Bahia

Responsável por 'navio-livraria' diz que mensagem discriminatória não foi aprovada por organização

Instituição internacional cristã publicou nas redes sociais pedindo orações ao anunciar uma viagem para Salvador e disse que a cidade é conhecida por 'crenças em demônios'.

Acorda Cidade

A organização responsável pelo navio Logos Hope, considerado a maior livraria flutuante do mundo, divulgou um comunicado oficial neste sábado (26) lamentando a mensagem discriminatória publicada na última terça-feira (22).

No post, a organização internacional cristã Good Books for All Ships pedia orações aos seguidores ao anunciar uma viagem da embarcação para Salvador. No texto, a organização justificou os pedidos de oração relatando que a "cidade é conhecida pela crença das pessoas em espíritos e demônios".

Em nota, a Logos Hope disse que a mensagem foi emitida na Alemanha em nome da organização, mas não foi aprovada oficialmente. O comunicado ainda destaca que o comentário feito não reflete os princípios e valores da Logos Hope e da OM no Brasil. Veja abaixo o comunicado na íntegra:

Lamentamos profundamente o ocorrido com a nota emitida na Alemanha no dia 22 de outubro de 2019 em nome da organização, como sendo a visão do navio Logos Hope e da OM no Brasil.

Salientamos que a postagem não foi oficialmente sancionada pela OM no Brasil, tão pouco pelo Logos Hope e não reflete, de nenhuma maneira, nossos princípios e valores que são a educação, a liberdade religiosa, o respeito, a tolerância e o amor ao próximo.

Nós vivemos diariamente e alegremente estes valores. São para nós muito caros. Acreditamos que o povo baiano reflete estes valores e são um exemplo de tolerância e multiculturalismo. Temos enorme felicidade de estar aqui com vocês, vivendo esta experiência, compartilhando e aprendendo.

Nossos navios operam por quase 50 anos e já visitamos mais de 150 países, inclusive países que professam uma variedade de religiões e jamais experimentamos uma situação similar. Nossa tripulação é um conjunto de mais de 60 nacionalidades diferentes, o que demonstra claramente nossos valores.

Lamentamos profundamente o ocorrido e reiteramos nossos valores, sobretudo o respeito e a tolerância.

Ministério Público investiga

O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), por meio da promotora Lívia Vaz, anunciou na sexta-feira (25) que investiga a discriminação religiosa por parte da organização internacional cristã Good Books for All Ships (GBA Ships), responsável pelo navio Logos Hope.

"O Ministério Público do Estado da Bahia, através da Promotoria de Justiça e Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, tomou conhecimento, na data de hoje [sexta, 25], de mensagens de cunho discriminatório, emitido pela Logos Hope – Livraria Flutuante. Foi instaurado o devido procedimento e a organização do navio foi notificada com recomendação para retirada da mensagem das redes sociais, bem como para prestar esclarecimentos no prazo de três dias", disse a promotora Lívia Vaz.

A Comissão Especial de Combate à Intolerância Religiosa da OAB-BA também se posicionou sobre o caso e através de nota repudiou a declaração da operadora do navio Logos Hope. De acordo com a presidente da comissão, Maíra Vida, declarar que a tripulação estaria submetida a riscos ao chegar em uma cidade "conhecida pela crença do povo em espíritos e demônios" ultrapassa os limites da liberdade de expressão e liberdade religiosa, revelando incoerência de uma entidade que se declara fomentadora da educação e do conhecimento.


Caso

A organização internacional cristã Good Books for All Ships, responsável pelo navio Logos Hope, fez uma publicação nas redes sociais pedindo orações aos seguidores ao anunciar uma viagem da embarcação para Salvador.

O navio chegou na capital baiana na quinta-feira (24) e a postagem foi feita na última terça. No texto, a organização justifica os pedidos de oração relatando que a "cidade é conhecida pela crença das pessoas em espíritos e demônios".

"Rezem por um embarque seguro e por uma navegação de dois dias direto para Salvador. Rezem por proteção, força e sabedoria para os tripulantes durante a estadia do navio em Salvador – uma cidade conhecida pela crença das pessoas em espíritos e demônios. Rezem para a equipe de eventos, que se prepara para um novo porto, e que Deus possa ser glorificado ao longo de cada um dos eventos que virão", diz o texto.

No Facebook, a publicação teve quase 100 comentários. Entre eles, de baianos, que criticam a postura da associação e defendem a cidade.

"Que Exu os receba na entrada com toda sua sabedoria. E nos proteja do Satanás que vocês carregam dentro do coração. Axé!!!!", disse uma internauta.

"Se eu fosse você, nem entraria na Baía de Todos-os-Santos, como Yemanjá é conhecida por sua raiva com preconceito e intolerância. Não podemos garantir que o seu navio possa ir para outro lugar depois disso", escreveu outra internauta.

"Faça um grande favor à cidade do Salvador/Brasil e nem entre na Baía de TODOS os Santos. O mundo não precisa de mais ignorância e desrespeito às religiões e crenças de outras pessoas", disse outro internauta.

Por volta das 12h10 de sexta-feira, a publicação foi excluída do Facebook pela organização.

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