Orisa Gomes
A divulgação de informações sobre o câncer de próstata, especialmente no Novembro Azul, tem aumentado a consciência de prevenção entre os homens, mas a quantidade de mortes causadas pela doença ainda preocupa. Segundo dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), apenas em 2018, 1087 homens perderam vida em todo o estado. Em entrevista ao Acorda Cidade, o urologista João Batista reforça a importância do diagnóstico precoce, que possibilita chance de cura de até 90% e esclarece as principais dúvidas sobre o assunto. Leia na íntegra:
Acorda Cidade – As campanhas de conscientização sobre o câncer de próstata tem feito os homens se prevenirem?
João Batista – Com a divulgação frequente da necessidade do homem fazer a sua avaliação e também dos benefícios que ele pode auferir por buscar fazer a sua prevenção primária e secundária, eles estão indo com mais frequência fazer a avaliação anual, especialmente nesse momento do Novembro Azul, onde se foca as questões das doenças prostáticas. A mídia tem contribuído de forma significativa, a divulgação é ampla, e isso tem surtido efeito. Os homens estão se conscientizando de que a saúde é fundamental e eles precisam preservar essas saúde e continuar contribuindo primeiro consigo, depois com a família e a própria sociedade.
AC – O que é o exame PSA?
JB – PSA é uma sigla do inglês: Antígeno Prostático Específico. É uma molécula glicoproteína formada por uma proteína e uma molécula de açúcar. A sigla representa essa molécula e foi identificada como sendo produzida pelas células epiteliais, que são células do tecido epitelial, de revestimento e também o tecido onde encontramos as glândulas exócrinas e essas glândulas são responsáveis pela produção de substâncias, entre as quais os PSA.
AC – O exame de PSA dispensa o toque retal?
JB – De jeito algum. O PSA não é uma molécula câncer específica, ela é produzida por uma série de outras glândulas, a exemplo da mamária e bolsa escrotal. O que acontece é que cerca de 95% dos cânceres de próstata têm o PSA elevado, mas o fato do indivíduo ter o PSA elevado não significa ter câncer, e o fato dele ter o PSA normal não significa não ter câncer. Por isso é fundamental que seja mantida a rotina que é preceituada pela Organização Mundial de Saúde e pela Sociedade Brasileira de Urologia: homens, a partir dos 45 anos, façam a sua avaliação médica, clínica/urológica, na qual habitualmente o profissional vai solicitar os exames que são necessários, entre eles o PSA.
AC – segundo dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), apenas no ano passado 1087 homens morreram no estado em decorrência do câncer de próstata. O que esse número nos diz?
JB – É um número terrivelmente preocupante, porque são vidas que foram ceifadas e o que mais nos deixa frustrado é que esse tipo de morte poderia ser evitada, se houvesse a prevenção primária e secundária. Desde 2009, o câncer de próstata já é o mais prevalente no mundo, e é o mais prevalente entre os homens acima de 15 anos, exceto os tumores de pele que representam 95% de todos os cânceres. A ciência está ganhando a guerra contra o câncer de próstata. Ao diagnosticar precocemente essa doença, o indivíduo tem 90% de chance de cura, portanto lamento muito essa quantidade de óbitos. Nós não temos como impedir que o câncer surja, mas temos hoje conhecimento técnico, ferramentas terapêuticas suficientes para evitar o sofrimento e levar o paciente à cura, desde que seja descoberto em tempo hábil.
AC – Qual é a média de chance de cura no diagnóstico tardio?
JB – Quando é tardio, já não tem chance de cura. Eu diria de forma simples que o câncer de próstata é totalmente curável, se quando ele for diagnosticado a doença ainda estiver confinada ao órgão, à próstata. Se as células prostáticas, as células cancerosas saem da próstata, ele não é mais curável. O momento de identificar é ainda na fase inicial, que o indivíduo tem chance de 90% de ficar curado. E porque não de 100%? Porque existem diversos tipos de câncer, desde os mais agressivos aos menos. Os mais agressivos, que pessoas de 45, 50 anos, levam o paciente com mais dificuldade, evita-se a cura, mas o que são menos agressivo em pacientes com mais idade, habitualmente eles se desenvolvem bem e podem ser tratados e curados.
AC – O aumento da próstata é sinal de câncer?
JB – Não. A próstata vai crescer em 85% dos homens ao longo da vida. Com maior frequência o crescimento é benigno, motivado pelo envelhecimento e pelas alterações hormonais próprias do envelhecimento masculino. Agora, parte desse crescimento, eles serão de câncer e esse percentual aumenta com a idade. Estima-se que aos 60 anos, 10% dos homens tenham câncer de próstata; aos 70, cerca de 20%; e aos 80, 40%.
AC – Quanto ao fator genético, ele também contribui com a ocorrência do câncer de próstata?
JB – Todo câncer tem um caráter genético, porque o defeito básico da célula cancerosa acontece no gene da célula. Agora, a questão da hereditariedade, que são genes transferidos de pessoas para pessoas, também existe. Por isso, nos grupos de risco, as pessoas que têm câncer de próstata na família ou de mama, têm que ficar muito vigilantes e começar a fazer a avaliação no máximo aos 45 anos. Esse é um dos fatores de risco do câncer prostático, associado a ele está o envelhecimento e, finalmente, os homens de origem melanodermica, que têm mais câncer de próstata que os de origem europeia, os caucasianos.
AC – Vida sexual ativa aumenta o risco de desenvolver o câncer de próstata?
JB – De jeito algum. Não tem nada a ver hábito sexual com câncer de próstata, nem tão pouco com o câncer prostático. São situações totalmente diversas. Podem continuar tendo as suas vidas sexuais satisfatórias com prazer, que há risco de câncer prostático em relação a prática sexual.
AC – Quanto a vasectomia, causa alguma interferência?
JB – Também não. Dezenas de estudos criteriosos já demonstraram que não existe correlação entre a vasectomia, que é uma cirurgia que vai cortar o canal deferente. Simplesmente quando se faz vasectomia, o espermatozóide não passa mais para chegar até a próstata e não existe correlação nenhuma entre vasectomia e câncer prostático.
AC – Só há câncer de próstata se houver sintomas ou a pessoa pode estar com a doença sem nenhum sinal?
JB – primeiro vamos ao diferencial de sinal e sintoma. Sintoma é algo subjetivo, é o que o paciente sente, e ao tempo que ninguém pode dizer que ele não está sentindo, ele também não pode provar que esteja sentindo. Sinal é aquilo que é objetivo, visível. Por exemplo, uma lesão na pele é um sinal e dor de cabeça é um sintoma. O indivíduo pode ter câncer de próstata sem nenhum sintoma, sem estar sentindo absolutamente nada e sem um sinal objetivo, sem o crescimento prostático, porque a próstata normal tem cerca de 28g e nesse tamanho normal já pode existir célula cancerosa.
AC – Quais os tratamentos principais na atualidade?
JB – São três os tratamentos básicos para qualquer tipo de câncer, inclusive para o de próstata. Dois desses tratamentos são curativos, resolutivos. O primeiro é a cirurgia, o segundo é a radioterapia. Os indivíduos que têm câncer na fase inicial podem se beneficiar com duas técnicas, dois tratamentos: a prostatectomia radical e a radioterapia conformacional ou interna. Já o câncer que não é curável, o que só será controlável, ele pode se beneficiar com o tratamento quimioterápico. Então, só quem não tem câncer curável faz quimioterapia. Aquele que pode ser curado, a opção é radioterapia e prostatectomia radical ou cirurgia.
AC – Enquanto homem e urologista tão respeitado em Feira de Santana, o que o senhor diz para os homens?
JB – Primeiro fazer a prevenção primária, que é o que não depende do médico: viver bem, com equilíbrio, comer o suficiente para sobreviver, praticar exercício, evitar hábitos nocivos a saúde, uso de drogas lícitas ou ilícitas. Buscar ter uma vida saudável faz com que tenha menos agravos, menos doença. A segunda coisa é anualmente fazer a avaliação. Não precisa nem homens nem mulheres estarem todo o dia em médico, não há necessidade disso. Isso é a previsão secundária e neste momento o profissional pode identificar uma patologia como câncer e evitar que venha sofrer mais tarde.