Ney Silva e Rachel Pinto
Com o teatro do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca) lotado, centenas de vendedores ambulantes se manifestaram decididos a não ocuparem os boxes destinados a eles no Shopping Popular durante uma audiência pública realizada ontem (29) a tarde. O encontro foi organizado pelo Coletivo de Vendedores Ambulantes e teve como objetivo discutir entre outras questões, as taxas cobradas pelo Consórcio Feira Popular, responsável pela construção da Cidade das Compras, empreendimento construído na área do Centro de Abastecimento.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
Participaram da audiência pública os vereadores Edvaldo Lima e Luiz da Feira, o professor Rosevaldo Ferreira da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), além de uma representante da Defensoria Pública e também da Associação dos Vendedores Ambulantes.
Rosevaldo Ferreira que é professor de economia da Uefs apresentou dados sobre o cenário dos vendedores ambulantes em Feira de Santana e segundo ele, o Shopping Popular será muito lucrativo para o consórcio que o construiu.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“Os dados que eu apresentei foram dados extraídos fundamentalmente do edital de licitação que fez a modalidade de concorrência. Em seguida eu tive acesso ao projeto de viabilidade econômica. Tem uma cópia do projeto de viabilidade econômica do empreendimento que foi feito pelo grupo e mostra que ele vai ter uma receita de mais de 400 milhões ao longo dos 30 anos. É uma despesa de 208 milhões. Resumindo isso, ele vai ter um lucro bruto que é lucro dos impostos de 656 mil reais por mês. Quer dizer que é um empreendimento muito lucrativo que para se ter uma ideia, o Shopping Popular ele retorna o capital investido do empresário em sete anos em meio”, afirmou.
Para o professor, o Shopping Popular tem muitas desvantagens para vendedores ambulantes. Por exemplo, muitos vendedores do mesmo segmento vão ocupar o local e pagar impostos que muitas vezes sejam superiores aos lucros obtidos no mês.
“Foi feito um cadastro de aproximadamente 1800 ambulantes. Nesse total, temos,por exemplo, 186 vendedores de lanches. Quem são os clientes desses lanches? São as pessoas que trabalham no centro da cidade. Temos cadastrados 27 vendedores de caldo de cana e será que um vendedor de cana terá rentabilidade para pagar 600, 800 reais de aluguel?”, questionou
O advogado Rodrigo Lemos foi convidado pelo coletivo de vendedores ambulantes para participar da audiência pública. Na opinião dele, a prefeitura deveria transferir todos os vendedores ambulantes para o Shopping Popular e não apenas os vendedores cadastrados.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“É economicamente inviável a permanência deles lá e isso é muito perigoso porque só existe o Shopping se houver proibição do comércio informal nas ruas do centro; Porque é óbvio que se o vendedor está pagando um aluguel de 600 reais do Shopping, ele não vai conseguir concorrer com o cara que está sem pagar nada na Sales Barbosa. O shopping só se viabiliza com a completa destruição do comércio do camelô e do ambulante em Feira de Santana do centro da cidade. O sujeito que está na Sales Barbosa amolando alicates e sustenta a família há 30 anos com essa atividade, se ele sair da Sales e for para o Shopping , será que ele vai fazer R$600 no mês para pagar o aluguel do box? Não tem como. O que essa pessoa vai fazer da vida para pagar as taxas e sobreviver?”, enfatizou o advogado.
Integrante do coletivo de ambulantes Jossivan de Jesus Lima confirmou que os vendedores ambulantes estão dispostos a não assinarem o contrato com o Consórcio Feira Popular. Ele frisou que o Shopping Popular vai inserir 1800 ambulantes, mas são em média 8 mil ambulantes que trabalham no centro da cidade. Ele questionou sobre o que será feito com os ambulantes que não foram cadastrados e como eles vão sobreviver já que todos serão retirados do centro da cidade.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“Vai ser um caos para Feira de Santana. Não só no comércio ambulante, como o comércio em geral. Lojas e outros setores que vão abalar Feira de Santana, o que que a gente pode fazer através disso: valer o nosso direito porque lá serão cobradas várias taxas. Tem pessoas que têm uma guia de 200 reais, como é que vão pagar 700, 800 reais? Não há condições”, ressaltou.
A audiência pública no Cuca também teve a participação da Associação dos Vendedores Ambulantes de Feira de Santana.