Feira de Santana

Fotógrafos do lambe-lambe dividem opiniões sobre ida para o Shopping Popular

A Praça Bernardino Bahia hoje divide seu espaço com alguns feirantes, muito lixo e sujeira.

Rachel Pinto

Os fotógrafos que trabalham na Praça Bernardino Bahia, Praça do Lambe-Lambe, em Feira de Santana, estão dividindo opiniões quando o assunto é a mudança para o Shopping Popular. O projeto da prefeitura de requalificação do centro comercial de Feira de Santana prevê que assim como os vendedores ambulantes eles sejam transferidos para o novo local.

Existem na praça, ainda em atividade, cerca de 14 fotógrafos, e a maioria deles não está satisfeita com a decisão do governo municipal. Os profissionais alegam que estão há décadas lá e consideram a praça como um patrimônio histórico e cultural. Segundo eles, apesar do abandono, a Praça do Lambe-Lambe, tem muitas histórias e guarda muitas memórias da cidade de Feira de Santana. Para eles, o ideal seria um projeto de valorização de modo a tornar o local mais atrativo para visitantes, fomentando o turismo cultural da cidade. 

Foto: Paulo José/Acorda Cidade

O fotógrafo José Carlos Assis atua há 40 anos na praça e, de acordo com ele, a transferência para o Shopping Popular não vai melhorar em nada a situação dos profissionais. Ele alegou que, além do custo de aluguel dos boxes, eles temem que as pessoas não procurem mais o serviço de fotografia.

“Temos uma história aqui e eu fico muito preocupado com a nossa ida para o Centro de Abastecimento. Como esse sistema de fotografia vai ficar naquele local. Eu não tenho nenhuma pretensão de ir para aquele lugar. Aqui a gente trabalha mais por prazer e para manter a tradição. O cliente não deixa de aparecer e o nosso trabalho é procurado. Eu gostaria que o poder público fizesse melhorias na praça”, declarou.

O fotógrafo Evandro Silva também trabalha na Praça Bernardino Bahia há décadas e, na opinião dele, a mudança para o Shopping Popular pode melhorar a situação da categoria. Ele afirmou que os fotógrafos estão se sentindo abandonados na praça e talvez a mudança traga um novo gás para o trabalho.

Foto: Paulo José/Acorda Cidade

“Acredito que vou conseguir um melhoramento. Quem sabe quando a gente for pra lá melhore o movimento. Aqui não estamos ganhando nem pra comida. A gente não consegue nem manter a despesa de vir para cá. Já houve épocas que eu ganhei até R$ 500 por dia trabalhado. Hoje não tiro nem R$ 100 por semana”, lamentou.

Desvalorização da cultura e abandono da praça

A Praça Bernardino Bahia faz parte da história de Feira de Santana e de muitas lembranças e memórias da população. Nas décadas de 60 a 70 era considerada uma das mais bonitas praças da cidade e os serviços dos fotógrafos eram muito requisitados. Eles foram apelidados de lambe-lambes porque trabalhavam com a fotografia tradicional e analógica e lambiam as chapas de vidro que capturavam a imagem. Depois elas eram transferidas para um papel e assim acontecia a revelação das imagens.

Com o advento da fotografia digital, o sistema de fotografia lambe-lambe foi perdendo espaço e alguns fotógrafos buscaram se adequar à nova realidade. No entanto, há ainda aqueles que continuam na atividade e sempre há os clientes que procuram pelos serviços. Como eles trabalham na praça, muitas vezes são a alternativa mais fácil para quem precisa tirar uma fotografia com rapidez.

Foto: Reprodução/ Cartão Postal

A maioria dos profissionais que trabalham em Feira de Santana são aposentados e continuam na profissão por prazer e como forma de complementar a renda familiar. Além disso, a vivência de décadas na praça os transformou em parte do patrimônio histórico e cultural da cidade.

Embora parte da população reconheça e valorize os fotógrafos, eles relatam que sentem falta de apoio do poder público. Alegam que não há nenhum incentivo de resgate da cultura da fotografia na cidade e que o local onde trabalham há anos encontra-se abandonado.

A Praça Bernardino Bahia hoje divide seu espaço com alguns feirantes, muito lixo e sujeira. As poucas plantas que ainda existem sobrevivem à ação do tempo. A falta de segurança também deixa espaço para a ocorrência de furtos e roubos e também para que pessoas façam uso de drogas na praça.

Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade.

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