Acorda Cidade
Fevereiro: férias, sol, mar, água de coco… ontem era dia perfeito para relaxar no Porto da Barra. Mas acabou sendo bem diferente quando, às 16h, uma operação da polícia provocou um tsunami de banhistas apavorados em um dos principais cartões-postais da cidade.
Após uma denúncia de que alguns rapazes estariam levando drogas para a praia em um barco, policiais civis da 14ª Delegacia (Barra) e militares da 11ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), também da Barra, foram deslocados para a praia. Ali, segundo os banhistas, atiraram em direção à água para intimidar os bandidos – e acertaram em cheio no sossego da praia.
“Eles chegaram atirando quando havia um monte de banhistas no mar. A gente não entendeu nada. Todos corremos”, contou a universitária paulista Rafaela Samartino, de 20 anos, que mora em Florianópolis e está de férias em Salvador.
Um barraqueiro que pediu anonimato questionou a ação. “Como podem dar tiro para a água assim? É despreparo da polícia. Poderia ter acertado outro barco ou qualquer pessoa”.
Estudante de Serviço Social e amigo de Rafaela, o paulista Jonathan Taumont disse que ficou triste com a ação da polícia. “A realidade brasileira não tira férias”, analisou.
Mas a realidade, segundo a polícia, é que não houve tiros. De acordo com a investigação, cinco homens saíram da Vila Brandão com um barco emprestado e com drogas e foram até o Porto, para vendê-las na areia. Já na praia, um deles, armado, desembarcou para comercializar a droga entre os banhistas.
Flagrado pelos policiais, ele teria tentado escapar pela água, mas foi capturado. Nesse momento, dois dos homens que ainda estavam no barco fugiram a nado e os outros dois foram rendidos na beira da praia e colocados de bruços na areia.
Momentos depois, a praia estava lotada de testemunhas indignadas, relatando supostas agressões dos policiais. “Nunca vi uma abordagem assim. A situação foi horrível. Ficaram chutando os meninos no chão e pisaram na cabeça deles”, diz um banhista que não quis se identificar. “Fico indignada com essa prática de tortura policial. Eu vi os policiais colocando os caras para comerem areia”, contou a advogada carioca Juliana Barros, 30 anos.
A polícia, porém, também nega que tenha havido abusos na operação. “Não houve qualquer truculência, nem troca de tiros na areia do Porto”, afirmou a delegada plantonista da 14ª Delegacia, Idalina Lima Moreira.
De acordo com a Polícia Militar, a operação foi positiva. “Desvendamos uma forma nova de tráfico, dessa droga que chega pelos barcos”, analisou o capitão Marcelo Pita, da assessoria da PM, que também não confirmou se houve troca de tiros no Porto da Barra.
Na embarcação foram encontradas 17 pedras de crack e 10 trouxinhas de maconha, além de um revólver calibre 38, apreendido e encaminhado para a perícia. Bruno Vieira Linhares, 18 anos, foi preso. Os outros dois, menores, ficaram detidos na delegacia e serão encaminhados à Delegacia do Adolescente Infrator (DAI). ( As informações do Correio)