Acorda Cidade
Um movimento capitaneado por pessoas que desejam se afastar daquilo que é superficial e pouco autêntico: isso é o que diferencia o turista do viajante. Enquanto o primeiro está em busca das atrações e atividades mais famosas da cidade, o segundo procura o que há de mais profundo e alternativo no local. O foco é na experiência e na aventura, e não nas selfies.
O termo turista, por si só, não tem nenhuma conotação negativa e deriva da palavra tour, em francês. Mas, nos últimos anos, o conceito tem se transformado para designar aquele indivíduo que se prende ao mainstream e ao conforto, em vez de aproveitar realmente o que uma imersão cultural tem a oferecer. Quem rejeita o rótulo de turista normalmente são as gerações Y e Z (nascidos entre 1979 e 1993 e entre 1994 e 2000).
Eles querem ser aventureiros e fazem pouca questão de trafegar na cidade por meio de táxi ou carro particular alugado. Em locais mais distantes, no entanto, não conseguem abrir mão de uma passagem aérea, ainda essencial para se locomover para outros países. “O termo ‘turista’, infelizmente, tem sido utilizado nos últimos anos de uma forma pejorativa. Isso é tão forte mundialmente que muitas empresas do setor preferem não usá-lo mais”, diz Mariana Aldrigui, professora do curso de turismo da USP (Universidade de São Paulo), em entrevista para a Folha de S.Paulo.
A diferença, muitas vezes, está atrelada ao rótulo. Na realidade, o que os viajantes buscam é combater o ímpeto consumista e imediatista que toma conta de um indivíduo quando está em um local desconhecido. A nova geração tenta mostrar, até mesmo para pessoas mais jovens, que a beleza está em vivenciar de corpo e alma o destino. Isso se dá por meio da exploração aventureira ou pelo apreço à simplicidade, aos pequenos detalhes e a um contato mais próximo com a população de um determinado local.
Não se trata de renegar todos os pontos turísticos mais famosos. Para os viajantes, só não é a primeira motivação para conhecer uma nova região, cidade ou país. Essa concepção pressupõe uma pessoa com a mente mais aberta, disposta a abrir mão da comodidade, por vezes, para fazer uma imersão mais profunda. É por este motivo que muitos que estão inclusos nessa categoria escolhem trocar trabalho por estadia ou ficar na casa de um nativo, em vez de se hospedar em um hotel.
Medir a intensidade de uma viagem para um determinado indivíduo, no entanto, parece subjetivo. Para alguns especialistas, o conceito tem seu valor, mas fazer essa distinção entre os termos é algo mais complicado. Até mesmo porque o turista realmente é aquele que viaja para algum destino diferente do local de onde mora.
“Essa divisão é uma bobagem que precisa ser combatida”, opina Cynthia Mello, autora do livro “Semiótica do Turismo Aplicada”, também em entrevista para a Folha de S.Paulo. Outro ponto a ser considerado é que nem todos possuem informação e paciência para organizar uma viagem por conta própria. Para esses, uma agência de viagens, com pacotes de turismo, pode ser a opção ideal. Planejar e estruturar uma viagem por conta própria sem experiência pode fazer o turista, ou o viajante, gastar ainda mais.