Juliana Vital
As mulheres com muita luta e engajamento têm ganhado seu espaço merecido em diversos ambientes da sociedade. No Brasil e no mundo, a cada dia surgem negócios criados e geridos por mulheres. Segundo dados do Sebrae, apenas nesta década, o número de mulheres empreendedoras cresceu em torno de 34%.
Em números, são aproximadamente 7,9 milhões de negócios liderados por mulheres no país, que têm uma presença mais forte nos segmentos de beleza, estética, moda e saúde, embora a presença das mulheres tenha avançado significativamente em áreas que eram de domínio exclusivamente masculino como os setores financeiros, de seguros, de construção e manufatura. O último levantamento feito pelo Sebrae na Bahia aponta mais de 93 mil empreendedoras ou candidatas a empresárias cadastradas na base de atendimento do Sebrae no estado até maio de 2018.
Para a gestora de projetos da indústria, a analista do Sebrae de Feira de Santana, Lucia Fátima Souza, ainda há muitos desafios a serem superados pelas mulheres no mundo corporativo. “Mesmo que a atuação da mulher no mercado tenha alcançado excelente posicionamento e visibilidade, é preciso pautar que mesmo com todas essas mudanças ocorridas no papel da mulher, ainda há desigualdade de gênero e há ainda um grande caminho a ser percorrido para maior inserção e consolidação da mulher na sociedade”, afirma.
Na maioria das vezes, o sucesso destas mulheres só acontece depois de muito esforço, alguns fracassos, mas principalmente muita determinação. Além disso, segundo Lúcia, algumas características são atribuídas às mulheres empreendedoras que se destacam em sua área de atuação. Entre as principais estão: “persistência, resiliência, habilidade multitarefa, inteligência emocional e criatividade”, explica.
E em se tratando de persistência e resiliência, a empresária feirense Kel Gonçalves Soares, dona de uma fábrica de confecções em Feira de Santana, nos dá um bom exemplo na prática dos significados destas duas palavras. Os relatos a seguir mostram lições de superação pessoal e profissional, inspiradas pela ousadia da empresária em continuar uma história de sucesso, em meio a muitos desafios, e que mostram como estas características do empreendedorismo feminino são importante para o mercado.
kel já tinha uma pequena loja de confecções chamada Atrevida, desde 1999 quando decidiu fundar a Ousa Brasil, produzindo peças diferenciadas para o mercado. Chegou a empregar 60 funcionários entre a fábrica e as duas lojas físicas. Desde então, a empresária passou por diversas dificuldades quando uma separação, em 2011, desestruturou sua vida pessoal refletindo nos negócios. Atualmente a empresa tem um showroom na sede da fábrica, com alguns pontos de venda e conta com revendedores, lojistas e sacoleiras, representando 10% do que já foi. Todos os caminhos levariam ao fim de uma história de sucesso, mas Kel nunca pensou em desistir.
“Após a separação conjugal, eu tive que administrar a vida emocional, filhas em plena época de faculdade e ainda uma empresa com mais de 60 funcionários que já enfrentava algumas dificuldades. Praticamente precisei recomeçar do zero. Mas tinha uma convicção, sabia o que eu queria e tinha como dar a volta por cima. A Ousa Brasil surgiu de um deserto onde eu precisava passar para transformar a minha empresa em algo maior do que foi antes. Eu precisava de um nome que demonstrasse o que eu queria propor, algo que fosse maior do que ser apenas atrevida, por isso pensei na palavra ousadia, que representava alí um momento de superação e tem um simbolismo muito forte pra mim”, contou.
Ela disse que pegou no pesado e que não teve dificuldades por ser mulher.
“Nunca enfrentei dificuldade durante o meu percurso apenas por ser mulher, mas senti o peso de carregar tudo sozinha. Acredito que a mulher tem o dom de superar e enfrentar as situações. Eu tive que ir para o chão de fábrica, pegar no pesado. Faço todos os papéis dentro da empresa, desde organizar a limpeza, à compras, vendas, etc. Eu mesma fazia o treinamento das pessoas, passava muito tempo com os funcionários para chegar até a qualidade que eu queria para os meus produtos. Como gosto muito do que faço isso não chega a ser um problema pra mim. E hoje conto com a ajuda das minhas três filhas que me fortalecem, e estamos conseguindo voltar a ter um mix maior e mais diferenciado de produtos”, afirmou.
Sobre os desafios do mercado para manter um negócio, Kel aposta no diferencial de vender desejo e felicidade.
“Sempre tive muita dificuldade em encontrar mão de obra para o tipo de produto que eu quero colocar no mercado. Além disso, a nossa cidade não dispõe de recursos em relação à matéria prima diferenciada, ou serviços como lavagem e tingimento. Então tive que buscar tudo isso fora, muitas vezes em São Paulo. Também enfrentamos problemas com representantes que apenas queriam vender o, mas não sabiam passar o conceito da marca. É uma marca que eu venho cuidando desde o conceito, até o acabamento final. A gente não vende roupa, a gente vende felicidade, inspiração e desejo”.
Kel viajou para vários lugares para conhecer novas indústrias por meio de ações do Sebrae e ganhou uma nova visão de prosseguir com os negócios, desenvolvendo seu potencial para o setor.
Primeiro em Deus, na minha grande fé nele para conseguir forças e acreditar que poderia superar tudo. Com isso eu fui em busca de suporte no Sindicato das Indústrias do Vestuário de Feira de Santana e Região – Sindvest, na pessoa do Sr. Edison Nogueira, a quem sou muito grata, que nos encaminhou ao Sebrae. Tive oportunidade de ir para Paris, Itália e alguns estados do nosso país para conhecer novas indústrias, novos processos, tudo isso através das missões empresariais realizadas pelo Sebrae. Sou muito grata ao Sebrae por tudo que já vivi com esta parceria, a qual sempre recorro. Acredito que metade da nossa superação se deve ao apoio que o Sebrae nos deu, mudando totalmente a nossa visão de negócio com as oportunidades que tivemos para desenvolver o nosso potencial.