Rachel Pinto
Nesta sexta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, como é de praxe, são muitos os debates e as pautas sobre o papel da mulher na sociedade, a luta e a conquista por direitos, o enfrentamento à violência e ocupação no mercado de trabalho. Porém, muito pouco se fala como anda a percepção emocional e o que passa pela cabeça das mulheres em um universo cheio de tarefas, imposição de padrões, cobranças e excesso de informações. Nesse sentido, o Acorda Cidade ouviu a opinião de duas mulheres que vivem toda a efervescência do contexto contemporâneo e entre as dores e delícias da vida se autoafirmam plenamente enquanto mulheres. Responsáveis por suas vidas e suas histórias. São elas: a psicóloga Marina Queiroz e a professora universitária Alana Freitas.
Marina afirma que embora a mulher tenha tido muitas conquistas, há uma necessidade muito grande de retomar algumas virtudes da essência feminina que por algum momento tiveram que ser deixadas de lado, para que outras características pudessem ser ressaltas. A feminilidade é uma dessas virtudes que teve perdas e são cada vez mais comuns os casos de mulheres que chegam aos consultórios, com quadros de ansiedade, síndrome do pânico e vitimas de muitas pressões sociais. De acordo com ela, todo esse desgaste acaba adoecendo as mulheres e a saída, a cura para esse estado é a própria reconexão com o ser feminino e também a ancestralidade.
Foto: Gabriel Gonçalves/Acorda Cidade
“Nós mulheres nos cobramos o tempo todo. Muitas vezes são cobranças que colocamos contra nós mesmas. Elas estão com várias situações que não querem chorar. Engolem o choro e muitas vezes quando estão em uma seção de terapia dizem que não choram para não parecer frágeis ou fracas. Hoje em dia estão também indo mais uma vez pelo caminho que é o masculino, que o masculino é o racional e que o masculino é o que é infelizmente ainda é considerado nessa sociedade como o mais elevado. Então a gente quer esse lugar para nós também e fica todo mundo sufocado, adoecido com isso. Fica todo mundo uma bomba relógio porque se você vai represando, reprimindo as suas emoções, independente de ser homem ou mulher, se não tem condições de se expressar livremente e dizer o que está pensando e sentindo, seja dor, seja tristeza, uma alegria, a consequência é adoecer”, comentou.
A professora Alana Freitas reconhece toda a força do feminismo e analisa que ainda há uma luta muito grande para a ocupação dos espaços. A mulher não mudou de papel, mas acumulou todos eles. Para ela, com cada vez mais exigências, as mulheres não podem perder a leveza e naturalidade do ser. Assim como a leveza e o feminino enquanto instrumento de identidade.
Foto: Gabriel Gonçalves/Acorda Cidade
“Tenho todo respeito pelo movimento feminista e se nós estamos aqui hoje é por causa dele. Por ele conseguimos muitas coisas e vencemos muitas lutas. Existem questões que são do feminino, assim como existem traços que são característicos do masculino. Existe uma exigência grande e tem que ter uma dose de leveza. Eu acho que essa troca é danosa para mulher, principalmente quando abrimos mão de questões que são da nossa natureza”, declarou a professora
A professora relata também que a mulher em suas vivências têm equilíbrios que são importantes. Um deles é a relação entre a vida pessoal e profissional. Ambos os aspectos, segundo ela, se complementam e estão em diálogo o tempo inteiro, na perspectiva da afirmação da própria identidade feminina.
Reconexão com o feminino
A psicóloga Marina explica que o processo de cura do adoecimento causado pelos efeitos do mundo contemporâneo pode ser potencializada com a reconexão a essência feminina e também da relação com a ancestralidade. A mitologia grega traz algumas representações e Deusas que tem características distintas, e tais características completam o ser feminino em sua plenitude. Essas Deusas são: Athena, que representa a mulher guerreira; Arthemis, que representa o feminismo, a deusa selvagem da autonomia; Hera, que representa a liderança e a parceria com o masculino; Demétria, que simboliza a deusa mãe; Afrodite, que é a representação do amor, da sensualidade; e Perséfone, que é a deusa da sensibilidade e da intuição.
De acordo com Marina, dentro de cada mulher existem várias facetas do feminino e as mulheres de forma geral estão vivenciando muito mais a representação das deusas Athena e Athemis e esquecendo que são um misto dessas e de todas as outras deusas.
“Esse todo forma o feminino. É a mulher guerreira, a mulher que governa junto com o homem, a mulher que nutre, que é mãe, que tem sensualidade, que vive a sua sexualidade livremente, é livre para se relacionar , profundamente com as pessoas, se conecta com a natureza e a sua sensibilidade. Se houver o resgate de todas essas nuances vai acontecer o regaste do feminino e assim viver em harmonia com o masculino”, concluiu.