Aldo Matos e Rachel Pinto
Seis dias após o acidente que ocorreu na estrada Feira de Santana/São Gonçalo dos Campos, BA 502 entre um caminhão de transporte de animais e uma van que transportava funcionários de uma empresa de frango e deixou oito pessoas mortas, a ficha ainda não caiu para muitos familiares, colegas, amigos das vítimas. A tragédia entristeceu muitas pessoas e os três sobreviventes se recuperam entre as lembranças de momentos antes do acidente e também agradecidos pela nova oportunidade de viver.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade | O acidente que deixou oito mortos e três feridos aconteceu na Curva do Jacaré
O motorista do caminhão, Jean Carlos e Evita Miguelina Carvalho Moura que estavam na van são as três pessoas que saíram com vida do grave acidente. Aos poucos eles retomam as suas rotinas e tentam viver dias mais alegres do que o último dia 20 de junho.
A sobrevivente Evita Miguelina, contou em entrevista exclusiva ao Acorda Cidade que ainda está em choque com tudo e que não se lembra de como o acidente aconteceu. De acordo com ela, foi tudo muito rápido e ela só se recorda do momento em que o caminhão vinha na direção da van. Com o forte impacto ela ficou desacordada e só voltou a consciência quando estava presa entre as ferragens e aguardava ser regatada pelo Corpo de Bombeiros.
“Não vi quase nada, não deu pra ver, foi tudo muito rápido. Quando eu acordei eu estava nas ferragens e aí eu acordei com um amigo meu pegando no meu braço e falando: ‘Você está bem amiga, você está bem. Espere, a gente vai te tirar daí!’ Foi só isso que eu vi e até então eu não sabia que os outros colegas tinham falecido. Quando eu entrei na ambulância eu perguntei a médica e aos socorristas se estava todo mundo bem. Mas, só soube quando estava no quarto que todos os meus amigos tinham falecido”, afirmou.
Amigos da van
Evita relatou que ainda está em choque e muito angustiada de ter perdido os seus amigos. Eles tinham muita afinidade e o trajeto para trabalho era sempre de muita alegria e companheirismo. Faziam questão de sempre tomar café da manhã juntos na empresa e Evita comenta que havia uma cumplicidade muito grande entre todos. Todo dia 15 do mês, dia em que recebiam parte do salário, se reuniam para almoçar juntos no Restaurante da Berê em São Gonçalo dos Campos e sempre era aquela confraternização e aquela festa.
“A nossa relação era de amizade e criamos um grupo de email para a gente se comunicar. O colega Wagner, não usava o WhatsApp e criamos esse grupo para que todos participassem. O grupo se chamava Amigos da van e sempre estávamos em clima de harmonia, de alegria. Nosso trajeto para o trabalho era marcado todos os dias por muita conversa, resenha e eu sempre ia com o terço na mão e rezando.”
Livramento divino
Evita acredita que o fato de ter sobrevivido ao acidente pode ser atribuído a um livramento divino. Ela contou que é muito católica, devota de Maria e como fazia sempre, no dia do acidente estava rezando o terço. No momento da colisão, quando ela avistou o caminhão e pensou que fosse morrer, a ação que teve foi olhar para o terço e pedir que Maria lhe livrasse de todo o mal.
“Eu pedi a minha mãe Maria o livramento e ela com o seu manto sagrado me cobriu. É como se ela tivesse me tirado do carro e depois me colocou ali entre as ferragens para que fosse resgatada”, acrescentou.
Evita afirmou ainda que quando viajava de van ia sempre no banco da frente junto com o motorista. O tenente Luiz Américo do Corpo de Bombeiros, que participou do resgate dos sobreviventes frisou que eles estavam utilizando o cinto de segurança de três pontas, diferente das oito pessoas que morreram, que estavam utilizando o cinto pélvico. Ele informou ao Acorda Cidade, que o cinto de três pontas oferece muito mais segurança aos passageiros dos veículos.
Confiante que foi a fé em Deus e em Maria que lhe deixou com vida após o acidente, Evita declarou que ainda não consegue acreditar que perdeu seus amigos. Ela comentou que quer chorar, liberar toda a angústia que sente no peito e agradecer pelo livramento, pela vida e pelo milagre concedido.
“Eu sinto muitas dores físicas. Estou com problemas respiratórios, para deitar, pra levantar, sempre preciso da ajuda de alguém. Mas, minha dor pior é angustia que eu sinto em meu peito e vou liberar, chorar, agradecer ao Senhor pela minha vida. É mistura de sentimentos, muitas saudades dos colegas. Eu não sei como será o retorno porque eu era como se fosse quase a melhor amiga de cada um deles. Compartilhávamos sobre as nossas vidas pessoais, nossas histórias”, ressaltou Evita.
O dia do acidente foi de silêncio
Evita também informou a reportagem do Acorda Cidade que o clima na van que habitualmente era de descontração e alegria, no dia do acidente os sentimentos foram diferentes. A conversa que sempre reinava entre os colegas deu lugar ao silêncio. Todos estavam em silêncio, reclusos em seus pensamentos, como se soubessem da tristeza que estava por vir. Evita disse que percebeu que havia algo diferente naquele dia, mas não imaginava que uma tragédia pudesse acontecer. Só depois do acidente que ela foi analisar os detalhes daquele dia e para ela, aquele silêncio poderia ser uma espécie de premonição.
“O clima entre nós sempre foi de alegria todos os dias. Mas, naquela quinta-feira estavam todos muito calados. Todos permaneceram calados durante todo o trajeto. Todos calados e eu rezando o terço em silêncio. Até Eliomar que era o mais engraçado de todos e brincava com todo mundo estava quieto em seus pensamentos. Eu não estranhei o comportamento de todos, mas depois eu percebi como se a gente já tivesse sentindo a tristeza”, lamentou.
Recuperação
Evita já está em casa se recuperando do acidente junto aos seus familiares. E aproveitou a oportunidade para agradecer a todas as pessoas que oraram pela sua vida. Mãe de duas filhas, Maria de 12 anos e Fátima, de 4 (cujos nomes são em homenagem a Maria e Nossa Senhora de Fátima), dois dias antes do acidente ela teve uma experiência com Fátima que serviu ainda mais para fortalecer a sua fé.
Fátima gravou um áudio para a mãe dizendo que ia pedir a Deus para que ela não morresse. Veja a transcrição do áudio:
Fátima – Se tu morrer eu vou lembrar de tu porque tem a foto de tu e papai na minha carteira.
Evita – Mas, mamãe não vai morrer por agora não viu? Pede a Deus para mamãe não morrer por agora.
Fátima – Deus eu quero que ninguém morra , nenhum dia por favor. Deus disse que não vai mais deixar ninguém morrer porque já tem muitos anjos.
Muito emocionada, Evita chorou muito durante a entrevista e declarou que no aconchego do lar, perto da sua família busca o recomeço através dos sentimentos de amor e gratidão.