com eles, o presidente se mostrou interessado e na verdade, eu percebo que a empresa gera de acordo com as ordens das empresas de ônibus. Eles não vão aprimorar e instalar essas bilhetagens eletrônicas no sistema do transporte alternativo aqui em Feira, mesmo porque, a demanda financeira da empresa convencional, da empresa de ônibus, é bem maior que a nossa. Nós somos a pouquinha coisa e eles não vão deixar de viabilizar o atendimento de excelência para a empresa de ônibus, para gerar para o transporte alternativo”, avaliou.

A SMTT

Ouvido pelo Acorda Cidade, o secretário municipal de Transportes e Trânsito, Saulo Figueiredo, informou que os representantes da Ascotrafs têm estado sempre na secretaria e têm acompanhado todo o desenrolar em torno da bilhetagem eletrônica. O secretário destacou que existe uma consultoria em andamento para definir as regras e que não há a previsão de bilhetagem eletrônica no contrato assinado com os alternativos. Saulo disse ainda que a bilhetagem eletrônica obrigatoriamente exige a integração entre os sistemas.

“Não é uma tarefa das mais simples, pois isso exige um estudo de uma nova regra de negócio, ou seja, exige um repasse de tarifa de um ou outro quando houver as integrações. O passageiro, por exemplo, quando ele vem da zona rural e deseja ficar no terminal norte e ingressar no ônibus, uma parte dessa tarifa fica com o permissionário da van e outra parte com o transporte coletivo. O que vai dizer isso é um estudo com cada sistema. Os representantes sabem disso, pois já tivemos muitas reuniões, estamos com o estudo em andamento e o que não vamos fazer aqui são atitudes impensadas, pois o processo de integração não pode ser imposto pelo poder público, tem que ser conversado, já que não está imposto em contrato”, disse.

O secretário Saulo explicou que o sistema de bilhetagem não está imposto em contrato com os alternativos, pois um estudo da época previu que esse sistema seria independente. Ele disse ainda que a própria secretaria alertou para a necessidade da bilhetagem para o alternativo, principalmente pelo quesito de segurança.

Remuneração do sistema e dificuldades financeiras

A remuneração do sistema foi outro problema citado pelos motoristas. Segundo Dário Alves, tesoureiro da associação, a dificuldade é muito grande, pois os motoristas tinham uma expectativa de uma quantidade de passagem, fizeram cálculos de quanto iam gastar, com diesel, por exemplo, mas não conseguem ter retorno.

“As pessoas às vezes relatam a situação da meia passagem. O transporte alternativo transporta várias meias passagens para as pessoas que tem passe com o direito adquirido, lógico. Mas o que acontece é que a gente não tem como identificar se aquela meia passagem tem validade. Isso tudo não é benéfico para o transporte, mas não é por isso que a gente deixa de atender a comunidade. A gente faz o possível para atender bem. Vou fazer 62 anos e rodo o dia todo. Eu fazia a linha km13, a licitação foi para lá, mas o secretário pediu para estender para Vila Feliz, porque lá só tinham quatro veículos e o km 13 eram cinco, aí juntou novo veículos. Então depende de eu fazer o equilíbrio, eu deveria fazer pelo menos 170 passagens por dia”, afirmou Dário.

O primeiro secretário da Associação, Lacimy Moreira, afirmou que o transporte alternativo só consegue sobreviver acima de 200 passagens. Ele disse que foi feita uma auditoria interna no povoado de Galhardo, rodando só um carro, durante o dia, e que o pessoal só fez 25 passagens.

“Temos dificuldades com o pessoal de Ipuaçu, dificuldade com o pessoal do Limoeiro, Santa Rosa. Hoje, mais de 60% do pessoal está pagando para trabalhar. Começa o dia no vermelho e termina no vermelho. No déficit de 300 reais por dia. Tem gente tirando todo dia esse valor para se manter no negócio. O custo fixo não cobre, não cobre o custo de operação e a pessoa fica no negativo. Tem gente que está vendendo casa, terreno, tem gente vendendo carro, entrando até em depressão porque não está conseguindo viver de sua renda, de seu próprio trabalho”, relatou.

Com relação ao preço da outorga, já que alguns motoristas afirmam que não tem como pagar, pois estão no vermelho, o secretário de Transportes e Trânsito, Saulo Figueiredo, disse que alguns permissionários já procuraram a secretaria para falar da questão da demanda de passageiros.

“A gente tem passado por um momento de mudança de comportamento do cliente, então estamos tentado resolver essa dificuldade com o ajuste nas demandas. A categoria protocolou com a gente no mês de dezembro e está submetido a estudo de contagem de demanda de passageiros para que nós possamos fazer esses ajustes. A dificuldade hoje é de todo o sistema”, disse.

Ônibus rodando nos distritos

Os motoristas também reclamaram da situação em que ônibus estão circulando em alguns distritos de Feira de Santana, sendo que essas localidades deveriam ser assistidas penas pelas vans do sistema alternativo. De acordo com Lacimy Moreira, antes da licitação eles entendiam isso com normalidade, já que a população não poderia ficar desassistida. Porém com a licitação, ficou definido que os povoados e os distritos são de exclusividades dos transportes alternativos.

“A licitação, em 2015, das empresas de ônibus, não foi licitado os distritos, mas como não tinha o transporte complementar e regulamentado, o pessoal não podia ficar desassistido. Mas hoje, a gente está trabalhando com 20% da demanda que a gente pode atuar. Nosso transporte está andando vazio. Primeiro por causa da bilhetagem eletrônica e a concorrência desleal. Temos todas as condições de atender os distritos e povoados, o que precisamos mesmo é da bilhetagem eletrônica. Em Humildes, até um tempo atrás, a Via Feira estava cadastrando de porta em porta o cartão. Como é que quer tirar o ônibus, como teve a polêmica semana passada da diminuição da frota, e está vendendo cartão de porta em porta?”, questionou.

Quantidade de linhas

O 1º Secretário falou também sobre a quantidade de linhas para cada distrito. Segundo ele, existem linhas que foram ofertados carros demais, outras que precisam de reajuste e essa questão já foi levada ao conhecimento da secretaria de Transportes e Trânsito. “Já foi contratada uma empresa para fazer essa auditoria, esse remanejamento. O secretário tem mantido um diálogo conosco, mas infelizmente não temos o poder da caneta”.

Sobre esse assunto, Saulo disse que é possível de acontecer o remanejamento de linhas com poucos passageiros e que os motoristas já protocolaram esse documento com a secretaria, que está fazendo análise. “São cerca de seis linhas e estamos fazendo a análise. Se houver a necessidade de chamar novos permissionários temos cerca de 38 pessoas no cadastro de reservas”, afirmou.

Associação cobra regularização

36 membros da Associação dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários do distrito de Humildes estão insatisfeitos por não estarem regularizados para fazer o transporte de passageiros para o distrito, apesar de terem participado de uma licitação em 2018. O presidente da associação, Armandio José da Silva, relata as reivindicações referentes ao transporte para Humildes.

“Participamos de uma licitação pública no ano de 2018, que foi aberta para 105 vagas. Na época era o ex-prefeito José Ronaldo. Tentamos impugnar a licitação, não conseguimos e o prefeito disse que a licitação teria que acontecer, pois já tínhamos mais ou menos 15 anos explorando sem ter a licitação. Ele falou com a gente na reunião que as pessoas que ficassem classificadas, na medida que precisasse recolocar carro, que eles iam chamando. De lá pra cá, nem as 105 vagas ainda completaram. Faltam vagas em Ipuaçu, Bom Viver, Fazenda Doutor em Humildes. Eu sempre acompanho o trabalho de perto na esperança que coloquem a gente nos lugares onde for precisando. A gente espera que chamam a gente para explorar o sistema”, afirmou.

Em resposta, o secretário municipal de Transportes e Trânsito, Saulo Figueiredo, informou que existe um cadastro de reserva com 38 pessoas que participaram da licitação. Segundo ele, essas pessoas poderão ser chamadas, mas isso vai depender de um estudo que está sendo feito. “Se houver a necessidade do emprego de mais permissionários, nós faremos. Mas não chamaremos se não houver necessidade”, frisou.

Valor do GPS

Outra revindicação dos motoristas do sistema alternativo, é com relação ao valor do GPS, previsto em contrato. Saulo informou que os valores já constavam no edital e que durante todo o processo licitatório, não houve nenhum tipo de questionamento a respeito desse acordo de cooperação técnica em relação ao preço do GPS.

“Já pedi ao pessoal do alternativo que trouxesse orçamentos de sistema similar. Eles me trouxeram orçamento de sistema de monitoramento por GPS, daquele que colocamos nos carros. Esse tipo de tecnologia custa mais barato, mas o que estamos falando aqui e está previsto em edital é de um sistema de gestão de transporte público, que é diferente”, afirmou.

Com informações dos repórteres Ed Santos e Paulo José do Acorda Cidade
 

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