Feira de Santana

Terceiro bebê morre por dificuldade de atendimento no Hospital da Mulher em menos de uma semana

A diretora do Hospital da Mulher, Charline Portugal, informou que a unidade está apurando com maiores detalhes tudo que ocorreu durante o parto de Taiane Lima Barros.

Daniela Cardoso

Mais um bebê veio a óbito em Feira de Santana devido a grande demanda e a falta de leitos nas maternidades da cidade. Taiane Lima Barros, 30 anos, deu entrada no Hospital da Mulher por volta das 13h30 de ontem (8), em trabalho de parto. Com os nove meses completos, o bebê morreu e a família responsabiliza o hospital.

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Matheus Bispo da Silva, 28 anos, pai da criança, informou que o bebê nasceu com três quilos e duzentos gramas e que a mãe vinha fazendo todo o acompanhamento médico. Segundo ele, a criança estava em condições normais e morreu devido a falta de um atendimento adequado. Ele ainda disse que os médicos aplicaram um medicamento em Taiane para a indução do parto normal.

“Eu trouxe minha mulher para ganhar neném, e a criança veio a óbito por falta de empenho dos profissionais e a forma de desenvolver os trabalhos. A gente aguardou muito, pois eles diziam que o hospital estava cheio, não tinha leitos. Além disso, eu observei, não sou especialista, mas vi que maltrataram muito ela no momento da triagem. Ela ficou em torno de 12 horas aguardando. Eles queriam induzir para fazer parto normal e viram que ela não tinha passagem para isso, mesmo assim insistiram. Deram algum medicamento que afetou até a criança e o coração do bebê acelerou. Aí levaram ela para a sala de cirurgia e 10 minutos depois, tomei conhecimento que a criança estava morta”, relatou.

Matheus ainda informou que este seria o segundo filho do casal. O primeiro também nasceu no Hospital da Mulher e, segundo ele, na ocasião foi constatado que Taiane não tinha condições de ter filho normal. Desta vez Matheus disse que avisou que a mulher teria que ter um parto cesário, mas os médicos insistiram no parto normal.

“A gente está sofrendo com tudo isso que aconteceu. Vamos tomar providências. A família está chocada com isso, estamos sofrendo muito e queremos justiça”, disse.

Adriana Silva Caldas, que iria batizar a criança, também desabafou com relação ao atendimento no Hospital da Mulher e cobrou providências.

“A pessoa espera nove meses, uma gestação, tudo planejado, a criança em ótimo estado e os médios ficam induzindo o parto dessas mulheres, pois não tem vaga e estão chegando outras mulheres. Era pra ser cesariana e eles induziram o parto normal. O governo tem que fazer outro hospital para essa cidade, pois está muito sobrecarregado”, afirmou.

A diretora do Hospital da Mulher, Charline Portugal, informou que a unidade está apurando com maiores detalhes tudo que ocorreu durante o parto de Taiane Lima Barros. Segundo ela, a paciente se enquadrava dentro das condições para o parto normal e os procedimentos seguiram as orientação do Ministério da Saúde.

“Até o momento chama a atenção a evolução para o feto morto que foi muito rápido. Com a demanda que temos aqui, ao ser avaliada as 19h, quando fez a ficha, os batimentos do bebê estavam normais. As 21h ela deu entrada no centro obstétrico e os batimentos do feto estavam normais. Como ela estava com cinco centímetros e tem toda uma história que pode fazer parte do protocolo do parto normal, foi assistida devidamente e entrou conforme as orientações do Ministério da Saúde. O que fazemos aqui é o que se faz em toda maternidade pública que cumpre as normas”, afirmou.

Segundo a diretora, já na sala de parto a paciente teve o quadro avaliado a cada período para ver se ela estava evoluindo para o parto normal ou não e quando verificou-se que ela não estava evoluindo, por volta de 1h da madrugada, em questão de 10, 20 minutos perceberam que houve uma taquicardia significativa e a colocaram na sala para a realização da cesariana.

“O que a equipe fez foi cumprir o protocolo. A medicação da qual a família fala, que é a oxitocina, é utilizada em todo protocolo para parto normal. Isso não prejudica de forma nenhuma o parto”, garantiu, acrescentando que a instituição vai encaminhar esse prontuário para as auditorias, comissão de ética de medicina e enfermagem para fazer uma avaliação interna e se for procedente a queixa, abrir uma sindicância.

Charline Portugal reconheceu que o Hospital da Mulher tem uma demanda muito grande e consequentemente casos como esse acontecem. Segundo ela, nada justifica uma criança morrer e os profissionais estão trabalhando sempre no sentido de diminuir ainda mais esses indicadores, que no momento, conforme informou, são baixos de acordo com a demanda do hospital.

Demanda de municípios vizinhos

A diretora do Hospital da Mulher, Charline Portugal, afirmou que a equipe do hospital vem discutindo a grande demanda de pacientes há algum tempo. Ela destacou que é preciso rever a questão do atendimento a mulheres outros municípios, já que aumenta a demanda do Hospital da Mulher.

“Hoje por volta das 12h só de outros municípios já foram internadas oito mulheres. É difícil a gente segurar, não importa de onde ela venha, se for um caso de urgência, será atendida. Ela é mulher, precisa parir e a gente precisa atender. Mas é preciso que se tome uma providência em relação a esses municípios. Eu tenho cidades que de 1º de janeiro de 2019 até 1º de maio, nós atendemos 342 mulheres e dessas 114 foram internadas e realizados procedimentos”, informou.

Charline explica que mesmo alguns municípios sendo pactuados com Feira de Santana, ainda assim o Hospital da Mulher enfrenta dificuldades, devido aos recursos que são aplicados em cada procedimento e que nem sempre são cobertos pela pactuação.

“Como está esse município que é menor que Feira de Santana e que todas as mulheres são atendidas aqui? Como fica Feira de Santana ao receber essas mulheres? Ainda que tenha pactuação, ainda que a gente esteja como o Sistema Único de Saúde preconiza, de atender aqueles municípios que não tem capacidade, através de um apoio, como fica Feira em anteder essas mulheres? Como fica a questão dos recursos? não é só o valor da pactuação, pois o município não passa o valor por gasto e sim o valor do parto, que é muito inferior. Não chega ser um terço daquilo que a gente gasta e essa pactuação muitas vezes é para X procedimento e o município encaminha quatro, cinco vezes mais”, disse.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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