Entrevista

Dayane Pimentel diz que está preparada para assumir prefeitura de Feira de Santana e bate firme em Bolsonaro

Dayane explica o porquê da ruptura com Bolsonaro, afirma que quem governa hoje não é o presidente que ajudou a eleger e diz que espera que ele volte atrás em muitas questões.

Orisa Gomes

A Deputada federal Dayane Pimentel, presidente do PSL na Bahia, é a pré-candidata da sigla a prefeitura de Feira de Santana. O nome foi definido recentemente e confirmado por ela ao Acorda Cidade. Em uma ampla entrevista, a parlamentar diz que está preparada para assumir o comando do município e bate firme no presidente Jair Bolsonaro, de quem foi aliada nas eleições passadas ao ponto de se autodenominar “deputada de Bolsonaro”. Dayane explica o porquê da ruptura, afirma que quem governa hoje não é o presidente que ajudou a eleger e diz que espera que ele volte atrás em muitas questões. Ela também comenta a intenção de pré-candidatura a prefeito de Feira, do deputado estadual Everton Carneiro (Pastor TOM), que até o momento permanece no PSL. Confira a entrevista na íntegra:

Acorda Cidade – O PSL anunciou o nome da senhora como pré candidata a prefeitura de Feira. Está confirmado?

Dayane Pimentel – Falando com o pessoal de Feira de Santana, meus conterrâneos. O pessoal de Salvador tentou me puxar, mas eu falei: “Não, é na minha terra isso. É na minha terra que eu vou dizer que eu vou estar disputando uma ideia que vem do grupo PSL Bahia, que acredita que o meu é nome mais viável” e é isso. Estou aqui para passar por mais esse desafio na vida e que seja feita a vontade de Deus.

AC – Normalmente, eleição é um negócio sério. Termina uma, começa a se pensar já na outra. Já se fala em sucessão de presidente de República e outras mais. Entramos no ano da sucessão municipal e quando a senhora foi eleita deputada já se falava na matéria de candidatura a prefeitura. A senhora se sente preparada para governar Feira de Santana, se conseguir eleição?

DP – Vocês são ligeiros. Eu me sinto preparada para encarar esse desafio. Feira de Santana é uma cidade que tem recurso tão grande. Você vê que é uma cidade que arrecada bem. Uma cidade com condições, com potencial. Obviamente não é um algodão doce. Mas deve ser muito fácil administrar quando você administra com responsabilidade fiscal, com responsabilidade social uma cidade como Feira. Essa questão da gente sempre personificar a figura do executivo como o único responsável por um governo é uma ideia muito errônea. Um governo precisa ser feito por uma estrutura de pessoas, um conjunto de pessoas com vontade de fazer a política acontecer. Eu vou buscar isso, vou buscar pessoas, vou buscar apoio. Ouvir da população o que ela espera e deve ser até muito agradável você ouvir da sociedade e executar. O executivo é isso. Ele executa as ideias e necessidades que vem da população, é nesse cerne que eu vou seguir.

AC – Normalmente, as pessoas se lançam candidatos e lá na frente desistem, fazem composições. Esse é o caso da senhora ou a candidatura é pra valer, pelo menos por enquanto?

DP – Não. A nossa pré-candidatura é pra valer. A gente vem com a ideia de mostrar que nós estamos oportunizando mais uma opção para a população feirense. É importante salientar que quando a gente se coloca a disposição da sociedade, a gente quer mostrar que está oportunizando mais uma opção. O PSL está vindo aí de mais uma eleição muito vitoriosa e a gente precisa crescer o número de pessoas junto com nosso grupo. Precisamos mostrar que existem outras ideias, outras alternativas e é nesse caminho que nós iremos seguir. É um desafio sem sombra de dúvidas. Não tenho experiência no Executivo assim como eu também não tinha no Legislativo e fecho o primeiro ano de mandato concorrendo com políticos experientes, como a primeira congressista do estado da Bahia. Estou concorrendo com 42, que são os 3 senadores e mais os 39 deputados no quesito qualidade legislativa, custo-benefício, avaliada pelo ranking dos políticos, que é um grupo de cientistas políticos de professores e historiadores que analisam a melhor performance no Brasil e eu pontuo em primeiro lugar. A nível nacional, estou nos 40 melhores. Ser neófita não significa não saber uma situação. Agora, obvio que se eu disser que estou totalmente preparada, que eu vou fazer acontecer, não. Eu estou buscando e estarei ainda mais me preparando nesse ano de 2020, junto com a experiência que eu tenho de 2019 para fazer o meu melhor e trazer um melhor resultado. Eu não entro em lugar nenhum, em nenhuma função para fazer feio. Como professora, eu era exemplar. Meu primeiro ano de congresso eu fiz um mandato excelente e se eu estou vindo à prefeitura, e se eu lograr êxito, pode ter certeza que a população feirense vai poder contar com o melhor de mim.

AC – Tem uma matéria do jornal O Globo que diz que o número de desfiliações do PSL quadruplicou. Como está o PSL em Feira de Santana para enfrentar uma candidatura?


DP – Estou até feliz com esse dado. Muito, muito pouco, muito irrisório o número de desfiliações. Até porque o PSL segue o ritmo e, inclusive, nós temos muito filiados aqui na Bahia de uma outra dimensidão ideológica, que já estavam no PSL antes de nós entrarmos, então não significa muita coisa essas desfiliações. Vou dizer que achei que o dado fosse até maior. O PSL está se estruturando. É um partido do povo é para o povo. Eu comecei assim, estou assim, continuarei assim. Aproveitar para fazer o convite para as pessoas que querem entrar em um partido que vai estar dando condições iguais para todos os pré-candidatos. Nós não temos ninguém de mandato aqui concorrendo a vereador, por exemplo, então o PSL segue nesse ritmo, mostrando esses resultados no Legislativo . Temos uma bancada muito forte, temos o Alberto Pimentel que está sendo secretário em Salvador e está mostrando excelente resultado. Nós temos quadros muito bons dentro do PSL e queremos ter ainda mais, basta a população se disponibilizar e estar junto conosco, porque para que os maus não governem, bastam que os bons queiram governar. Vamos dar um foco maior a estruturação em Feira de Santana, porque já temos algumas deliberações, já temos um grupo muito grande querendo se candidatar pelo PSL, a minha própria pré-candidatura vem fortalecer muito essas pessoas e agora a gente tem um nome que está protagonizando na política brasileira para poder se apegarem, e é isso. A gente vai ver, fazer a seletiva e encarar essa disputa sem medo. Se tem uma coisa que eu tenho, é coragem.

AC – O pastor Tom que é deputado estadual e presidente atual do Fluminense de Feira anda se ensaiando também como candidato e ele ainda está no partido da senhora, o PSL. E aí como vai ser resolvida essa questão?


DP – O pastor Tom vai entrar em condição de clausula de barreira, então eu acho que no estatuto dos três deputados que nós temos aqui na Bahia, ele é o deputado que tem uma certa liberdade, porque como ele não foi eleito pela legenda, ele tem essa flexibilidade de decidir ir para outro partido e fazer declarações que abraçam outro partido. E é isso, eu não sei, eu sei que eu sou presidente do PSL, que o PSL existe, está homologado em minha candidatura. Se ele conseguir essa legenda em outro partido, ele vai disputar e, obviamente, vai se desfiliar do PSL, vai seguir o caminho dele e a gente vai continuar com o nosso caminho. Não interfere em absolutamente nada.

AC – Quando a senhora saiu do bloco do presidente Jair Bolsonaro, as conversas nos bastidores políticos eram de que politicamente a senhora se acabou. A senhora acredita que sobrevive politicamente sem o apoio do presidente?

DP – Com toda certeza. É engraçado que as pessoas que dizem que “ela se acabou politicamente” são as mesmas que diziam que eu não ia para lugar nenhum. Aqui estou eu. São os mesmos críticos e faz parte da política. É uma questão assim, que se isso fosse verdade, eu estaria lá, agarrada com o presidente. Mas eu não posso, porque eu tenho que dar vazão ao meu compromisso de campanha, fazer tudo aquilo que o Bolsonaro se propôs a fazer, mas que hoje a gente vê que ele não faz. É um rompimento, porque o presidente está deliberando de forma muito bilateral, ele está indo contrário a tudo que pregou. O presidente Bolsonaro não é o governo, o governo somos todos nós. É o Ministro Sérgio Moro, Paulo Guedes, Damares, é a professora Dayane, são os deputados do PSL, tanto os que seguem do lado dele como os do lado que fica. É nessa estrutura que nós acreditamos, que nós queremos. Quando é que a professora Dayane Pimentel decide não continuar mais com o presidente Bolsonaro? Quando o presidente tira o Coaf da justiça e coloca no Ministério da Economia, por quê? Porque o filho dele é investigado por isso. Mas o filho dele está sendo investigado? Está sendo, nós não sabíamos dessas situações de rachadinha, de organização criminosa como falou o Ministério Público do Rio de Janeiro, o que a gente só veio saber depois que ele estava no poder. Ele dizia que quando chegasse no poder ia combater o sistema. Hoje a gente vê o presidente de mãos dadas com o STF, muitos ministros que agem em desacordo com a população brasileira. Você vê o centrão tomando conta do governo do presidente Bolsonaro. São 700 nomeações iniciais que o presidente Bolsonaro atribuiu para o centrão. O seu líder de governo é o Fernando Bezerra, senador que está sendo investigado por lavagem de dinheiro e corrupção. Então, é esse Bolsonaro que a professora Dayane ajudou a eleger? Não é, não é esse. Se ele se afasta do discurso dele não fui eu que me afastei, foi ele que se afastou do discurso dele, eu continuo no mesmo partido, com o mesmo grupo político, defendendo as mesmas coisas, mas continuo coma ficha limpa. Se tem alguém nessa história que se desviou, foi o próprio presidente. Eu espero que ele caia em si, que ele entenda qual é o dever dele, a função dele e que ele volte em muitas questões. A questão do combate a corrupção, Bolsonaro falou que se pudesse acabaria com as investigações em relação ao filho dele. É justamente o contrário. Quando você não deve, você não teme. Ele deveria ser o primeiro e maior interessado em que essas investigações acontecessem logo para mostrar o resultado, para que ele se desligue. Em contramão com esse discurso que ele pregou eu acabo me afastando. Agora, eu continuo governista. Tudo aquilo que foi bom para a população e vier do governo, vai contar com meu apoio, porque eu não estou aqui para fazer oposição por oposição, eu estou aqui para fazer o meu papel, ter coragem de apontar os erros, estar junto para que a gente alcance os acertos.

AC- Então a senhora considera que tem musculatura política para seguir em frente sem Bolsonaro?

DP – Com toda certeza. Quem era a professora Dayane? era uma apoiadora de Bolsonaro. Depois que a professora Dayane virou deputada, ela é agora o que ela fez no mandato. O que Bolsonaro trouxe para Feira de Santana? Agora eu trouxe. R$ 1 milhão para saúde, R$ 1 milhão para o desenvolvimento regional, R$ 1 milhão em educação em escolas municipais e mais quase R$ 1 milhão para terminar as creches aqui em Feira de Santana. Trouxe R$ 2 milhões para o Anel de Contorno, busquei por R$ 40 milhões na emenda de bancada para o Anel de Contorno, estou todos os dias defendendo a Bahia. Já ouviu por acaso Bolsonaro citar a cidade de Feira de Santana? Então é essa musculatura que eu preciso. A gente já ouviu alguma vez Bolsonaro falar em relação a Salvador, a Vitória da Conquista, a Camaçari e Alagoinhas? A gente não ouve. Entendo que é um presidente, está ligado em outras coisas, mas a minha musculatura é a minha independência, é o meu trabalho, o resultado que eu gero. Foi Bolsonaro que me fez conquistar a primeira posição no ranking dos políticos baianos ou fui eu? fui eu, é o meu trabalho. Não quero ser desrespeitosa, ingrata com ele, assim como foi ele ingrato comigo. Agora eu quero mostrar as pessoas que existem uma Dayane além de Bolsonaro. Inclusive a própria Dayane que ajudou a construir o Bolsonaro. Eu já tive aqui e você já me perguntou isso. Bolsonaro é tido como machista, homofóbico, preconceituoso, a categoria intelectual do país não aceita Bolsonaro e eu enquanto professora que sou, uma categoria pensante, mulher, cristã, nordestina vim aqui desmistificar os rótulos. Eu contribuí tanto com ele, que ele me convidou para fazer parte do grupo dele. Eu era ninguém, eu era uma professora e meu discurso chamou a atenção do homem que hoje é presidente. O mesmo discurso que eu tinha há quatro anos, eu tenho hoje. Você que é eleitor do presidente Bolsonaro, ele está com o mesmo discurso de quatro anos atrás? Também não estou aqui para fazer oposição de ninguém não. Eu só quero que as pessoas reflitam e busquem, critiquem os erros para que a gente possa dar realmente vazão ao projeto que a gente sonhou.

AC – Foi a falta de cumprimento dos projetos ou foi a falta de cargos e de contato com o presidente que faz a senhora sair do grupo?

DP – Nunca busquei cargos, nunca prometi nada a ninguém. Até esperava que fosse para técnicos. Aí os cargos não vão para técnicos, vão para o toma lá da cá. De 700 cargos distribuídos no PP, no PL, no PSD, então é o grupo do centro da política que está comandando o governo. Eu não estou preocupada com questões políticas porque eu já sou deputada federal, eu quero agora mostrar o meu trabalho, mas obviamente que eu quero o cumprimento daquilo que foi dito, desaparelhamento da esquerda no governo da Bahia, o governo federal é no país inteiro. Aí a gente vê o PT tomando conta da Petrobras aqui na Bahia, quer dizer que eu ajudei a eleger Bolsonaro para hoje ver continuidade do PT tomando conta. Os nossos dois vice-líderes daqui da Bahia são da base de Rui Costa, que loucura é essa? Que paradoxo é esse? É isso que eu não aceito. Agora obviamente que eu estava segurando o máximo. Com o clima de beligerância em relação ao PSL a gente acaba expondo, porque eu precisei decidir ir para um lado. Ou eu continuo no PSL ou eu dou segmento ao presidente Bolsonaro que está fazendo propaganda de um partido que não existe. Você já impulsiona pessoas a se filiar no partido, pessoas que querem ser candidatos em 2020 e não conseguem homologar o partido, acabou com o sonho da pessoa?

AC – Se a senhora se elegeu como deputada, por que não termina o mandato?

DP – A questão é que eu busquei um nome que pudesse representar a gente, convidei Dilton e tudo, então é muito difícil em tudo que a gente defende, que a gente aposta e acredita, a gente ter nomes que sigam com o projeto que a gente acredita. O meu nome é um nome natural. A gente conversa muito com o PSL nacional, com o PSL dos outros estados que vislumbram em mim essa oportunidade. Então quando você entra na política você não responde mais por si, você responde por um grupo, você não é peça apenas da sua história, você é peça das histórias alheias. É por isso que vou encarar esse desafio. Estou disponível para concorrer, para trazer ideias, para aprender e eu tenho certeza que eu vou sair disso de um jeito ou outro, muito mais capacitada do que como vou entrar.

AC – O seu esposo Alberto Pimentel é candidato a vereador em Salvador?

DP – Está confirmado, ele está num excelente trabalho a frente da da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Salvador, bateu recordes, tá mostrando serviço, está levando alegria e trabalho para os subúrbios de Salvador e foi um nome aclamado e é uma oportunidade de se mostrar ainda mais com o mandato na mão.

AC – ACM Neto disse que o DEM está livre para alianças em qualquer parte do Brasil, na Bahia principalmente. Era a senha que José Ronaldo estava precisando para liberar o apoio a Colbert. A senhora estava com ACM, a senhora se lançou candidata em Feira, e agora? ACM pediu para José Ronaldo apoiar a senhora ou pode fazer aliança com quem quiser?

DP – Olha, está tudo em aberto. Eu acho que quando o presidente do DEM, ACM Neto, fala isso, ele não deu essa declaração pensando apenas em Feira de Santana, ele falou de uma fora geral. Uma forma macro. É a mesma posição do PSL obviamente entendendo que os correligionários do PSL entende o que está no estatuto e ninguém vai fazer alianças indevidas. Eu acredito que o presidente do DEM, o prefeito ACM, tenha pensado da mesma forma. Muito inteligente o pensamento e é a mesma coisa que eu digo para todos os presidentes do partido PSL. Nos seus municípios, vocês estão livres. Esquerda, PT, PSOL está aí, mas vocês estão livres para deliberar. Eu acredito que o raciocínio do ACM foi muito nesse quesito também.

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