Laiane Cruz
O estudante de Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana Lucas Santos, que mora na cidade de Conceição da Feira, relatou em entrevista ao Acorda Cidade ter sido vítima de discriminação racial e maus-tratos em uma delegacia de Salvador.
De acordo com o estudante, tudo aconteceu no último mês de dezembro, quando ele retornava de São Paulo, onde foi fazer uma entrevista de um concurso no qual foi aprovado.
“Eu fui aprovado no Tribunal do Trabalho de São Paulo. Saí do aeroporto de Congonhas e pousei no aeroporto de Salvador às 14h05. Eu havia colocado a minha bagagem no bagageiro acima da poltrona 20 e num momento de distração coloquei a mochila nas costas e saí. Ao sair da aeronave, fui em direção à estação do metrô que vai para a rodoviária, quando fui abordado por uma pessoa que seria a dona da mochila, que poderia ter conversado comigo e dito que a mochila era dela, mas ficou me xingando, me agredindo, e disse outras palavras”, informou Lucas Santos.
O estudante conta que no momento das agressões solicitou a ajuda dos seguranças do aeroporto, mas não obteve retorno. Ele começou a gravar um vídeo e alguns policiais chegaram na hora e o encaminharam para o posto policial do local.
“Chegando lá, eu e a pessoa que me agrediu conversamos, ficou claro que eu havia pegado a mochila errada e a minha ficou dentro do avião. O pessoal da companhia aérea trouxe a minha mochila e meus pertences pessoais. Foi um equívoco. A gente resolveu a situação”, disse.
Prisão
Mesmo desfazendo o mal entendido com o proprietário da mochila, Lucas Santos afirmou que ficou preso no posto policial e só saiu de lá mediante o pagamento de fiança, que foi paga por um amigo.
“Eu fiquei dentro da delegacia desde as 14h, mas efetivamente fui recolhido a uma cela de 21h até 1h20. Meu colega pagou a fiança estipulada em dois salários mínimos, mas não foi recebida nenhuma comprovação do pagamento da fiança”, relatou.
Discriminação racial
O estudante de Direito acredita que só foi preso por causa da cor da pele. Ele já pediu orientação a amigos e pessoas da área de Direito para ajuda-lo na situação, pois teme ter sua carreira jurídica prejudicada após se formar.
“Eu já comuniquei ao reitor da Uefs, que se dispôs a me ajudar, os professores do curso de Direito, a Câmara de Conceição da Feira já aprovou uma moção de repúdio, e os advogados da Uefs já se dispuseram a me ajudar e estou disposto a desconstruir esse inquérito, estou em interlocução com o MP e a Defensoria Pública, para que isso não venha prejudicar meu futuro, agora que estou me formando. Vou tentar derrubar esse inquérito, e as responsabilidades acerca do abuso de poder do delegado e dos policiais, mais à frente vou tomar as medidas necessárias tanto na esfera administrativa quanto judicial”, salientou.
Para Lucas Santos, no Brasil ainda existe uma modalidade de racismo enraizada na cultura, que é quando uma pessoa negra é confundida com um bandido. “Se fosse uma pessoa branca, em momento nenhum haveria aquilo, tudo teria se resolvido com base na conversa”, destacou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.